Como membros da Igreja contam-se realmente só aqueles que receberam o batismo e professam a verdadeira fé, nem se separaram voluntariamente do organismo do corpo, ou não foram dele cortados pela legítima autoridade em razão de culpas gravíssimas... Não se deve, porém, julgar que o corpo da Igreja, por levar o nome de Cristo, já se constitui durante o tempo de sua peregrinação terrestre só de membros notáveis por sua santidade, ou só dos que de fato são por Deus predestinados à sempiterna felicidade. Por sua infinita misericórdia o Salvador não recusa lugar no seu Corpo Místico àqueles a quem o não recusou outrora no banquete (Mt 9,11; Mc 2,16; Lc 15,2). Nem todos os pecados, embora graves, são de sua natureza tais que separem o homem do corpo da Igreja como fazem os cismas, a heresia e a apostasia. Nem perdem de todo a vida sobrenatural os que pelo pecado perderam a caridade e a graça santificante e por isso se tornaram incapazes de mérito sobrenatural, mas conservam a fé e a esperança cristã, e alumiados pela luz celeste são divinamente estimulados com íntimas inspirações e moções do Espírito Santo ao temor salutar, à oração e ao arrependimento das suas culpas. (Papa Pio XII, Encíclica Mystici Corporis, nn. 22-23.)
Nada em sua vida dispunha-o para o ofício, e tudo deveria tê-lo afastado dele. Ele raramente era visto na igreja. Seus dias e noites eram gastos na companhia de mancebos e mulheres de má fama, nos prazeres da mesa, nos divertimentos e na caça, ou mesmo nos mais pecaminosos prazeres carnais. Conta-se que, às vezes, no meio da folia dissoluta, o príncipe foi visto a oferecer um drink ao demônio. Eleito para o ofício papal, Otaviano mudou o seu nome e tomou o nome de João XII. Ele foi o primeiro papa a mudar de nome ao assumir o pontificado. Mas a nova dignidade não produziu mudanças em seus costumes, antes meramente servindo para acrescentar a culpa de sacrilégio. A Divina Providência, velando pela Igreja, preservou miraculosamente o depósito da fé, do qual este jovem voluptuoso era o guardião. A vida deste Papa foi um escândalo monstruoso, mas seu bullarium é impecável. Não podemos admirar o suficiente este prodígio. Não existe um herege ou cismático que não tenha se esforçado para legitimar a sua própria conduta dogmaticamente. Fócio tentou justificar o seu orgulho, Lutero suas paixões sensuais, Calvino sua crueldade. Nem Sérgio III, nem João XII, nem Bento IX, nem Alexandre VI, sumos pontífices, definidores da fé, certos de serem ouvidos e obedecidos por toda a Igreja, proferiram, do alto do púlpito apostólico, uma única palavra que pudesse ser uma aprovação de suas desordens. Por vezes, João XII mesmo se converteu em defensor da ameaçada ordem social, da lei canônica ofendida e da vida religiosa em perigo. (Rev. Fernand Mourret, A History of the Catholic Church, Vol. 2 [St. Louis, MO: Herder Book Co., 1946], pp. 510-511; underlining added.)
A vigilância e a solicitude pastoral do Romano Pontífice... conforme os deveres de seu ofício, são principalmente e sobretudo manifestas no mantimento e conservação da unidade e integridade da fé católica, sem a qual é impossível agradar a Deus. Eles também se esforçam para que os fiéis de Cristo não sejam como filhos irresolutos, ou se deixando arrastar por qualquer sopro de doutrina em virtude da perversidade dos homens [Ef 4, 14], para que tudo concorra para a unidade da fé e o conhecimento do Filho de Deus a fim de formar o homem perfeito, para que eles não firam uns aos outros ou se ofendam entre si na comunidade e sociedade desta vida presente, mas que, em vez, unidos pelos laços da cidade como membros de um só corpo tendo Cristo por cabeça, e sob a autoridade de seu Vigário sobre a terra, o Romano Pontífice, sucessor do Bem-Aventurado Pedro, de quem derivou a unidade de toda a Igreja, eles possam crescer em número para a edificação do corpo, e com a assistência da graça divina, eles possam assim desfrutar de tranquilidade nesta vida, bem como da felicidade futura. (Papa Bento XIV, Pastoralis Romani Pontificis, 30 de mar. 1741; em Papal Teachings: The Church, p. 31.) A Santa Sé Apostólica e o Romano Pontífice tem a primazia no mundo inteiro. O Romano Pontífice é o Sucessor do Bem-Aventurado Pedro, o Príncipe dos Apóstolos, verdadeiro Vigário de Cristo, Cabeça de toda a Igreja, Pai e Mestre de todos os cristãos. (Papa Bento XIV, Etsi Pastoralis, 26 mai. 1742; em Papal Teachings: The Church, p. 32.) Só aos pastores foi dado todo o poder de ensinar, julgar, governar; sobre o fiel foi imposto o dever de seguir seus ensinamentos, submeter-se com docilidade ao seu juízo e de deixar-se governar, corrigidos e guiados por eles no caminho de salvação. É, pois, absolutamente necessário que o simples fiel se submeta de espírito e coração aos seus pastores, e que os últimos se submetam com eles ao Chefe e Pastor Supremo. (Papa Leão XIII, Tua ao Cardeal Guibert, 17 jun. 1885; em Papal Teachings: The Church, p. 263.) Ademais, Nós declaramos, proclamamos, definimos que é absolutamente necessário à salvação que toda a criatura humana se submeta ao Romano Pontífice. (Papa Bonifácio VIII, Unam Sanctam, 18 nov. 1302.) A união com a Sé Romana de Pedro é… sempre o critério público de um católico… "Não se pode crer que preservam na fé católica os que não ensinam a fé de Roma.” (Papa Leão XIII, Satis Cognitum, n. 13.) ... o instrumento forte e eficaz de salvação não é outro senão o Pontificado Romano. (Papa Leão XIII, Alocução de 20 fev. 1903; em Papal Teachings: The Church, p. 353.)
Procurando corresponder a este múnus pastoral, os nossos predecessores sempre dedicaram infatigável empenho à propagação da salutar doutrina de Cristo entre todos os povos da terra, e com igual solicitude vigiaram para que, onde fosse recebida, também fosse guardada pura e sem alteração. Pelo que os bispos de todo orbe […] referiram a esta Sé Apostólica principalmente os perigos que surgiam em assuntos de fé, a fim de que os danos da fé se ressarcissem especialmente aí, onde a fé não pode sofrer defeito. Os Romanos Pontífices, conforme lhes aconselhava a condição dos tempos e das circunstâncias, ora convocando Concílios ecumênicos ou ouvindo a opinião de toda Igreja dispersa pelo orbe, ora por sínodos particulares ou empregando outros meios que a divina providência lhes proporcionava, definiram que se devia sustentar aquilo que, com o auxílio de Deus, reconheceram ser conforme às Sagradas Escrituras a às tradições apostólicas. Pois o Espírito Santo não foi prometido aos sucessores de Pedro para que, por revelação sua, manifestassem uma nova doutrina, mas para que, com a sua assistência, conservassem santamente e expusessem fielmente a revelação transmitida pelos Apóstolos, ou seja, o depósito da fé. E, decerto, esta doutrina apostólica, todos os veneráveis Padres abraçaram-na e os santos ortodoxos Doutores a veneraram e seguiram, plenissimamente conscientes de que esta Sé de São Pedro sempre permaneceu intacta de todo erro, segundo a divina promessa de Nosso Senhor [e] Salvador feita ao chefe de seus discípulos: “Eu roguei por ti, para que tua fé não desfaleça; e tu, uma vez convertido, confirma teus irmãos.” [Lc 22,32]. (Concílio do Vaticano, Pastor Aeternus, n. 4; Denz. 1836.)
Vós bem sabais que os inimigos mortais da religião católica têm sempre movido uma guerra feroz, mas sem sucesso, contra esta Cátedra; eles não são de nenhum modo ignorantes do fato de que a religião mesma jamais pode vacilar ou cair enquanto esta Cátedra permanecer intacta, a Cátedra que está assentada sobre a rocha que as orgulhosas portas do inferno não podem vencer e na qual existe a solidez integral e perfeita da religião cristã. (Papa Pio IX, Encíclica Inter Multiplices, n. 7)