A ÉTICA FEROZ DE MAQUIAVEL:
- Publicado em 07/07/2017
- Por Diogo Rafael Moreira
Segundo Robert Chrisholm, Maquiavel não é um pensador político que divorcia a ética da política, mas ele mesmo é o proponente de uma nova ética política, a qual não coincide nem com a ética cristã, nem com a pagã. O fim da política é o estabelecimento e manutenção da ordem temporal, a obtenção desse fim está acima de qualquer outro fim e o político deve ser avaliado na medida em que atinge esse ideal.
A nova ética de Maquiavel julga o sucesso ou o fracasso dos príncipes a partir de uma perspectiva consequencialista. A grandeza de um príncipe é medida por dois critérios bem precisos: (1) se ele deixou um legado duradouro e (2) se as ações foram motivadas pela ambição e conduzidas habilmente. De um lado, seus esforços devem promover a fundação, expansão e manutenção do Estado, de outro lado, tais esforços devem ser obtidos por meios humanos. Esses critérios apresentados por Chrisholm esclarecem o significado do termo virtude no pensamento de Maquiavel: o príncipe é virtuoso na medida que se torna capaz de realizar grandes feitos por conta própria.
Chrisholm então sugere que, dessa forma, Maquiavel transformou a mera tirania pela elevação de seus objetivos. O tirano não deve negar suas ambições pessoais, que são coisas naturais, mas ele deve estar ciente que somente obterá um resultado digno de louvor, se ele for capaz de atender aos dois critérios mencionados acima.
O homem bom não é capaz de garantir sua própria segurança neste mundo. O príncipe deve assumir uma atitude "quase ascética" par garantir a criação ou conservação de uma ordem coletiva estável e segura. A ação humana é a única base para julgamentos normativos. A ação política cria a ordem dentro da qual tais julgamentos podem ser feitos. A ação política deve ser julgada apenas por suas consequências. Isso significa que julgar o príncipe de acordo com critérios morais universais é inútil, porque apenas os frutos de seus empreendimentos vão revelar a excelência ou fracasso de sua ação. O príncipe pode ser cruel desde que a crueldade esteja voltada para o estabelecimento e manutenção de um governo terreno que crie neste mundo segurança e prosperidade.
Maquiavel não somente afirma que a moral cristã e pagã não são relevantes para a política, ele subverte a moral ao considerar que a ação política justifica a si mesma, porque quem determina sua previsível consequência é aquele mesmo que a executa.
A reigião não deve intervir na POLÍTICA a menos que seja usada como instrumento nas mãos do Estado.
CHRISHOLM, Robert.