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O SEDEVACANTISMO: : CONTRA "PADRE" GRUNER E CHRISTOPHER FERRARA
  • Publicado em 18/04/2017
  • Por Diogo Rafael Moreira

Padre Gruner e seu colaborador Christopher Ferrara presumiram informar os fiéis de que o sedevevacantismo não é uma posição legítima para os católicos e que, na verdade, todos os católicos devem aceitar os “papas” pós-conciliares como papas verdadeiros e válidos.

TO sr. Ferrara conta-nos que, se as mudanças do Vaticano II fossem impostas de jure, ele acharia a posição sedevacantista mais compreensível. Ele diz isso se referindo provavelmente àquela posição segundo a qual esses “papas” declararam o Concílio como de natureza “pastoral”. Ora, a fim de que alguém não venha a aceitar esse argumento aparentemente salutar, devemos começar pela demonstração de que é falso dizer que João Paulo II nunca tenha usado de sua infalibilidade e que, portanto, não possa ser réu de heresia. Enquanto o sr. Ferrara não faz alusão a isso diretamente, deveria ser claro que João Paulo II frequentemente usou de seu suposto “poder de infalibilidade” - por exemplo, cada canonização é considerada um decreto infalível. Embora possa ser verdadeiro que ele nunca tenha falado com a autoridade de Cristo, não há dúvida de que ele tenha usado da infalibilidade de seu ofício para promulgar erros. Voltemos agora para a questão do Vaticano II. Permita-me compartilhar com você aquilo que Paulo VI disse ao Arcebispo Lefebvre, que desejava interpretar os documentos do Vaticano II "conforme a Tradição":

O senhor não tem qualquer direito de propor a distinção entre doutrinal e pastoral para justificar sua aceitação de certos documentos do Vaticano II e sua rejeição de outros. É verdade que os assuntos tratados em qualquer Concílio não exigem o mesmo grau de assentimento; somente o que o Concílio afirma em suas "definições" como verdade de fé ou como verdade vinculada à fé requer o assentimento da fé. No entanto, o restante também faz parte do Magistério Solene da Igreja, para ser fielmente aceito e sinceramente colocado em prática por todos os católicos.” (Epístola Cum te, 11 de outubro de 1976, Notitia #12, 1976.)
Apenas para recordar: o Magistério Ordinário está obrigando a nossa consciência a declarar todos os documentos do Vaticano II como parte do Magistério Solene. Claramente, tal afirmação possui - se Paulo VI foi mesmo o Papa - todas as notas de infalibilidade. De modo similar, João Paulo II disse:

João Paulo II exprimiu sua gratidão a Paulo VI quando o considerou seu “pai espiritual” e, mais adiante, afirmou que o Concílio foi “inspirado pelo Espírito Santo”. Ainda, em outro lugar, afirmou que o Concílio é “a doutrina autêntica da Igreja”. Claramente, a seus olhos negar o nosso assentimento ao Concílio equivale a “pecar contra o Espírito Santo.” (Redemptor Hominis e Discurso ao Sagrado Colégio reportado em Documentation Catholique (Paris), 1975, pp. 1002-3.)
O que me deixa confuso a respeito dos antisedevacantistas é o fato de se dizerem católicos. Vamos considerar como a Igreja entende a função de um verdadeiro Papa. De acordo com os teólogos, ele é “uma pessoa hierárquica unida a Nosso Senhor”. Sendo assim, quando ele fala em sua função é Nosso Senhor quem fala - ensina, governa e santifica. Existem as áreas de sua autoridade, as bases de sua tríplice coroa e, dizer que ele não fez uso delas, é um absurdo. Na medida que ele indica os Bispos e fornece sua jurisdição, ele está governando. Similarmente, ao declarar que o Novus Ordo Missae é a Missa “normativa”, ele está santificando. E quando declara os documentos do Vaticano II como forma suprema do Magistério, ele está ensinando. Portanto, está muito além de minha compreensão entender como indivíduos que reconhecem os “papas” pós-conciliares como verdadeiros e válidos não tenham qualquer problema em desobedecê-los quando eles dizem coisas que não gostamos ou aceitamos. Paulo VI também disse ao Arcebispo Lefebvre que era sua tarefa - e não de Lefebvre - determinar o que era ou não era tradicional. Mas pessoas como Ferrara e Gruner ficam contentes em nos orientar quanto ao momento em que temos e não temos de seguir os ensinamentos desses supostos papas. O número de grupos querendo orientar-nos para o que é um caminho essencialmente protestante são uma legião. O que Padre Gruner e Sr. Ferrara não parecem entender é que a Igreja pós-Conciliar (nome dado por eles mesmos) é uma nova e diferente religião. Não é a religião católica. O argumento de que “as portas do Inferno não prevalecerão contra ela” é, de facto, verdadeiro. Pois a Igreja Católica é verdadeira e como tal jamais poderá ser destruída - e Deus estará com ela “até a consumação do mundo”. Sabemos, porém, que no “fim dos tempos” somente um resto se manterá católico; e é evidente que por todo o mundo existe um pequeno, mas significativo número de católicos tradicionais que rejeitam a Igreja pós-conciliar e se mantém fiéis à verdadeira Fé Católica. Como Catarina Emerick disse, se existir ao menos um único católico no fim dos tempos, a Igreja Católica estará nele. Chamar esse Resto, que não mudou suas crenças e práticas, de “rebelde”, “cismático” ou sujeitos aos anátemas é obviamente um absurdo. O argumento de que esse Resto sempre terá um Papa no meio deles não tem fundamento na realidade. É mera opinião - na verdade, como também é aquela de que, se não existe Papa, não existe Igreja. Afirmar que a Igreja continue a existir apesar da ausência - temporária - de um papa não é um modo de negar as afirmações do Vaticano I. De fato, os santos falam que em algum tempo no futuro São Pedro e São Paulo retornarão e nos mostrarão quem é o verdadeiro Papa.

Christopher Ferrara nos informa que um Papa que seja herege manifesto cessa ipso facto de ser um papa. Ora, ipso facto significa apenas isto: não se requer um concílio para determiná-lo. O Papa, como todos nós, possui livre arbítrio e pode se desviar da Igreja sem a ajuda de um Concílio. Agora, o Sr. Ferrara não pensa que os papas pós-conciliares tenham negado um só artigo que seja da fé católica com pertinácia. Parece claro que Sr. Ferrara não sabe como reconhecer uma heresia quando ela aparece diante de seus olhos. Certamente, ele vai dizer que esses “papas” nunca usaram o carisma da infalibilidade e que assim o que eles disseram sobre uma multiplicidade de assuntos é um assunto completamente outro. Ou, então, começará a sugerir um monte de desculpas - postulará que talvez ele tenha perdido sua consciência, ou escolheu mal suas palavras, ou que foi alvo de alguma coação, como uma ameaça de morte. No entanto, recomenda a necessidade de um Concílio para declarar tal papa como herege. Certamente, alguém poderá dizer que não estamos qualificados para julgar a doutrina de um Papa. Contudo, é certo que nós temos a obrigação de reconhecer o erro - senão, porque todos não seríamos protestantes ou comunistas? Os antisedevacantistas falam muito sobre a sua liberdade de “resistir” a um Papa. Todavia, resistência é coisa muito diferente de recusar aceitar os ensinamentos de um Papa quando colocado em termos infalíveis - isto é, quando ele fala desde a sua função, na qualidade de “uma pessoa hierárquica unida a Nosso Senhor”, ou como os teólogos frequentemente dizem, “desde a cátedra de Pedro.” Um exemplo de resistência ao Papa é fornecido pelo Bispo Grosseteste que recusou admitir em sua dioceses um primo do Papa porque ele não sabia inglês. O Papa em questão ficou furioso, mas nada podia fazer sobre isso. Isso é bem diferente de recusar aceitar o ensinamento do Papa no momento em que ele fala como o porta-voz de Cristo. Tal é uma rejeição do ensinamento de Cristo - caso esse Papa seja um verdadeiro Papa seria essa a pior desobediência que poderia haver, porque seria a rejeição da Verdade. O sr. Ferrara levanta a questão da declaração do Vaticano I sobre o Papado. Deixe-me ser bastante claro, os sedevacantistas aceitam esse ensinamento integralmente. Não estamos atacando o Papado - na verdade, é justamente porque amamos o Papado que recusamos admitir que esses impostores tenham qualquer autoridade. Além do mais, a maioria dos padres tradicionais diz a Missa “em comunhão com a Santa Sé.” Embora eles não queiram dizer em união com os papas pós-conciliares, pois tal seria o mesmo que aderir à apostasia.

Padre Gruner, numa outra carta, chega ao ponto de alertar os sedevacantistas de que “o demônio está pronto para prendê-los” e que “o sedevacantismo definitivamente levaria as almas para a danação no Inferno.” De onde será que ele recebeu essa teologia? - decerto foi do Vaticano II. Em todo caso, ele não é o juiz das almas, e uma tal ameaça vinda de alguém que está em íntima comunhão com os “papas” pós-conciliares está beirando ao absurdo. Agora, uma coisa é certa. Se nós católicos cremos ter a obrigação de obedecer ao papa, então enfrentamos um dilema. Se obedecemos esses papas, devemos comprometer nossa Fé Católica. Por esse motivo, tenta-se considerar toda sorte de soluções - todas elas subterfúgios que evitam reconhecer o verdadeiro problema. O ponto de partida é que não se pode obedecer a esses indivíduos e se manter católico ao mesmo tempo. Por conseguinte, deve-se declarar que eles não têm autoridade - que não são pessoas hierárquicas unidas a Cristo. Pouco importa como haveremos de chamá-los - antipapas, usurpadores, papas materialmente ou dizer que absolutamente não são papas. O ponto de partida é que eles não têm autoridade para falar em nome de Cristo. [Da minha parte, se eu achasse que eles falassem em nome de Cristo, jamais iria a outra Missa senão a Novus Ordo (quod absit), e aceitaria todos os erros do Vaticano II.] (Não levantei a questão da legitimidade de suas eleições. Obviamente, um não católico não pode ser eleito ao Papado. Mas esse problema de antes, durante ou depois não é de crucial importância.)


COOMARASWAMY, Rama P. Sedevacantism, 2005. Disponível aqui: . Acesso em: 15 jun. 2017.

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