Padre Gruner e seu colaborador Christopher Ferrara presumiram informar os fiéis de que o sedevevacantismo não é uma posição legítima para os católicos e que, na verdade, todos os católicos devem aceitar os “papas” pós-conciliares como papas verdadeiros e válidos.
O senhor não tem qualquer direito de propor a distinção entre doutrinal e pastoral para justificar sua aceitação de certos documentos do Vaticano II e sua rejeição de outros. É verdade que os assuntos tratados em qualquer Concílio não exigem o mesmo grau de assentimento; somente o que o Concílio afirma em suas "definições" como verdade de fé ou como verdade vinculada à fé requer o assentimento da fé. No entanto, o restante também faz parte do Magistério Solene da Igreja, para ser fielmente aceito e sinceramente colocado em prática por todos os católicos.” (Epístola Cum te, 11 de outubro de 1976, Notitia #12, 1976.)
João Paulo II exprimiu sua gratidão a Paulo VI quando o considerou seu “pai espiritual” e, mais adiante, afirmou que o Concílio foi “inspirado pelo Espírito Santo”. Ainda, em outro lugar, afirmou que o Concílio é “a doutrina autêntica da Igreja”. Claramente, a seus olhos negar o nosso assentimento ao Concílio equivale a “pecar contra o Espírito Santo.” (Redemptor Hominis e Discurso ao Sagrado Colégio reportado em Documentation Catholique (Paris), 1975, pp. 1002-3.)
Christopher Ferrara nos informa que um Papa que seja herege manifesto cessa ipso facto de ser um papa. Ora, ipso facto significa apenas isto: não se requer um concílio para determiná-lo. O Papa, como todos nós, possui livre arbítrio e pode se desviar da Igreja sem a ajuda de um Concílio. Agora, o Sr. Ferrara não pensa que os papas pós-conciliares tenham negado um só artigo que seja da fé católica com pertinácia. Parece claro que Sr. Ferrara não sabe como reconhecer uma heresia quando ela aparece diante de seus olhos. Certamente, ele vai dizer que esses “papas” nunca usaram o carisma da infalibilidade e que assim o que eles disseram sobre uma multiplicidade de assuntos é um assunto completamente outro. Ou, então, começará a sugerir um monte de desculpas - postulará que talvez ele tenha perdido sua consciência, ou escolheu mal suas palavras, ou que foi alvo de alguma coação, como uma ameaça de morte. No entanto, recomenda a necessidade de um Concílio para declarar tal papa como herege. Certamente, alguém poderá dizer que não estamos qualificados para julgar a doutrina de um Papa. Contudo, é certo que nós temos a obrigação de reconhecer o erro - senão, porque todos não seríamos protestantes ou comunistas?
Os antisedevacantistas falam muito sobre a sua liberdade de “resistir” a um Papa. Todavia, resistência é coisa muito diferente de recusar aceitar os ensinamentos de um Papa quando colocado em termos infalíveis - isto é, quando ele fala desde a sua função, na qualidade de “uma pessoa hierárquica unida a Nosso Senhor”, ou como os teólogos frequentemente dizem, “desde a cátedra de Pedro.”
Um exemplo de resistência ao Papa é fornecido pelo Bispo Grosseteste que recusou admitir em sua dioceses um primo do Papa porque ele não sabia inglês. O Papa em questão ficou furioso, mas nada podia fazer sobre isso. Isso é bem diferente de recusar aceitar o ensinamento do Papa no momento em que ele fala como o porta-voz de Cristo. Tal é uma rejeição do ensinamento de Cristo - caso esse Papa seja um verdadeiro Papa seria essa a pior desobediência que poderia haver, porque seria a rejeição da Verdade.
O sr. Ferrara levanta a questão da declaração do Vaticano I sobre o Papado. Deixe-me ser bastante claro, os sedevacantistas aceitam esse ensinamento integralmente. Não estamos atacando o Papado - na verdade, é justamente porque amamos o Papado que recusamos admitir que esses impostores tenham qualquer autoridade. Além do mais, a maioria dos padres tradicionais diz a Missa “em comunhão com a Santa Sé.” Embora eles não queiram dizer em união com os papas pós-conciliares, pois tal seria o mesmo que aderir à apostasia.
Padre Gruner, numa outra carta, chega ao ponto de alertar os sedevacantistas de que “o demônio está pronto para prendê-los” e que “o sedevacantismo definitivamente levaria as almas para a danação no Inferno.” De onde será que ele recebeu essa teologia? - decerto foi do Vaticano II. Em todo caso, ele não é o juiz das almas, e uma tal ameaça vinda de alguém que está em íntima comunhão com os “papas” pós-conciliares está beirando ao absurdo.
Agora, uma coisa é certa. Se nós católicos cremos ter a obrigação de obedecer ao papa, então enfrentamos um dilema. Se obedecemos esses papas, devemos comprometer nossa Fé Católica. Por esse motivo, tenta-se considerar toda sorte de soluções - todas elas subterfúgios que evitam reconhecer o verdadeiro problema. O ponto de partida é que não se pode obedecer a esses indivíduos e se manter católico ao mesmo tempo. Por conseguinte, deve-se declarar que eles não têm autoridade - que não são pessoas hierárquicas unidas a Cristo. Pouco importa como haveremos de chamá-los - antipapas, usurpadores, papas materialmente ou dizer que absolutamente não são papas. O ponto de partida é que eles não têm autoridade para falar em nome de Cristo. [Da minha parte, se eu achasse que eles falassem em nome de Cristo, jamais iria a outra Missa senão a Novus Ordo (quod absit), e aceitaria todos os erros do Vaticano II.]
(Não levantei a questão da legitimidade de suas eleições. Obviamente, um não católico não pode ser eleito ao Papado. Mas esse problema de antes, durante ou depois não é de crucial importância.)