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A ORIGINALIDADE DE MAQUIAVEL SEGUNDO ISAIAH BERLIN:
  • Publicado em 28/06/2017
  • Por Diogo Rafael Moreira
Em que consiste a contribuição de Maquiavel à filosofia política? Essa questão é uma fonte de controvérsias entre os estudiosos. O que não seria de admirar se não houvesse mais este agravante: essas divergências não se devem a fatores acidentais como a língua ou o modo de expressão adotado pelo autor. Com efeito, o italiano de Maquiavel é bem conhecido do intérprete moderno, assim como é o seu estilo, que não apresenta dificuldades nem mesmo ao entendimento do leitor comum. Em realidade, o problema em discussão não repousa sobre fatores acidentais - os fatores que, por exemplo, dificultam a interpretação de Platão, Aristóteles, Leibniz etc. -, mas sobre o que é a essência de seu pensamento mesmo, sobre qual foi a atitude fundamental que o motivou a escrever O Príncipe e Os Discursos sobre a Primeira Década de Tito Lívio. Embora meu objetivo não seja determiná-lo, pois creio que a resposta presume um conhecimento que de ordinário não foi concedido aos seres humanos, penso que seja útil repassar algumas delas com o propósito de ilustrar as diversas reações que as suas obras causaram entre os estudiosos de filosofia política. Cada uma delas chama a atenção para elementos que realmente estão presentes na vida ou no pensamento de Maquiavel, a dificuldade sempre está em qual deles é o que prevalece, vincula e justifica os demais. CONSELHEIRO DE NINGUÉM, DO POVO OU DO PRÍNCIPE? Segundo Alberico Gentilli e Garrett Mattingly, os conselhos de Maquiavel devem ser entendidos como uma sátira, pois a interpretação literal parece inviável. Maquiavel não poderia dar aqueles conselhos a alguém. No mesmo sentido, mas com uma importante ressalva, Spinoza e Rousseau disseram que tal sátira seria em realidade um aviso, que não se destinava de fato ao príncipe, mas ao povo: Maquiavel pretendia alertá-lo sobre as táticas tirânicas dos príncipes. Assim, o autor do Príncipe deveria ser encaixado na tradição dos autores republicanos. Segundo A. H. Gilbert, porém, a interpretação literal parece bastante plausível. Com efeito, argumenta ele que a intenção, o conteúdo e o estilo de Maquiavel são essencialmente os mesmos de outras obras de sua época, os "espelhos dos príncipes"; obras que ensinavam as regras de governo aos príncipes. O Príncipe de Maquiavel, portanto, não poderia ser uma sátira, mas sim um belo exemplar desse gênero literário. AUTOR PAGÃO, CRISTÃO OU ATEU? Segundo Giuseppe Prazzolini e Hiram Haydn, os ensinamentos de Maquiavel são um ataque a Igreja e aos princípios cristãos e uma apologia ao paganismo. Giuseppe Toffanin, entretanto, considera-o cristão, embora admita que seja um cristão bem peculiar. mais recentemente Antonio Vettori colocou-se do lado daqueles que defendem o Maquiavel cristão. Essa, porém, não foi a opinião mais comum entre católicos e protestantes, tanto os intelectuais elisabetianos quanto os expoentes da corte espanhola dos séculos XVI e XVII tiveram-no como um ateu de ideias perversas. Essa também foi o parecer de seus primeiros críticos, a saber, Cardeal Pole, Jerônimo Osório, Jean Bodin, Gentillet, François Hotman e muitos outros. A lista dos antimaquiavéis é longa, mais recentemente Jacques Maritain, Leo Strauss e Vicki Sullivan contribuíram para essa tese. HUMANISTA ANGUSTIADO, ESPERANÇOSO OU NÃO HUMANISTA? Segundo Benedetto Croce, Maquiavel seria um humanista angustiado, sendo fiel à descrição do que vê, não deixa de lastimar os crimes que a perversidade dos homens tornou inevitável. Assim ele se vê forçado a reconhecer a independência das leis da política sobre as leis da moral. No entanto, Walder, Kaegi, e Von Muralt pensam que Maquiavel seria um humanista que acreditava na ordem, na estabilidade, no prazer da vida, de modo que seria possível ajustar os elementos agressivos do homem ai tupo de harmonia civilizada que ele encontrava entre as bem-armadas repúblicas suíças de seu tempo. De Sanctis, contudo, nega-lhe um lugar na tradição humanista em razão de sua hostilidade pelas visões imaginativas. PATRIOTA, EXILADO OU PERDIDO? Segundo Justus Lipsius, Alfieri e Algarotti, Maquiavel era um patriota apaixonado, cuja esperança era inspirar um príncipe a libertar a Itália dos bárbaros. Por outro lado, Cassirer, Renaudet, Olschki e Keith Hancoock, Maquiavel é um cientista de sangue-frio, que está preocupado em observar com minúcia aquilo que vê e, dos fatos, compreender as leis que regem a ação política. Singleton endossa essa tese ao postular que a originalidade de Maquiavel consiste em sua visão de política como algo feito pelo homem, isto é, como um artefato, e não mais como algo no qual ou pelo qual o homem age. Logo, os princípios e leis da política sem juízos de valor. Assim ele divorcia a ética da política. Contudo, na opinião de Frederico Chabod, Maquiavel não é de forma alguma um realista, ele antes beira ao irrealismo. SAUDOSISTA, CRONISTA OU PROFETA? Segundo Herbert Butterfield e Raffaello Ramat, Maquiavel sofre de falta de senso histórico, estando demasiadamente obcecado pela letra dos antigos, o seu olhar se volta para um passado imaginário.  Segundo Herder, porém, Maquiavel estava bem plantada em seu tempo e seu grande diferencial é justamente que ele fornece observações precisas sobre os acontecimentos de sua época. Com efeito, Maquiavel teve coragem de descrever o que não era admitido ou reconhecido pelos cronistas da Renascença. Hegel, de certa forma, também admite que Maquiavel deve ser entendido particularmente como um homem de seu tempo, mas ele acrescenta que ele também que ele percebia coisas que o colocavam à frente de seu tempo. De fato, ele foi o precursor do Estado moderno ao perceber que os principados independentes de Itália deveriam dar lugar a um poder único e centralizado. Engels aponta-o como um dos gigantes do iluminismo. Gramsci não se contenta em chamá-lo de precursor do futuro, mas também qualifica-o como construtor do mesmo. O Príncipe de Maquiavel seria um mito ou símbolo antropomórfico da hegemonia coletiva, o qual inspira as multidões à conquista do poder. REALISTA, IDEALISTA OU OPORTUNISTA? Para Bacon e Lassalle, Maquiavel é sobretudo um realista que trata as coisas como elas realmente são em vez de deixar persuadir por ideais utópicos. George Sabine corrobora com essa tese ao retratar Maquiavel como um empirista antimetafísica, uma espécie de Hume ou Popper antecipado. De opinião bem diferente é König, segundo o qual Maquiavel não é de modo algum alguém que se possa chamar de calculista, ele é antes de tudo um esteta que procura escaparar da decadência de seu tempo pela composição de uma paisagem política ideal. Renzo Sereno confirma esse pensamento de que sua obra é uma fantasia, mas acrescente que é a fantasia de alguém frustrado e quase desesperado em razão da malícia da Fortuna. Os florentinos da república de curta duração que se instalou em Florença pouco antes da morte de Maquiavel, consideram-n um bajulador traiçoeiro, disposto a servir qualquer senhor que esteja disposto a retribuir-lhe pelos seus serviços. p. 301-305 O arranjamento dos argumentos nessa ordem foi intencional. Assim, o leitor pode compreender claramente que, embora nem todas as ideias sejam contraditórias, todas elas consideram alguma parte do pensamento de Maquiavel como a causa de todas as demais. Berlin chama a atenção para o que considera algumas observações óbvias sobre o pensamento de Maquiavel. Primeiro, Maquiavel se distancia de autores cristãos e pagãos, pois ele nem mesmo toca na questão da lei natural. Desse modo, ele nega os conceitos e categorias fundamentais da filosofia política clássica. Maquiavel é antes de tudo um empirista que se concentra nos exemplos históricos sem manifestar qualquer desejo de justificá-los metafisicamente. Em segundo lugar, a religião é julgada a partir de um ponto de vista utilitário. Não há a necessidade de que a religião se baseie em verdades, basta-lhe ser socialmente efetiva. Segundo Berlin, essa é a razão pela qual Maquiavel considera a religião pagã melhor que a religião cristã.Ele admita os fundadores de religiões (nomeadamente Moisés, Numa e Licurgo). Mas não há nenhuma pressuposição séria da existência de Deus ou da lei divina. Por fim, não há nenhuma noção de direitos seculares ou sagrados, a única liberdade considerada é a liberdade política do soberano ou da pátria. Essa questão, que remete mais a problemas concretos e práticos que especulativos, é o que lhe dá um sabor tão moderno. , p. 306-308 O governante é necessário como meio de coesão social. Não há força oculta que harmonize as diferentes atividades humanas, p. 309. O homem dever ser estudado por seu comportamento e por suas declarações, não há nada que se possa saber a priori sobre ele. O homem deve ser visto como ele é e não como queremos que ele seja. O irrealismo é o que levou muitos homens de ação para a ruína. Jamais se devem pôr o que o homem deve ser acima do que ele realmente é. p. 310s. A proposta de Maquiavel é igualmente clara e concreta: ele deseja ver a sociedade livra da tirania, porque uma sociedade chega ao seu esplendor quando é livre. Haviam homens que sabiam engrandecer as cidades: o poder, a magnificência, o orgulho, a austeridade, a busca da glória são as virtudes pagãs que Maquiavel aponta como essenciais para tal efeito.  p. 312s. A tese de Berlin é que Maquiavel não separa a política da moral, mas diferencia dois ideais incompatíveis de vida e, portanto, duas moralidades. Por um lado, há a moralidade pagã que vê como fins humanos últimos a realização pública, a grandeza da pátria, a coragem, a disciplina, o vigor, a força, a justiça e, sobretudo, a afirmação das reivindicações de cada um e o poder e o conhecimento necessários para que elas sejam satisfeitas. Por outro lado, existe a moralidade cristã que se baseia na caridade, sacrifício, amor a Deus, perdão aos inimigos, o desprezo pelos bens terrenos, a fé na vida eterna, a salvação da alma. Segundo Maquiavel, nenhuma sociedade política satisfatória pode ser constituída baseada nesses valores. p. 314s. "Maquiavel está convencido de que tudo aquilo que se toma comumente como as virtudes cristãs centrais, qualquer que eja seu valor intrínseco, são obstáculos insuperáveis à construção do tipo de sociedade que ele deseja ver surgir; uma sociedade que, além disso, ele presume ser o desejo natural de todos os homens normais - o tipo de comunidade que, em sua opinião, satisfaz os desejos e interesses permanentes dos homens." p. 314 Quais são esses desejos permanentes dos homens? Maquiavel responde: os homens buscam riquezas e honras. Advogar políticas ideais, adequadas somente para anjos, é visionário, irresponsável e leva à ruína. A política deve basear-se em coisas que são praticáveis e que podem realmente surtir efeito. Isso não significa que as virtudes cristãs são más em si mesmas, mas que é necessário escolher entre uma vida relegada a impotência política e uma vida política satisfatória, isto é, entre ser um exilado e entre ser bem inserido na sociedade, entre ser escravo de ideais inatingíveis e entre ser livre. "Escolher uma vida cristã é condenar-se à impotência política: ser usado e esmagado pelos poderosos, ambiciosos, espertos, inescrupulosos; se alguém deseja construir uma comunidade gloriosa como as de Atenas e Roma nos seus melhores tempos, então deve abandonar a educação cristã e substituí-la por uma mais adequada para esse fim." p. 316 Portanto, Maquiavel é realmente o inimigo das instituições verdadeiramente cristãs. p 317 Berlin insiste que o apelo de Maquiavel é para a realização de algo que já foi feito em Atenas e Roma.  p. 317 A força e a fraude não são em si admiráveis, mas podem ser necessárias para a edificação de uma sociedade sadia, p. 320. Maquiavel não está rejeitando uma moralidade - a cristã - por um conjunto da atividades separadas da ética, mas por uma outra moralidade, uma ética política tal como foi entendida, ou melhor, vivida pelos antigos. Ele rejeita a ética cristã, mas a favor de um outro universo moral - uma sociedade atrelada a fins tão últimos quanto a fé cristã, uma sociedade onde há homem dispostos a morrer e a matar por esses mesmos fins, esses são os fins da moralidade romana, alega Berlin, confirmados pela famosa frase de Maquiavel a Vettori: amo mais a pátria que a minha própria alma p. 323s A grande tese de Berlin é que realmente tal separação entre ética e política não existe em Maquiavel. "Todo aquele cujo pensamento gira em torno de conceitos centrais como bem e o mal, o corrupto e o puro, tem uma escala étina na mente em função da qual elogia e acusa moralmente. Os valores de Maquiavel não são cristãos, mas são valores morais." p. 324s Maquiavel, portanto, não estava além do bem e do mal. Segundo Berlin, ele possui uma moral social, como a de Cícero e Aristóteles. Assim Berlin parece indicar que a moral cristã é individual e não social. Maquiavel está muito longe de ser um realista desinteressado, ele é apaixonado pelo ideal de ver a Itália regenerada e possui valores morais invariáveis, acontece que tais valores divergem daqueles do cristianismo. Em suma, Berlin crê que o realismo de Maquiavel consiste no fato de ele colocar o seu ideal em algo que seja realmente alcançável, a saber, o bem estar da pátria, coisa de judeu mesmo. p. 326 O sucesso consiste em fazer coisas que podem ser consideradas imorais para o cristianismo, mas que realmente conduzem a glória e a estabilidade política, p. 327, mas então em que consiste o bem comum? A política serve para preservar algo em detrimento da justiça? Esses métodos cruéis são necessários como meios para bons resultados, bons não para a perspectiva cristã, mas para a moralidade secular, humanista, secularista. p. 328 "E há pelo menos dois mundos: cada um deles tem muito - na verdade, tudo - a ser dito a seu favor; mas eles são dois e não um. Deve-se aprender a escolher entre eles e, tando escolhido, não se deve olhar para trás." (p. 328s) Agora, o que Berlin faz em todo o seu ensaio é repetir a caricatura que Maquiavel faz do cristianismo. É necessário comparar a visão deles com algo tão bobo que seja facilmente derrotado, mas o que eles chamam de cristianismo é algo que não se aprende em catecismos, não faz parte da vida cristã, senão daqueles que são superficiais. Por exemplo, algo que eles ignoram absolutamente é a correção fraterna, o papel moderador da Igreja na sociedade civil e as atribuições e direitos das autoridades. O que eles dizem dos estados cristãos não possui respaldo histórico. Tese: a natureza dos homens impõe uma moralidade pública que não se identifica e pode colidir com as virtudes dos homens que professam acreditar nos preceitos cristãos e tentam agir segundo essas normas. p. 328 Não é o bem individual, mas o bem comum que torna as cidades grandiosas.  Discursos II, 2 Maquiavel e Berlin o segue dizendo que os Estados não cristãos são mais duráveis, porém, os fatos dizem o contrário, não é mesmo? p. 329s As suas máximas mais escandalosas são meios para este fim: a visão clássica, humanista e patriótica que o domina. p. 330 Se a moral está relacionada com a conduta humana e os homens são por natureza sociais, a moralidade cristã não pode ser um guia para a existência normal em sociedade. Faltava alguém dizer isso. Foi o que Maquiavel fez. p. 336. Berlin afirma que de Platão em diante o princípio central do ociedente é um racionalismo que toma a verdade como base das ações, segundo ele Maquiavel rejeita todo esse grande edifício ao tomar a liberdade política e o que chamou de virtudes pagãs como o valor fundamental. p. 336-337. Segundo ele, antes de Maquiavel ninguém havia sugerido que "poderiam haver fins - fins em si mesmos que justificariam todo o resto - que fossem igualmente últimos, mas incompatíveis uns com os outros, que talvez não houvesse um único padrão universal abrangente que tornasse um homem capaz de escolher racionalmente entre eles." p. 339. Essa parece ser a tese fundamental do ensaio e talvez da obra de Isaiah Berlin, pois na obra dois conceitos de liberdade ele afirma a mesma coisa. A tese de Berlin é provadamente falsa, a ideia de Agostinho das duas cidades antecipou em muito a de Maquiavel. Segundo ele, Maquiavel descobriu, quase sem querer, que nem todos os valores últimos são necessariamente compatíveis uns aos outros - que poderia haver um obstáculo conceitual e não meramente material à noção de uma única solução final que, se fosse realizada, estabeleceria uma sociedade perfeita. A perturbação causada por essa tese destruidora da grande rocha do pensamento ocidental é o motivo de tantas interpretações díspares sobre o significado de sua obra. p. 340 De fato, existem dois sistemas de valores independentes a autojustificáveis. A questão que eu gostaria de provar é que essa tese de Berlin é falsa, porque o mundo de Berlin é injustificável. "A compatibilidade definitiva de todos os valores genuínos" p. 141 Maquiavel fez uma escolha. Que razão temos nós para supor que as virtudes sempre são compatíveis? A realização principal de Maquiavel é "sua realização de um dilema indissolúvel, a implantação de um ponto permanente de interrogação no caminho da posteridade...", "parte da situação humana normal" p. 344 "esses homens não deveriam ter a permissão ode imiscuir-se na política, na educação ou em qualquer outro fator cardinal da vida humana; a própria perspectiva deles os torna inaptos para essas tarefas." p. 344 "atacar e mudar, de forma duradoura, o pressuposto central de toda uma civilização é uma realização de primeira ordem." p. 346 "Essa certeza é uma das grandes justificações do fanatismo, da coerção, da perseguição. Mas se nem todos os valores são compatíveis uns com os outros e se não há nenhuma outra razão para as escolhas que devem ser feitas senão o fato de cada valor ser o que é, e nós o escolhermos pelo que é, e não por ser possível demonstrar, segundo uma escala única, que ele é mais elevado do que outro... se a racionalidade e o cálculo só podem ser aplicados aos meios e aos fins subordinados, mas nunca aos fins últimos, então surege uma imagem diferem daquela construída ao redor do antigo princípio de que há apenas um bem para os homens." p. 347 "exceto para os moralistas fanáticos - haveria mais de dois" modos de vida p. 347, "então o caminho está aberto para o empirismo, o pluralismo, a tolerância, o compromisso. A tolerância é historicamente o produto da percepção da irreconcibilidade de credos igualmente dogmáticos e da improbabilidade da vitória completa de um sobre o outro. Aqueles que desejavam sobreviver compreendiam que tinham de tolerar o erro. Eles aos poucos passaram a ver méritos na diversidade, e assim tornaram-se céticos sobre soluções definitivas nos assuntos humanos." p. 347 Como a tolerância pode tolerar a intolerância? Tolera-se algo que é ruim, não algo que seja bom.
As we have seen, it is a matter of patience, and patience is “the virtue of the strong,”
because it pertains to the cardinal virtue of fortitude. Being strong, morally speaking, does not mean abandoning the moral good (bonum honestum) because of a fear related to losing something in the context of the useful good (bonum utile). Among other things, it also preserves peace of mind before all types of regrets. A certain spiritual magnitude (magnanimity) is required, which does not mind the small matters of life that are more or less congenial. Man overcomes it only by waiting generously for some great and noble goal that he undertakes to fulfill in his life. if shared, becomes a basis for friendship itself. Paradoxically, it could be said that intolerance respects any fundamental, basic condition and makes authentic tolerance truly possible with respect to various derivative and secondary realities. On the contrary, “open” minds at the level of principles prove to be rather dull, petty, and quarrelsome in terms of practical consequences. Additionally, they establish a limit to freedom. The attempt to “liberate” man from God, as the French Enlightenment failed to do, does not necessarily guarantee that the above- mentioned liberty might not turn into “destructive fury.” It is not enough to proclaim that one’s neighbor is to be respected; rather it requires making reason count and regulating moral norms. In fact, what can be said of the mean and tyrannical disposition (narcissistic infantilism) of the so-called “Libertines” from a psychological point of view (assuming that you are not repulsed by the object of such studies)?
Freedom, properly understood, is situated in the realm of means and established in the adhesion to ends. It does not exclude but seeks and requires the obligation to improve oneself. “It is a happy necessity that compels us to what is better,” as Saint Augustine says. However, Leszek Kołakowski has both surmised and wished that the Church had abandoned “the traditional Augustinian concept of so-called ‘positive’ freedom,” and denies that it belongs to “the dogmatic body of the Church.” Rather, the roots of positive freedom are founded in the same divine Scriptures: “But thanks be to God, that you who were once slaves of sin have become obedient from the heart to the standard of teaching to which you were committed” (Rom 6:17).
  Instead, tolerance presents itself on the side of a free subject, which is not realized properly. If man freely adheres to the good, it is absurd to speak of tolerance. This is evidenced with respect to the one whom, expressing his freedom, lacks the realization of the moral value due, so that “tolerance,” strictly speaking, is doubly relative. It is relative when it is confined to the sphere of subjective freedom, and it is relative in the genuinely urgent instance when freedom is not properly realized on moral grounds (it is not the virtuous, but, if anything, the sinner who is to be treated with “forbearance”). St. Thomas Aquinas likes to distinguish between two types of common good: one immanent, which is the communal peace intrinsic to the body politic; and the other, even higher and transcendent, which is the full, moral realization of man, the achievement of his own happiness and the ultimate goal of his life. We know of it as the social ethic (or social doctrine) of the Church, which rests on the twin principles of solidarity and subsidiarity. The first expresses precisely the subjugation of the individual to the common good, while the other expresses the respect due by the society to smaller entities, and, ultimately, to the individuals who live within it. In these periods of “grace” in the life of a nation, it is superfluous and misleading to speak in terms of tolerance/intolerance. Everyone thinks in these categories, which is obviously of little intelligence, though the surprise is that everyone thinks so, spontaneously and without constraint. The nations of culture are therefore neither tolerant nor intolerant in themselves. If anything they respect those who are not their own, as has been very well highlighted by Lellia Cracco-Ruggini: “What mattered was the difference of culture. The barbarians who acquired Greco-Roman culture were considered, even by the more deeply rooted ‘barbarian- phobic,’ ‘Romans’ through and through.” Medieval Christianity is treated similarly regarding its views on intolerance. The critique is furthered by a more or less hidden bad faith, which is in bad taste and unfortunately widespread. In other words, to tolerate or “to bear” with those in the body politic who think otherwise is a typical requirement of an era that sees its culture (spontaneous adhesion to a common heritage of ideals) crumble little by little. Se eu considero ouviu musica alta um bem e o meu próximo o considera um mal, como eu posso ser tolerante? Qual é o argumento que eu posso usar para persuadi-lo de que ele precisa abaixar o volume? Segundo Isaiah Berlin, o pluralismo significa tolerar a diversidade. Então, por princípio eu deveria suportá-lo. Mas e se a diversidade acorda o meu bebê que estava dormindo? Então, eu preciso ir até ele e dar conta de que algo está errado ou chamar a policia. Mas por quê? Isso não é intolerância? Eu não estou colocando o meu bem acima do dele? E se na ética dele é importante que as pessoas ouçam aquele som? Então, precisa-se tratar da questão do bem comum que transcende o indivíduo. Mas o conceito de bem comum não seria um disfarce para a tirania? Quem determina o que ele é? A realidade é que o tolerante na teoria é intolerante na prática, ao passo que o intolerante na teoria encontra bons motivos para ser tolerante na prática.   Verdade é a adequação do intelecto à realidade. Liberdade é a escolha dos meios para um fim. Esse fim é escolhido a partir de quê? Ele pode Isaiah Berlin defende que na origem do totalitarismo está o monismo, doutrina segunda a qual existe apenas um fim último para o homem e que, por consequência, cabe a todos os homens perseguirem esse fim. Segundo ele, tal coisa não existe, existem vários fins para o homem, o florescimento humano acontece de diversos modos. Ele não quer dizer que existem vários caminhos que levam para um mesmo lugar, mas que existem de fato diferentes lugares onde se pode ir. Então, por exemplo, enquanto um bezerro floresce como boi, o homem pode florescer como um homem pagão, cristão ou ateu. Qual é a origem dessa diversidade? Segundo Berlin, o homem é livre para escolher o seu caminho e deve respeitar os demais nas suas escolhas. Mas a questão é a seguinte:    
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