Se é possível aprender alguma lição a partir dos erros alheios, penso que devemos tirá-la do erro em comum de dois personagens que foram, no curso deste ano, o objeto de algumas controvérsias deste nosso apostolado. Ambos nos ensinam como fazer uma leitura irresponsável dos cânones dos Concílios da Igreja Católica; ambos, ao serem pressionados por um exame criterioso e pela autoridade de teólogos, recorrem a uma interpretação privada a partir de dicionários.
A tese defendida por cada um de nossos adversários é bem distinta, mas ambos partilham da mesma falta de critério no tocante a interpretação de um cânon. Carlos Nougué interpreta o cânon do segundo capítulo da Pastor Aeternus sobre a perpetuidade do Primado como um anátema ao sedevacantismo; o Irmão Pedro Dimond, por sua vez, interpreta o cânon da sétima sessão do Concílio de Trento como um anátema ao batismo de desejo e de sangue.
O mais curioso em toda essa história é que nossos atrapalhados teólogos se anatematizariam reciprocamente. Com efeito, o "anátema de dicionário" do sr. Nougé significaria que o sedevacantismo do Irmão Pedro Dimond está errado; já o anátema interpretado ao pé da letra pelo Irmão Pedro Dimond significaria que a crença do sr. Carlos Nougué no batismo de desejo e de sangue está errada. Você está entendendo o sem-número de confusões que a interpretação privada ("com o bom senso e dicionários") pode produzir.