A AGENDA CATÓLICA:
- Publicado em 29/04/2017
- Por Diogo Rafael Moreira
Resumo do capítulo
The Catholic Agenda in John Senior,
The Restoration of Christian Culture. Nortfolk (VA): IHS Press, 2008, p. 53-75; dividido em partes a fim de favorecer a reflexão de cada aspecto da ação. Este resumo é um termômetro pelo qual o católico pode saber quão católica tem sido a sua agenda.

[INTRODUÇÃO: A HORA DERRADEIRA]
Quando o "agora" é o "na hora de nossa morte", no momento derradeiro, não há mais nada a ser feito. A morte não tem agenda. Tudo será consequência do que foi realizado durante a agenda de nossas vidas. A palavra agenda vem do latim
agere, "agir" ou "fazer", ela é uma forma de responder a questão "o que deve ser feito?". A nossa agenda contém tudo o que está na ordem do propósito. O propósito ou fim deve ser considerado de três modos simultâneos, mas distintos: imediato, próximo e último. Todo ato deve conter os três, eles são como três notas de um mesmo acorde.
[I. O FIM IMEDIATO: O TRABALHO]
O fim imediato é o trabalho a ser feito. O açougueiro corta a carne, o padeiro faz o pão, o professor ensina a tabuada. O propósito imediato depende de um conhecimento específico: o açougueiro precisa saber cortar a carne, o padeiro precisa saber assar o pão etc. O meu trabalho tem sido bem feito? As tarefas são executadas com destreza?
Não basta que o trabalho seja bem feito, ele precisa ser bom em si mesmo: ele deve servir ao bem comum. É muito fácil de esquecê-lo no Estado burocrático, a sociedade semisocialista em que vivemos é uma espécie de deseconomia vasta e assimétrica, na qual poucos fazem o trabalho necessário e muitos parasitam-no. Mas a grande questão neste primeiro momento não é a reforma do sistema socioeconômico, por mais importante que ela seja, mas a escolha moral que precisamos tomar nesse meio tempo. O meu trabalho é realmente útil ou ele é apenas uma maneira de tirar proveito dos outros? Qual é a sua importância? Um bom teste para medir a qualidade de seu trabalho consiste em pensar na resposta que você daria a seus netinhos quando eles perguntarem: "O que você fazia, vovô?"
O ofício de cada um depende de algum conhecimento específico, mas existem certas generalizações feitas pela Igreja que devem ser levadas em conta, indicadas especialmente nas Encíclicas Sociais. Elas podem ser resumidas da seguinte maneira: onde quer que haja um número considerável de fiéis - o que não necessita ser uma maioria, mas apenas o suficiente para ter relevância política -, eles devem promover aquilo que os economistas chamam de uma sociedade distributivista, em contraste com uma sociedade capitalista ou socialista. Numa tal sociedade os impostos e órgãos públicos operam em favor de iniciativas pequenas, independentes e livres, de modo particular a fazenda familiar.

Se esse projeto parece demasiado utópico num mundo de potentados internacionais e condomínios, recorde-se da queda de Babilônia e de Roma, lembre-se da impotência do Egito e compare-os com a robustez da sociedade medieval perante inúmeras adversidades. O mundo contemporâneo já apresenta sinais de exaustão. Muitos já pensam numa reforma dentro dos parâmetros católicos. E. F. Schumacher, por exemplo, depois de uma vida como executivo bem-sucedido, escreveu um livro chamado
Small is Beautiful, onde advoga a urgência e relevância da Agenda Católica na esfera dos fins imediatos. Portanto, quais são os esforços que tenho feito nessa direção? Eu conheço e promovo a doutrina social da Igreja?
[II. O FIM PRÓXIMO: A ORAÇÃO]
O fim próximo é a oração. A oração significa amizade, a amizade no trabalho que deriva da nossa amizade com Deus. Se somos comerciantes o nosso trabalho não é só fazer vendas honestamente, mas também fazer dos vendedores e compradores amigos. Certamente não podemos fazer amigos se o produto é uma fraude ou se compramos barato para vender caro. Amigos não são para usar, amor não é roubo. Amor não é algo menos que trabalho honesto, amor é algo mais do que isso.
Todos os santos dizem que o amor cristão, a caridade, não é afeição humana. Ela toma a afeição humana como instrumento, mas ela mesma é uma outra coisa; a caridade não é um trabalho humano, mas um trabalho divino realizado mediante o trabalho humano, nós somos os instrumentos voluntários de Deus. Então, eu promovo em meu trabalho a amizade pelo amor de Deus? Eu tenho sido instrumentos de Deus? É realmente preciso lutar contra o amor próprio em nossas relações, de modo que sejamos dóceis instrumentos nas mãos daquele que é o único agente real da caridade, senão todo trabalho é feito em vão.

Existe uma tendência de confundir o fim imediato com o próximo, o trabalho com a oração. Mas São Bento não disse trabalho é oração, ele disse trabalho e oração. O fim imediato é o trabalho humano bem feito, o fim próximo é o trabalho de Deus bem feito em nós, ou seja, a graça. Este trabalho de Deus em nós só pode ser operado pela súplica humilde, a consciência dos pecados que se humilha e implora pelo auxílio divino. A justiça humana é um bom salário para o trabalho bem feito, a justiça divina pressupõe o trabalho bem feito, mas requer também o trabalho de Deus bem feito em nós. Toda a nossa atividade é um grande desperdício sem a oração: se Deus não constrói a casa, em vão trabalham os operários.
Oração e trabalho não são coisas opostas entre si, elas são duas notas simultâneas no triplo acorde de todo ato humano. Elas são o trabalhar bem por amor do próximo movido pelo amor divino. É o marido e a mulher que se casam para ter e cuidar dos filhos como fim imediato e para se tornarem amigos como fim próximo.
No entanto, convém marcar bem a diferença entre eles, a qual é semelhante a diferença entre a lei e a graça. O trabalho é uma necessidade física, quem não trabalha, não come. A oração é uma necessidade de obrigação, um dever. É o pagamento livre e voluntário da divida que temos para com Deus pela existência e pela graça.
Dever em latim é
officium, este dever de oração se cumpre no Ofício Divino rezado pelos monges, também ele em latim, a língua da Igreja Católica. É preciso que em nossas ações esteja presente o incentivo à vida contemplativa, que não deixemos de apresentar este caminho de perfeição aos nossos filhos e alunos. Como pai, mãe ou mestre, eu tenho falado para os jovens das excelências da vida contemplativa?
Todos somos devedores. Cada um precisa pagar a sua divida conforme seu estado de vida. Existem três graus de obrigação. O primeiro grau é praticado pelas pessoas que vivem nos mosteiros e claustros, as quais estão em constante oração. A vida toda gira em torno do Ofício Divino, da Santa Missa, da leitura espiritual, da oração mental e devoções, fazendo o mínimo de trabalho necessário para manter a saúde física. Elas rezam oito horas, dormem oito horas e dividem as outras oito horas em trabalho e lazer. O segundo grau é aquele das ordens ativas e dos padres seculares, que aqui chamamos de vida mista, onde a oração ainda é o principal. Eles rezam quatro horas, trabalham oito horas (pregando, ensinando, cuidando do pobre e do doente), dormem oito horas e nas outras quatro restantes é o tempo do lazer. O terceiro grau é dos leigos, solteiros e casados, que dedicam apenas um dízimo de seu tempo à oração, cerca de duas horas e meia. Eles trabalham oito horas, dormem oito horas, rezam duas horas e meia e nas cinco horas e meia restantes passam o tempo de lazer com a família. Eu tenho seguido essa agenda de oração em conformidade com o meu estado de vida?

A primeira questão sobre a agenda de oração é o tempo. A primeira coisa que dizemos sobre oração é que não temos tempo para ela. Mas, afinal, onde é que esse tempo está sendo gasto? O tempo da oração vai-se embora mediante trabalhos inúteis e lazeres complicados. Considere esses conselhos: trabalhar perto de casa - o que talvez lhe tornaria independente do carro e pouparia horas no trânsito - ou até mesmo retornar para a vizinhança de sua infância; quanto ao lazer, no lugar de ir para as montanhas ou praias longínquas, que tal construir um jardim no quintal de sua casa com as crianças? Isso não tem nada a ver com o exibicionismo e as longas jornadas com as quais já estamos acostumados, mas é o simples e puro, barato e saudabilíssimo lazer. Eu tenho considerado a possibilidade de viver uma vida mas simples? Eu tenho considerado os benefícios que ela traria para a minha família?
Por falar em mudanças, a arquitetura contemporânea é um caso digno de nota. Os ateus conseguiram expressar bem o espírito de sua religião nos edifícios modernos, o católico não tem sido capaz de reproduzir nas suas próprias casas as obras de arte deixadas nas vilas europeias por seus antepassados. Em vez de imitá-las, ele imita os ateus, esquecendo-se que ele toma parte no ateísmo deles por não expressar o seu catolicismo. De fato, o pecado não é um ato positivo, mas é antes de tudo uma privação de um bem. Não está na hora de recuperar a arquitetura e a decoração católica? O que eu tenho feito em minha casa nesse sentido?
Mas se conseguimos o dízimo do tempo que precisamos para rezar, como devemos fazer? Existe algum manual? Existem vários. Seguindo o conselho de São Felipe Neri digo que qualquer livro com um "santo" na frente do nome é bom para este fim. Os santos sempre repetem as mesmas coisas, por exemplo, eles sempre falam da importância da quietude na oração. O maior bem feitor da humanidade não é o maior dos ativistas, mas aquele que faz a sua prece em silêncio. A oração não é uma coisa obsoleta ou secundária, mas é o princípio da caridade, ali que a alma começa a fazer algo realmente bom, a amar de verdade.
Como ensina Santa Teresa, não são necessários muitos conceitos de Deus para se fazer uma boa oração, basta mirar os olhos nele, naquele que sempre está - mesmo depois de ser ofendido pela multidão de pecados que cometemos contra ele -, olhando para nós. Siga-o, acompanhe-o pelo Caminho Real da Cruz.
[III. O FIM ÚLTIMO: O SACRIFÍCIO]
O fim último é o sacrifício. Sacrifício é oferecer o trabalho e a oração a Deus, ou seja, participar ativamente no trabalho divino, submetendo-se a sua vontade, tal como Cristo o fez. Assim, a Agenda Católica é trabalho, oração e sacrifício, cada qual correspondendo a uma parte da Ave-Maria: "agora" é o trabalho, "na hora de nossa morte" é a oração e o "Amém" é o sacrifício.
Os santos ensinam que todo ato realizado em estado de graça é participação na vida da Santíssima Trindade, assim o trabalho e oração do católico são a participação nas alegrias do céu por meio do sofrimento, isto é, pelo sacrifício. Todo ato cristão é uma paixão. O sacrifício é o oferecimento de si mesmo para a maior glória de Deus, ele é o nosso Amém. O ápice da ação católica é tomar parte no eterno Sacrifício que acontece em toda Missa. Mas qual é a relação entre o trabalho e o sacrifício? Ela pode ser analisada da seguinte forma: quanto eu invisto e investi na Fé? De quantas coisas eu abri mão pela Fé? O que eu perdi pela Fé?

A vida é engraçada, mas não é uma piada. Temos feito confusão entre ser feliz e ser bem-aventurado, muitas vezes trocamos o forte e muitas vezes amargo vinho do catolicismo pelo suco de uva liberal. A perfeição cristã nesta vida consiste na união mística com Cristo crucificado, fazer parte do sacrifício eterno. De fato, a plenitude consiste em amar a Deus por Ele mesmo, sem o acompanhamento de qualquer consolação mundana. Este é o mistério de nossas vidas, que devem estar escondidas na vida de Cristo, eis o mistério da Fé, o Santo Sacrifício da Missa. Tenho recebido os Sacramentos dignamente? Quais são os esforços que tenho feito para promover o Santo Sacrifício da Missa?
[BREVE RECAPITULAÇÃO]
Em toda ação estão implicados três tipos de fim: o fim imediato, o fim próximo e o fim último. A Agenda Católica deve contemplar esses três fins distintos, mas harmoniosos: o fim último é o trabalho bom e bem feito, o fim próximo é a oração que torna a graça frutuosa, o fim último é o sacrifício que nos une a Deus. Esse propósito se exprime em cada Ave-Maria rezada: o "agora" é o trabalho, o "na hora de nossa morte" é a oração e o "Amém" é o sacrifício.
[CONCLUSÃO]
Escrevendo essas linhas surge a questão: quem sou eu para ensinar essas coisas? Eu não trabalhei tão bem quanto eu poderia, rezei menos e não posso dizer que disse Amém nem sequer nas menores cruzes. É tarde demais para mim, talvez seja tarde demais para você, já é demasiado tarde para este século. Será dificílimo cumprir um décimo da Agenda Católica: viver e trabalhar num negócio honesto em uma vila católica, reservar o dízimo de nosso tempo a oração e oferecer todas as nossas obras, orações, alegrias e sofrimentos a Ele. De fato, isso não pode ser feito, a não ser que tenhamos o auxílio de Sua Santa Mãe: "Rogai por nós, Santa Mãe de Deus".
Se você é como eu e não tem vivido a vida católica tal como ela deve ser vivida, então renove comigo o compromisso de colocar essas coisas na agenda de sua prática diária, pois a alternativa é, na melhor das hipóteses, padecer uma dor incomparavelmente superior a qualquer sofrimento terreno e, na pior, a danação eterna. Se nos aplicarmos à prática da Agenda Católica, na hora derradeira a Santíssima Virgem Maria nos ajudará e, assim, seremos capazes de dizer o nosso Amém.
Trabalho, oração e sacrifício, eis a Agenda Católica. "Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém."
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acessado diretamente por aqui. A meu ver, esse título é uma leitura essencial para o católico de hoje, o resumo acima foi uma modesta tentativa de chamar a atenção dos leitores para os méritos de sua obra.
De resto, adianto que John Senior é escritor exímio, exprime suas ideias de forma rara e cativante, e que ideias! As propostas que ele traz para a Restauração da Cultura Cristã são medidas concretas, testadas e aprovadas pelo tempo, elas envolvem a nossa vida como um todo e são, sem dúvida, um grande desafio. Quem deseja saber mais sobre ele, saiba que existe
uma ótima introdução ao movimento educacional do qual ele fez parte em espanhol.