Desenhos para colorir no Mês de Maria

Este mês de Maio é uma ótima oportunidade para ensinar as crianças sobre as Aparições Marianas. É muito importante que nossas crianças saibam a história dos pastorinhos de Fátima, os fatos sobre a imagem milagrosa de Guadalupe e outros eventos maravilhosos que mostram como a Santíssima Virgem sempre esteve presente no “agora” da Igreja Militante. Do mesmo modo, convém educar pelo exemplo, rezando diariamente o Santo Rosário e, neste mês em particular, praticando outras devoções que exaltem as glórias de Maria.

É um mês muito feliz, muito alegre. Que todos façam o seu melhor para agradar à Rainha do mês de Maio. Que os mais pequeninos não sejam exceção: que eles também ofereçam a Ela o melhor. Eis aqui alguns desenhos que as crianças podem pintar em honra à Virgem Maria:

A Agenda Católica

Resumo do capítulo The Catholic Agenda in John Senior, The Restoration of Christian Culture. Nortfolk (VA): IHS Press, 2008, p. 53-75; dividido em partes a fim de favorecer a reflexão de cada aspecto da ação. Este resumo é um termômetro pelo qual o católico pode saber quão católica tem sido a sua agenda.

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[INTRODUÇÃO: A HORA DERRADEIRA]

Quando o “agora” é o “na hora de nossa morte”, no momento derradeiro, não há mais nada a ser feito. A morte não tem agenda. Tudo será consequência do que foi realizado durante a agenda de nossas vidas. A palavra agenda vem do latim agere, “agir” ou “fazer”, ela é uma forma de responder a questão “o que deve ser feito?”. A nossa agenda contém tudo o que está na ordem do propósito. O propósito ou fim deve ser considerado de três modos simultâneos, mas distintos: imediato, próximo e último. Todo ato deve conter os três, eles são como três notas de um mesmo acorde.

[I. O FIM IMEDIATO: O TRABALHO]

O fim imediato é o trabalho a ser feito. O açougueiro corta a carne, o padeiro faz o pão, o professor ensina a tabuada. O propósito imediato depende de um conhecimento específico: o açougueiro precisa saber cortar a carne, o padeiro precisa saber assar o pão etc. O meu trabalho tem sido bem feito? As tarefas são executadas com destreza?

Não basta que o trabalho seja bem feito, ele precisa ser bom em si mesmo: ele deve servir ao bem comum. É muito fácil de esquecê-lo no Estado burocrático, a sociedade semisocialista em que vivemos é uma espécie de deseconomia vasta e assimétrica, na qual poucos fazem o trabalho necessário e muitos parasitam-no. Mas a grande questão neste primeiro momento não é a reforma do sistema socioeconômico, por mais importante que ela seja, mas a escolha moral que precisamos tomar nesse meio tempo. O meu trabalho é realmente útil ou ele é apenas uma maneira de tirar proveito dos outros? Qual é a sua importância? Um bom teste para medir a qualidade de seu trabalho consiste em pensar na resposta que você daria a seus netinhos quando eles perguntarem: “O que você fazia, vovô?”

O ofício de cada um depende de algum conhecimento específico, mas existem certas generalizações feitas pela Igreja que devem ser levadas em conta, indicadas especialmente nas Encíclicas Sociais. Elas podem ser resumidas da seguinte maneira: onde quer que haja um número considerável de fiéis – o que não necessita ser uma maioria, mas apenas o suficiente para ter relevância política -, eles devem promover aquilo que os economistas chamam de uma sociedade distributivista, em contraste com uma sociedade capitalista ou socialista. Numa tal sociedade os impostos e órgãos públicos operam em favor de iniciativas pequenas, independentes e livres, de modo particular a fazenda familiar.
Angelus de MilletSe esse projeto parece demasiado utópico num mundo de potentados internacionais e condomínios, recorde-se da queda de Babilônia e de Roma, lembre-se da impotência do Egito e compare-os com a robustez da sociedade medieval perante inúmeras adversidades. O mundo contemporâneo já apresenta sinais de exaustão. Muitos já pensam numa reforma dentro dos parâmetros católicos. E. F. Schumacher, por exemplo, depois de uma vida como executivo bem-sucedido, escreveu um livro chamado Small is Beautiful, onde advoga a urgência e relevância da Agenda Católica na esfera dos fins imediatos. Portanto, quais são os esforços que tenho feito nessa direção? Eu conheço e promovo a doutrina social da Igreja?

[II. O FIM PRÓXIMO: A ORAÇÃO]

O fim próximo é a oração. A oração significa amizade, a amizade no trabalho que deriva da nossa amizade com Deus. Se somos comerciantes o nosso trabalho não é só fazer vendas honestamente, mas também fazer dos vendedores e compradores amigos. Certamente não podemos fazer amigos se o produto é uma fraude ou se compramos barato para vender caro. Amigos não são para usar, amor não é roubo. Amor não é algo menos que trabalho honesto, amor é algo mais do que isso.

Todos os santos dizem que o amor cristão, a caridade, não é afeição humana. Ela toma a afeição humana como instrumento, mas ela mesma é uma outra coisa; a caridade não é um trabalho humano, mas um trabalho divino realizado mediante o trabalho humano, nós somos os instrumentos voluntários de Deus. Então, eu promovo em meu trabalho a amizade pelo amor de Deus? Eu tenho sido instrumentos de Deus? É realmente preciso lutar contra o amor próprio em nossas relações, de modo que sejamos dóceis instrumentos nas mãos daquele que é o único agente real da caridade, senão todo trabalho é feito em vão.
Fotos de antes do Vaticano II 3Existe uma tendência de confundir o fim imediato com o próximo, o trabalho com a oração. Mas São Bento não disse trabalho é oração, ele disse trabalho e oração. O fim imediato é o trabalho humano bem feito, o fim próximo é o trabalho de Deus bem feito em nós, ou seja, a graça. Este trabalho de Deus em nós só pode ser operado pela súplica humilde, a consciência dos pecados que se humilha e implora pelo auxílio divino. A justiça humana é um bom salário para o trabalho bem feito, a justiça divina pressupõe o trabalho bem feito, mas requer também o trabalho de Deus bem feito em nós. Toda a nossa atividade é um grande desperdício sem a oração: se Deus não constrói a casa, em vão trabalham os operários.

Oração e trabalho não são coisas opostas entre si, elas são duas notas simultâneas no triplo acorde de todo ato humano. Elas são o trabalhar bem por amor do próximo  movido pelo amor divino. É o marido e a mulher que se casam para ter e cuidar dos filhos como fim imediato e para se tornarem amigos como fim próximo.

No entanto, convém marcar bem a diferença entre eles, a qual é semelhante a diferença entre a lei e a graça. O trabalho é uma necessidade física, quem não trabalha, não come. A oração é uma necessidade de obrigação, um dever. É o pagamento livre e voluntário da divida que temos para com Deus pela existência e pela graça.

Dever em latim é officium, este dever de oração se cumpre no Ofício Divino rezado pelos monges, também ele em latim, a língua da Igreja Católica. É preciso que em nossas ações esteja presente o incentivo à vida contemplativa, que não deixemos de apresentar este caminho de perfeição aos nossos filhos e alunos. Como pai, mãe ou mestre, eu tenho falado para os jovens das excelências da vida contemplativa?

Todos somos devedores. Cada um precisa pagar a sua divida conforme seu estado de vida. Existem três graus de obrigação. O primeiro grau é praticado pelas pessoas que vivem nos mosteiros e claustros, as quais estão em constante oração. A vida toda gira em torno do Ofício Divino, da Santa Missa, da leitura espiritual, da oração mental e devoções, fazendo o mínimo de trabalho necessário para manter a saúde física. Elas rezam oito horas, dormem oito horas e dividem as outras oito horas em trabalho e lazer. O segundo grau é aquele das ordens ativas e dos padres seculares, que aqui chamamos de vida mista, onde a oração ainda é o principal. Eles rezam quatro horas, trabalham oito horas (pregando, ensinando, cuidando do pobre e do doente), dormem oito horas e nas outras quatro restantes é o tempo do lazer. O terceiro grau é dos leigos, solteiros e casados, que dedicam apenas um dízimo de seu tempo à oração, cerca de duas horas e meia. Eles trabalham oito horas, dormem oito horas, rezam duas horas e meia e nas cinco horas e meia restantes passam o tempo de lazer com a família. Eu tenho seguido essa agenda de oração em conformidade com o meu estado de vida?
Fotos de antes do Vaticano II 2A primeira questão sobre a agenda de oração é o tempo. A primeira coisa que dizemos sobre oração é que não temos tempo para ela. Mas, afinal, onde é que esse tempo está sendo gasto? O tempo da oração vai-se embora mediante trabalhos inúteis e lazeres complicados. Considere esses conselhos: trabalhar perto de casa – o que talvez lhe tornaria independente do carro e pouparia horas no trânsito – ou até mesmo retornar para a vizinhança de sua infância; quanto ao lazer, no lugar de ir para as montanhas ou praias longínquas, que tal construir um jardim no quintal de sua casa com as crianças? Isso não tem nada a ver com o exibicionismo e as longas jornadas com as quais já estamos acostumados, mas é o simples e puro, barato e saudabilíssimo lazer. Eu tenho considerado a possibilidade de viver uma vida mas simples? Eu tenho considerado os benefícios que ela traria para a minha família?

Por falar em mudanças, a arquitetura contemporânea é um caso digno de nota. Os ateus conseguiram expressar bem o espírito de sua religião nos edifícios modernos, o católico não tem sido capaz de reproduzir nas suas próprias casas as obras de arte deixadas nas vilas europeias por seus antepassados. Em vez de imitá-las, ele imita os ateus, esquecendo-se que ele toma parte no ateísmo deles por não expressar o seu catolicismo. De fato, o pecado não é um ato positivo, mas é antes de tudo uma privação de um bem. Não está na hora de recuperar a arquitetura e a decoração católica? O que eu tenho feito em minha casa nesse sentido?

Mas se conseguimos o dízimo do tempo que precisamos para rezar, como devemos fazer? Existe algum manual? Existem vários. Seguindo o conselho de São Felipe Neri digo que qualquer livro com um “santo” na frente do nome é bom para este fim. Os santos sempre repetem as mesmas coisas, por exemplo, eles sempre falam da importância da quietude na oração. O maior bem feitor da humanidade não é o maior dos ativistas, mas aquele que faz a sua prece em silêncio. A oração não é uma coisa obsoleta ou secundária, mas é o princípio da caridade, ali que a alma começa a fazer algo realmente bom, a amar de verdade.

Como ensina Santa Teresa, não são necessários muitos conceitos de Deus para se fazer uma boa oração, basta mirar os olhos nele, naquele que sempre está – mesmo depois de ser ofendido pela multidão de pecados que cometemos contra ele -, olhando para nós. Siga-o, acompanhe-o pelo Caminho Real da Cruz.

[III. O FIM ÚLTIMO: O SACRIFÍCIO]

O fim último é o sacrifício. Sacrifício é oferecer o trabalho e a oração a Deus, ou seja, participar ativamente no trabalho divino, submetendo-se a sua vontade, tal como Cristo o fez. Assim, a Agenda Católica é trabalho, oração e sacrifício, cada qual correspondendo a uma parte da Ave-Maria: “agora” é o trabalho, “na hora de nossa morte” é a oração e o “Amém” é o sacrifício.

Os santos ensinam que todo ato realizado em estado de graça é participação na vida da Santíssima Trindade, assim o trabalho e oração do católico são a participação nas alegrias do céu por meio do sofrimento, isto é, pelo sacrifício. Todo ato cristão é uma paixão. O sacrifício é o oferecimento de si mesmo para a maior glória de Deus, ele é o nosso Amém. O ápice da ação católica é tomar parte no eterno Sacrifício que acontece em toda Missa. Mas qual é a relação entre o trabalho e o sacrifício? Ela pode ser analisada da seguinte forma: quanto eu invisto e investi na Fé? De quantas coisas eu abri mão pela Fé? O que eu perdi pela Fé?
O Santo Sacrifício da Missa
A vida é engraçada, mas não é uma piada. Temos feito confusão entre ser feliz e ser bem-aventurado, muitas vezes trocamos o forte e muitas vezes amargo vinho do catolicismo pelo suco de uva liberal. A perfeição cristã nesta vida consiste na união mística com Cristo crucificado, fazer parte do sacrifício eterno. De fato, a plenitude consiste em amar a Deus por Ele mesmo, sem o acompanhamento de qualquer consolação mundana. Este é o mistério de nossas vidas, que devem estar escondidas na vida de Cristo, eis o mistério da Fé, o Santo Sacrifício da Missa. Tenho recebido os Sacramentos dignamente? Quais são os esforços que tenho feito para promover o Santo Sacrifício da Missa?

[BREVE RECAPITULAÇÃO]

Em toda ação estão implicados três tipos de fim: o fim imediato, o fim próximo e o fim último. A Agenda Católica deve contemplar esses três fins distintos, mas harmoniosos: o fim último é o trabalho bom e bem feito, o fim próximo é a oração que torna a graça frutuosa, o fim último é o sacrifício que nos une a Deus. Esse propósito se exprime em cada Ave-Maria rezada: o “agora” é o trabalho, o “na hora de nossa morte” é a oração e o “Amém” é o sacrifício.

[CONCLUSÃO]

Escrevendo essas linhas surge a questão: quem sou eu para ensinar essas coisas? Eu não trabalhei tão bem quanto eu poderia, rezei menos e não posso dizer que disse Amém nem sequer nas menores cruzes. É tarde demais para mim, talvez seja tarde demais para você, já é demasiado tarde para este século. Será dificílimo cumprir um décimo da Agenda Católica: viver e trabalhar num negócio honesto em uma vila católica, reservar o dízimo de nosso tempo a oração e oferecer todas as nossas obras, orações, alegrias e sofrimentos a Ele. De fato, isso não pode ser feito, a não ser que tenhamos o auxílio de Sua Santa Mãe: “Rogai por nós, Santa Mãe de Deus”.

Se você é como eu e não tem vivido a vida católica tal como ela deve ser vivida, então renove comigo o compromisso de colocar essas coisas na agenda de sua prática diária, pois a alternativa é, na melhor das hipóteses, padecer uma dor incomparavelmente superior a qualquer sofrimento terreno e, na pior, a danação eterna. Se nos aplicarmos à prática da Agenda Católica, na hora derradeira a Santíssima Virgem Maria nos ajudará e, assim, seremos capazes de dizer o nosso Amém.

Trabalho, oração e sacrifício, eis a Agenda Católica. “Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte. Amém.”


Ajude nosso Apostolado pela compra de livros em nossa Loja. Aos anglófonos interessados, o livro que foi objeto de resumo acima também pode ser encontrado lá ou acessado diretamente por aqui. A meu ver, esse título é uma leitura essencial para o católico de hoje, o resumo acima foi uma modesta tentativa de chamar a atenção dos leitores para os méritos de sua obra.

De resto, adianto que John Senior é escritor exímio,  exprime suas ideias de forma rara e cativante, e que ideias! As propostas que ele traz para a Restauração da Cultura Cristã são medidas concretas, testadas e aprovadas pelo tempo, elas envolvem a nossa vida como um todo e são, sem dúvida, um grande desafio.  Quem deseja saber mais sobre ele, saiba que existe uma ótima introdução ao movimento educacional do qual ele fez parte em espanhol.

A Cruz Escondida

A CRUZ ESCONDIDA

Para André

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Se de mim a Cruz escondeu,
digo: quem é que te envia?
Será o filho de Maria,
que nela por nós padeceu?

Aquele que se ofereceu
pelo que nas trevas vivia,
o qual por si não merecia,
pois no pecado já nasceu?

Não penso que tal sucedeu,
pois se o fosse me diria:
“Só indo pela Sacra Via,
há de purgar o erro teu”.

Mas antes que me respondeu?
disse que melhor eu faria,
ficando na periferia,
vivendo qual um fariseu.

Achou que eu fosse nazireu,
me disse que arrependeria,
por não ter parte em orgia,
nem gastar bem o tempo meu.

Meu coração entristeceu
pela palavra que ouvia,
se não ouvisse, não creria,
que de tal boca procedeu.

Logo a razão esclareceu,
e vi tão claro como o dia:
A Cristo ele não servia,
ao Inimigo se rendeu.

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O Argumento do Papa Mau

Mas não houve sempre Papas maus?

O ARGUMENTO DO PAPA MAU

Esta é uma objeção muito comum quando se discute com aquelas desafortunadas almas que ainda acreditam que Jorge Bergoglio (“Francisco”) é o Papa da Igreja Católica: “Mas sempre houveram Papas maus!”. Essas pessoas nos levam a crer que elas não estão acostumadas ou são incapazes de distinguir católicos imorais de hereges.

Francisco não é um mau católico. Ele é um não católico. Eis o xis da questão. Logo, afirmar que houveram maus Papas no passado, alegando que mesmo assim eles foram Papas válidos, constitui um assunto totalmente diferente. Um homem que professa a Fé Católica toda e inteira, não importa quão perverso ele seja, permanece um membro da Igreja Católica. Mesmo que ele odeie a Deus, mesmo que ele seja um assassino ou um sodomita.

Deus o proíba, certamente! Uma tal pessoa, se ela não se arrepender em tempo, terá de padecer por uma eternidade no inferno. A sua pertença a Igreja não vai lhe ter servido de nada; sua fé, inteiramente morta pela falta de caridade, não vai salvá-la. O seu conhecimento da verdadeira fé somente vai aumentar a sua miséria no inferno, pois ela terá pecado com pleno conhecimento da perversidade de suas obras.

Sim, tudo isso é verdade. Mas tal pessoa, se fosse eleita ao papado, ainda seria um papa válido, porque o que impede alguém de ser validamente eleito ao papado não é a santidade, mas a profissão de heresia (entre outras coisas). Em outras palavras, o que o impede de ser um papa válido não é o cometimento de pecados contra a moral – senão ninguém poderia ser eleito, já que somos todos pecadores -, e aqui não importam quantos pecados ou quão graves eles sejam, mas o único impedimento é cometer pecados contra a Fé.

Este é um ensinamento católico e não há controvérsias quanto a ele. O Papa Pio XII explicou-o bem quando o expôs em sua autoritativa encíclica sobre a Igreja:

Como membros da Igreja contam-se realmente só aqueles que receberam o batismo e professam a verdadeira fé, nem se separaram voluntariamente do organismo do corpo, ou não foram dele cortados pela legítima autoridade em razão de culpas gravíssimas…

Não se deve, porém, julgar que o corpo da Igreja, por levar o nome de Cristo, já se constitui durante o tempo de sua peregrinação terrestre só de membros notáveis por sua santidade, ou só dos que de fato são por Deus predestinados à sempiterna felicidade. Por sua infinita misericórdia o Salvador não recusa lugar no seu Corpo Místico àqueles a quem o não recusou outrora no banquete (Mt 9,11; Mc 2,16; Lc 15,2). Nem todos os pecados, embora graves, são de sua natureza tais que separem o homem do corpo da Igreja como fazem os cismas, a heresia e a apostasia. Nem perdem de todo a vida sobrenatural os que pelo pecado perderam a caridade e a graça santificante e por isso se tornaram incapazes de mérito sobrenatural, mas conservam a fé e a esperança cristã, e alumiados pela luz celeste são divinamente estimulados com íntimas inspirações e moções do Espírito Santo ao temor salutar, à oração e ao arrependimento das suas culpas.

(Papa Pio XII, Encíclica Mystici Corporis, nn. 22-23.)

Note bem, senhoras e senhores: Os únicos pecados que por sua própria natureza separam um homem da Igreja, o Corpo Místico de Cristo, são os pecados de cisma, heresia e apostasia. Isso quer dizer que tais pecados são de tal sorte que cometê-los faz alguém se tornar um não católico. Um herege, afinal, professa uma religião diferente daquela do católico, e assim ele não pode ser um membro da Igreja, porque ninguém pode ser católico e não católico ao mesmo tempo. (O mesmo vale, a fortiori, para um apóstata. O cisma é um pouco diferente, mas disso não trataremos aqui).

Portanto, um cismático, herege ou apóstata não poderia ser um Papa válido, pois isso implicaria que alguém que não é membro do Corpo Místico possa, no entanto, ser a cabeça do Corpo Místico, o que é uma contradição.

A Enciclopédia Católica, composta durante o tempo do Papa São Pio X, afirma muito claramente: “Certamente, a eleição de um herege, cismático ou mulher seria nula e sem efeito.” (v. “Eleições Papais”).

A fim de apreciar quão importante e séria é essa diferença entre o mau católico e o não católico, examinemos o caso do Papa que foi absolutamente o mais imoral de toda a história da Igreja: o Papa João XII (o qual reinou de 950-963). Então Príncipe Otaviano (seu nome de batismo) foi eleito quando tinha apenas dezesseis anos de idade e foi um completo réprobo moral:

Nada em sua vida dispunha-o para o ofício, e tudo deveria tê-lo afastado dele. Ele raramente era visto na igreja. Seus dias e noites eram gastos na companhia de mancebos e mulheres de má fama, nos prazeres da mesa, nos divertimentos e na caça, ou mesmo nos mais pecaminosos prazeres carnais. Conta-se que, às vezes, no meio da folia dissoluta, o príncipe foi visto a oferecer um drink ao demônio. Eleito para o ofício papal, Otaviano mudou o seu nome e tomou o nome de João XII. Ele foi o primeiro papa a mudar de nome ao assumir o pontificado. Mas a nova dignidade não produziu mudanças em seus costumes, antes meramente servindo para acrescentar a culpa de sacrilégio.

A Divina Providência, velando pela Igreja, preservou miraculosamente o depósito da fé, do qual este jovem voluptuoso era o guardião. A vida deste Papa foi um escândalo monstruoso, mas seu bullarium é impecável. Não podemos admirar o suficiente este prodígio. Não existe um herege ou cismático que não tenha se esforçado para legitimar a sua própria conduta dogmaticamente. Fócio tentou justificar o seu orgulho, Lutero suas paixões sensuais, Calvino sua crueldade. Nem Sérgio III, nem João XII, nem Bento IX, nem Alexandre VI, sumos pontífices, definidores da fé, certos de serem ouvidos e obedecidos por toda a Igreja, proferiram, do alto do púlpito apostólico, uma única palavra que pudesse ser uma aprovação de suas desordens.

Por vezes, João XII mesmo se converteu em defensor da ameaçada ordem social, da lei canônica ofendida e da vida religiosa em perigo.

(Rev. Fernand Mourret, A History of the Catholic Church, Vol. 2 [St. Louis, MO: Herder Book Co., 1946], pp. 510-511; underlining added.)

Você entendeu?

Sim, podem existir papas maus realmente. Mas, no exercício de seu ofício, eles serão tão ortodoxos e católicos como os demais. Cristo o prometeu: “eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16,18).

Diferentemente do que muitos “tradicionalistas” vem dizendo por décadas, a Igreja não garante que terá um Papa o tempo todo; mas quando ela tem um, ela garante que este será católico. Isso é também evidente pelo fato do papa ser o princípio de unidade na Igreja e a regra próxima da Fé; ele é o fiador da ortodoxia e a ele todos se devem submeter como condição de sua salvação (v. Denz. 469). A ideia de que um herege possa ser um papa destoa de tudo isso.

À luz de tudo o que foi dito, considere essas belas citações sobre a autoridade e garantia de infalibilidade do Romano Pontífice:

A vigilância e a solicitude pastoral do Romano Pontífice… conforme os deveres de seu ofício, são principalmente e sobretudo manifestas no mantimento e conservação da unidade e integridade da fé católica, sem a qual é impossível agradar a Deus. Eles também se esforçam para que os fiéis de Cristo não sejam como filhos irresolutos, ou se deixando arrastar por qualquer sopro de doutrina em virtude da perversidade dos homens [Ef 4, 14], para que tudo concorra para a unidade da fé e o conhecimento do Filho de Deus a fim de formar o homem perfeito, para que eles não firam uns aos outros ou se ofendam entre si na comunidade e sociedade desta vida presente, mas que, em vez, unidos pelos laços da cidade como membros de um só corpo tendo Cristo por cabeça, e sob a autoridade de seu Vigário sobre a terra, o Romano Pontífice, sucessor do Bem-Aventurado Pedro, de quem derivou a unidade de toda a Igreja, eles possam crescer em número para a edificação do corpo, e com a assistência da graça divina, eles possam assim desfrutar de tranquilidade nesta vida, bem como da felicidade futura.

(Papa Bento XIV, Pastoralis Romani Pontificis, 30 de mar. 1741; em Papal Teachings: The Church, p. 31.)

A Santa Sé Apostólica e o Romano Pontífice tem a primazia no mundo inteiro. O Romano Pontífice é o Sucessor do Bem-Aventurado Pedro, o Príncipe dos Apóstolos, verdadeiro Vigário de Cristo, Cabeça de toda a Igreja, Pai e Mestre de todos os cristãos.

(Papa Bento XIV, Etsi Pastoralis, 26 mai. 1742; em Papal Teachings: The Church, p. 32.)

Só aos pastores foi dado todo o poder de ensinar, julgar, governar; sobre o fiel foi imposto o dever de seguir seus ensinamentos, submeter-se com docilidade ao seu juízo e de deixar-se governar, corrigidos e guiados por eles no caminho de salvação. É, pois, absolutamente necessário que o simples fiel se submeta de espírito e coração aos seus pastores, e que os últimos se submetam com eles ao Chefe e Pastor Supremo.

(Papa Leão XIII, Tua ao Cardeal Guibert, 17 jun. 1885; em Papal Teachings: The Church, p. 263.)

Ademais, Nós declaramos, proclamamos, definimos que é absolutamente necessário à salvação que toda a criatura humana se submeta ao Romano Pontífice.

(Papa Bonifácio VIII, Unam Sanctam, 18 nov. 1302.)

A união com a Sé Romana de Pedro é… sempre o critério público de um católico… “Não se pode crer que preservam na fé católica os que não ensinam a fé de Roma.”

(Papa Leão XIII, Satis Cognitum, n. 13.)

… o instrumento forte e eficaz de salvação não é outro senão o Pontificado Romano.

(Papa Leão XIII, Alocução de 20 fev. 1903; em Papal Teachings: The Church, p. 353.)

O quê? Você não tem ouvido essas coisas ultimamente de seu jornal, blog ou sacerdote favorito da Resistência? Não me diga. Tente aplicar as citações acima à seita do Vaticano II e seus “Papas” e você logo se dará conta de que isto não tem o menor cabimento. Francisco, mesmo nos seus atos oficiais, “o instrumento forte e eficaz de salvação”? Espere um pouquinho. Se existe qualquer coisa em que ele seja forte e eficaz é em causar danação.

Observe também o ensinamento dogmático do Concílio Vaticano I sobre a conexão entre o Papado e a verdadeira Fé, uma conexão que não é meramente acidental, mas essencial e necessária:

Procurando corresponder a este múnus pastoral, os nossos predecessores sempre dedicaram infatigável empenho à propagação da salutar doutrina de Cristo entre todos os povos da terra, e com igual solicitude vigiaram para que, onde fosse recebida, também fosse guardada pura e sem alteração. Pelo que os bispos de todo orbe […] referiram a esta Sé Apostólica principalmente os perigos que surgiam em assuntos de fé, a fim de que os danos da fé se ressarcissem especialmente aí, onde a fé não pode sofrer defeito. Os Romanos Pontífices, conforme lhes aconselhava a condição dos tempos e das circunstâncias, ora convocando Concílios ecumênicos ou ouvindo a opinião de toda Igreja dispersa pelo orbe, ora por sínodos particulares ou empregando outros meios que a divina providência lhes proporcionava, definiram que se devia sustentar aquilo que, com o auxílio de Deus, reconheceram ser conforme às Sagradas Escrituras a às tradições apostólicas. Pois o Espírito Santo não foi prometido aos sucessores de Pedro para que, por revelação sua, manifestassem uma nova doutrina, mas para que, com a sua assistência, conservassem santamente e expusessem fielmente a revelação transmitida pelos Apóstolos, ou seja, o depósito da fé. E, decerto, esta doutrina apostólica, todos os veneráveis Padres abraçaram-na e os santos ortodoxos Doutores a veneraram e seguiram, plenissimamente conscientes de que esta Sé de São Pedro sempre permaneceu intacta de todo erro, segundo a divina promessa de Nosso Senhor [e] Salvador feita ao chefe de seus discípulos: “Eu roguei por ti, para que tua fé não desfaleça; e tu, uma vez convertido, confirma teus irmãos.” [Lc 22,32].

(Concílio do Vaticano, Pastor Aeternus, n. 4; Denz. 1836.)

Chegou a hora de mudar de canal. Chegou a hora de parar de engolir a propaganda semitradicionalista produzida pelo The Remnant e seus primos. Chegou a hora de parar de dar apoio ao “Padre” Zuhlsdorf. Chegou a hora de parar de ler os apologistas pagos da seita modernista do Vaticano II. Chegou a hora, enfim, de desligar-se de Michael Voris.

[…]

Como católicos que somos, nós reconhecemos e distinguimos bem um João XII pervertido, mas católico de um Francisco legal, mas herético. Papa Pio IX lembra-nos disso mais uma vez:

Vós bem sabais que os inimigos mortais da religião católica têm sempre movido uma guerra feroz, mas sem sucesso, contra esta Cátedra; eles não são de nenhum modo ignorantes do fato de que a religião mesma jamais pode vacilar ou cair enquanto esta Cátedra permanecer intacta, a Cátedra que está assentada sobre a rocha que as orgulhosas portas do inferno não podem vencer e na qual existe a solidez integral e perfeita da religião cristã.

(Papa Pio IX, Encíclica Inter Multiplices, n. 7)

Mas a suposta “Cátedra de São Pedro” da seita do Vaticano II tem vacilado e caído; ela, portanto, não pode ser a verdadeira e genuína Cátedra de São Pedro.

Onde, então, está o verdadeiro Papa? Nós não o sabemos. Pelo que sabemos, nós não temos um Papa no momento. A Sé de Pedro tem estado vacante ou impedida desde 1958. Ela não está por certo sendo ocupada pelos impostores da Igreja do Vaticano II (João XXIII, Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II, Bento XVI e Francisco).

Mas tenha isto em mente: Embora a Igreja possa não ter sempre um Papa, ela sempre terá a verdadeira Fé. E, por essa razão só, nós sabemos que a seita do Vaticano II não pode ser a Igreja Católica de Nosso Senhor Jesus Cristo.


NOVUS ORDO WATCH. The “Bad Popes” Argument. Acesso em: 14 jun. 2017.

Sedevacantismo: a palavra e a coisa

[Neste artigo você encontra: Nove ressalvas sobre o termo sedevacantismo e três silogismos sedevacantistas. Ele foi revisto pela última vez a 21 de novembro de 2007. No entanto, observe que tudo o que foi dito sobre Bento-Ratzinger se aplica ainda mais ao caso de Francisco-Bergoglio.]

Sede vacante 2

Sou um católico puro e simples e permaneço como tal desde minha conversão do protestantismo há vinte e um anos atrás. Amo a Fé Católica e desejo somente professá-la em toda sua pureza e integridade. Amo a Igreja Católica e desejo somente e sempre ser um fiel membro dela, uma vez que ela definiu repetida e solenemente que fora dela não há salvação.

Todo católico tem o dever de necessariamente se opor e rejeitar todas aquelas pessoas ou coisas que não são compatíveis com o catolicismo. “Sedevacantismo” se tornou um rótulo infeliz (e impreciso) para designar a convicção dos católicos que estão persuadidos de que a adesão à Fé Católica ou à Igreja Católica em nosso tempo exige que se tenha João XXIII, Paulo VI, João Paulo I & II e Bento XVI como hereges e, portanto, antipapas. Isso implica a total rejeição das “reformas” ilicitamente promulgadas por eles, a saber: o Concílio Vaticano II, a Missa Nova e os demais sacramentos, o Código de Direito Canônico Novo, o Catecismo Novo, as canonizações novas (e.g. de Mons. Escrivá, Madre Teresa ente outras) etc.

É um indiscutível FATO que os católicos em muitos momentos críticos da história da Igreja tiveram de rejeitar tanto antipapas (houve mais de quarenta deles – muitos chegando mesmo a governar desde Roma) quanto conciliábulos (houve dezessete desses pretensos concílios).

Embora se tenha tornado aceitável rotular os católicos por esse título, na minha opinião o termo “sedevacantista” não é útil por várias razões:

1. O termo é desnecessário. Alguns poderiam pensar erroneamente que o “sedevacantismo” é um “ismo” diferente do “catolicismo”. Mas não é. O “sedevacantista” somente quer ser católico e nada mais: acreditar no que a Igreja sempre acreditou, observar o que os católicos sempre observaram, viver como os católicos sempre viveram. Portanto, nenhum “ismo” adicional é necessário.

2. O termo é desautorizado. Papas no passado instruíram os católicos a não fazerem uso de apelidos, devendo simplesmente chamar a si mesmos de “católicos”. Sobre esse respeito eu tenho em meu site uma frase do Papa Bento XV (não XVI!) extraída de sua encíclica Ad Beatissimi Apostolorum n. 24 (1914), onde ele diz: “Tal é a natureza do catolicismo que não existe meio-termo, ou se deve aceitá-lo integralmente, ou rejeitá-lo por completo: ‘Esta é a Fé Católica, quem não a professar fiel e firmemente não poderá se salvar’ (Credo Atanasiano). Não existe, portanto, necessidade de acrescentar quaisquer termos qualificativos na profissão do catolicismo. É o bastante para um e outro dizerem ‘cristão é meu nome e católico meu sobrenome’, cada qual se esforçando para sê-lo realmente.”

3. O termo é depreciativo. Ao rotularem com um “ismo” essa posição, aqueles que professam ser católicos negando o “sedevacantismo” podem pensar, na melhor das hipóteses, que é realmente possível professar plenamente a fé católica sem ele – uma conclusão claramente contestada por nós que defendemos o “sedevacantismo”. Na pior das hipóteses, os negadores concluem que os “sedevacantistas” não são católicos. Portanto, chamar de “sedevacantistas” àqueles que aceitam essa posição é, no mínimo, uma maneira de diminuir o alcance dessa doutrina ou, no pior dos casos, uma forma de demonizá-la.

4. O termo é prejudicial. Embora minha pesquisa sobre a origem do termo “sedevacantista” esteja em andamento, suspeito que esse foi um termo pejorativo cunhado pelos seus adversários e não pelos seus adeptos – com efeito, apenas um ariano chamaria de “atanasianos” os defensores da ortodoxia em vez de chamá-los simplesmente de “católicos”, título este que reservariam para si próprios.

5. O termo é impreciso. No Direito Canônico, quando um Papa morre e todos concordam com a necessidade de um conclave para eleger um sucessor, um estado de sede vacante é declarado pela Igreja. Contudo, uma situação completamente outra ocorre quando um homem que não é propriamente o Papa eleito ocupa ou presume ocupar a Sé de Pedro e que, por esta mesma razão, “impede” um verdadeiro papa de ocupá-la. O termo canônico para isso não é sede vacante, mas sede impedita, então se um apelido for necessário para classificar os que rejeitam Bento XVI et al., este deveria ser “sedeimpeditista” no lugar de “sedevacantista”.

6. O termo diz muito. Como um homem razoável, rejeito como demasiado ridículo (em face dessa questão) a alegação dos peseudopapas que se autoelegeram (tais como “Papa” Pio XIII, “Papa” Gregório XVII e “Papa” Miguel I etc.) de serem verdadeiros sucessores de São Pedro. (Embora, vale dizer, não considere a afirmação de Bento XVI e seus quatro predecessores de serem católicos e, portanto, papas, algo menos risível. Pio XIII e companhia pelo menos parecem ser católicos ortodoxos apesar de estarem muito longe de provar a legalidade dos seus respectivos “conclaves”)

Contudo, não descarto a possibilidade, em cumprimento de muitas profecias católicas, de existir um Papa “escondido” que Deus levantará num tempo oportuno para pôr fim à presente crise (tais profecias estão documentadas em livros como Catholic Prophecy de Yves Dupont; The Prophets and Our Times de Pe. Gerald Culleton; Prophecy for Today de Edward Connor, todos publicados pela TAN Books).

Eu, portanto, objeto o termo “sedevacantismo” sob o fundamento de que parece requerer de mim uma certa onisciência que não tenho quando obriga-me a postular que não existe um papa válido. Prefiro, contentar-me com a bem mais modesta afirmação de que, se um tal papa pode existir agora ou no futuro, posso estar certo, pela estrita aplicação de princípios católicos, que aquele homem que visivelmente afirma sê-lo (isto é, Bento XVI) não pode sê-lo definitivamente (veja os silogismos no final deste ensaio).

7. O termo diz pouco. Enquanto no ponto 6 eu sugeri que o termo “sedevacantista” diz muito, aqui sugiro que, paradoxalmente, o termo parece ao mesmo tempo dizer pouco – reduz a crise atual à “Questão do Papa”, isto é, se Bento XVI é ou não é um papa.

O fato é que todo aquele que defende a posição chamada de “sedevacantista” acredita que há muito mais coisas erradas do que simplesmente um antipapa ocupando a Sé de Pedro, como se a presente crise fosse completamente resolvida se um Papa ortodoxo fosse eleito amanhã. Se tal coisa ocorresse, a crise só se resolveria de modo incipiente, havendo muito trabalho a ser feito, pois o sedevacantista não crê apenas que existe um falso papa alegando ser o verdadeiro, mas também que existe uma falsa Missa e falsos Sacramentos, um falso Catecismo, um falso Código de Direito Canônico – em suma, o problema é que existe uma falsa “Igreja” afirmando ser a verdadeira Igreja Católica.

Ignorar esses grandes problemas e se fixar meramente sobre a ortodoxia ou falta de ortodoxia de Joseph Ratzinger é, portanto, um reducionismo absurdo.

8. O termo reúne grupos heterogêneos. Outro aspecto do reducionismo mencionado acima é o fato de que a rejeição de Ratzinger como um falso Papa NÃO é o princípio que une todos os verdadeiros católicos; o princípio de unidade é a posse e profissão da verdadeira Fé Católica.

O simples fato de considerar Ratzinger um usurpador não faz alguém se tornar automaticamente um católico; pelo contrário, se ele rejeita não somente Ratzinger, mas também dogmas politicamente incorretos como o Extra ecclesiam nulla salus (Fora da Igreja não há salvação), então esse sujeito não é um católico autêntico. Um mero repudiador de Ratzinger, portanto, não ascende automaticamente à sociedade sobrenatural de todos aqueles que, pela graça de Deus, possuem e professam a fé católica.

Essa observação permite descrever a falta de unidade entre os assim-chamados “sedevacantistas”, uma falta de unidade que os antisedevacantistas alegremente costumam apontar como justificativa de sua não adesão ao sedevacantismo. (Não é uma justificativa válida: aqueles que não são sedevacantistas apresentam entre si muito mais pontos de discórdia que os sedevacantistas, de fato, existe uma enorme quantidade de assuntos bem mais fundamentais que são aceitos por todos os “sedevacantistas”, inclusive entre os grupos mais antagônicos.)

9. O termo é acidental. Essa palavra não descreve a essência da fé católica, apenas descreve um acidente histórico extrínseco, a saber, que o homem que ocupa o trono de Pedro nesse momento não é, no entender dos católicos, um papa válido. Se algum dia ele morrer e for sucedido por um papa válido, a fé, o comportamento e a devoção desses católicos não mudaria num iota. Um dia atrás eram considerados “sedevacantistas” e no dia seguinte já não seriam mais! Como esperar, portanto, definir o conteúdo da fé católica com um termo que se aplica agora e não depois, quando o conteúdo de sua fé, de sua devoção e vida moral são imutáveis? O termo, na realidade, não descreve nada dentro da fé, somente descreve alguma coisa sobre o que está acontecendo fora da fé, isto é, se um papa válido ocupa a Sé de Pedro ou não. Todo historiador católico afirma que, quando de fato um antipapa usurpa a Igreja, a fé não foi por alterada por causa disso.


Tendo admitido tudo isso e em consideração do costume corrente, vou meio que a contragosto aceitar o uso do termo “sedevacantismo” – embora pense que seja indesejável, impreciso e inútil -, tomá-lo-ei como uma espécie de “atalho” pelo qual se chega à posição daqueles que (como eu) professam a fé católica e se sentem obrigados, como um aspecto necessário da profissão da fé nas circunstâncias atuais, a rejeitar como não católicos, não somente os homens que afirmam ser papas desde a morte de Pio XII em 1958, mas também as mudanças que esses homens introduziram na fé, na vida litúrgica e na moralidade dos católicos nos anos que se seguiram à morte de Pio XII.

OS TRÊS SILOGISMOS SEDEVACANTISTAS

A tese do “sedevacantismo” pode ser sucintamente afirmada em três argumentos silogísticos separados. Qualquer um dos três é suficiente para demonstrar que Bento XVI não pode ser um Papa, o que leva a crer que ele é um forte candidato ao posto do “antipapa alemão” da profecia, um homem que nos últimos tempos levará muitos para o erro (veja as antologias mencionadas acima). A combinação dos três, no entanto, constitui uma tese formidável. Os silogismos são os seguintes:

PRIMEIRO SILOGISMO

Quem não é um verdadeiro Bispo não pode ser um verdadeiro Papa

Ordenação de Ratzinger em 1977
Premissa Maior: Um homem que não foi validamente ordenado bispo não pode ser o bispo de Roma, isto é, ser o Papa. [Nota: um não bispo – mesmo um leigo – pode ser, e às vezes foi, eleito ao Papado, mas ele sempre tinha de receber as Ordens Sagradas para ascender, embora rapidamente, pelos graus da hierarquia eclesiástica antes de reinar como Papa.]

Premissa Menor: Mas Joseph Ratzinger não é um bispo validamente ordenado, tendo recebido (em maio de 1977) a ordenação episcopal segundo o comprovadamente inválido rito promulgado em junho de 1968 pelo antipapa Paulo VI. (Para uma demonstração completa do porquê o novo rito é inválido, leia o brilhante artigo de 12 páginas de Padre Anthony Cekada ou pelo menos o menos técnico sumário de duas páginas do mesmo.)

Conclusão: Logo, Joseph Ratzinger não pode ser um verdadeiro Papa.

SEGUNDO SILOGISMO

Quem não é católico não pode ser Papa

Ratzinger em Assis
Premissa Maior: Um herege manifesto não pode ser um verdadeiro papa.
[Veja o cânon 188.4 do Código de Direito Canônico de 1917, a bula Cum ex Apostolatus Officio de Paulo IV (1559) e o consenso unânime dos Padres e Doutores da Igreja, como é documentado nos artigos de Padre Cekada sobre o sedevacantismo no seu website: Traditional Latin Mass, como também nos artigos em Bellarmine Forums.]

Premissa Menor: Mas Joseph Ratzinger é um herege manifesto, como pode ser amplamente demonstrado tanto pelos seus escritos quanto pelas suas ações anteriores a sua “eleição” ao Papado. (Veja os artigos sobre Ratzinger em: Traditional Latin Mass, Novus Ordo Watch ou Moste Holy Family Monastery.)

Conclusão: Logo, Joseph Ratzinger não pode ser um verdadeiro Papa.

TERCEIRO SILOGISMO

Quem não está na verdadeira Igreja não pode ser o verdadeiro Papa

Bento XVI com cismáticos e protestantes
Premissa Maior: A cabeça de uma igreja não católica não pode ser a cabeça da Igreja Católica, isto é, o Papa.

Premissa Menor: Mas Joseph Ratzinger é a cabeça de um igreja não católica, nomeadamente a igreja do Vaticano II ou pós-conciliar, a natureza não católica de suas doutrinas, sacramentos e culto pode ser claramente demonstrada pela comparação destas com a Doutrina, os Sacramentos, o Culto e as Leis Perenes adotadas pela Igreja Católica pelos séculos (veja artigos sobre isso nos sites mencionados acima).

Conclusão: Logo, Joseph Ratzinger não pode ser a cabeça da Igreja Católica, isto é, o Papa.


Um observador astuto pode notar que a ordem em que coloquei os três silogismos vai do mais simples ao mais complexo: um silogismo demanda menos apoio material e exame, menos esforço mental e conclusões menos radicais do que o seguinte.

Existe mais, muito mais que pode ser dito sobre essa questão, e esperamos pela graça de Deus dizer tudo nos próximos dias, semanas, meses e anos (se for necessário).
[…]


MATATICS, Gerry. Is Gerry Matatics a ”sedevacantist”? Acesso em: 1 jul. 2018.

A Canção Conciliar

Sumário em verso dos feitos infames dos seis revolucionários de tiara e casula que desde Roma, por ocasião do cisma do Vaticano II, promoveram a destruição das instituições católicas e a ruína de muitas almas.

[JOÃO XXIII]

João XXIII o convocou,
da Santa Sé que usurpou,
qual comuna barato e virulento.

Louvado foi naquele dia,
por grãos da Maçonaria,
que em nada esconderam seu contento.

Ele os judeus abençoou,
e os ateus elogiou,
sem ter de convertê-los o intento.

[PAULO VI]

Montini então continuou,
o que Roncalli preparou
com seu maldito aggiornamento.

Deixando um legado cruel,
trocou a Igreja por Babel,
da confusão foi ele o instrumento.

A Missa Nova promulgou,
e outros ritos profanou,
aviltando a todo Sacramento.

[JOÃO PAULO I]

Seu sucessor durou um mês,
dos liberais sendo freguês,
não se achava de erro isento.

Não via no divórcio um mal,
somente do Banco Papal,
queria saber o procedimento.

Ao menos esse é o boato,
nem lhe deram ultimato,
mataram-no por envenenamento.

[JOÃO PAULO II]

Saindo ele deste mundo,
Deu sua vaga ao Segundo
João Paulo, polaco de nascimento.

Este então foi bom ator,
posou como conservador,
mas abraçou os erros do momento.

Beijando ora o Corão,
ora apoiando o pagão,
mostrou-se um herege de talento.

Um catecismo inventou,
e as novas leis que sancionou,
fizeram da heresia Mandamento.

Wojtyla viveu um tempão,
Mas garantiu a eleição,
D’outro amante do aggiornamento,

[BENTO XVI]

Quem do Concílio foi um ás,
seu porta-voz e capataz,
tomou para si nome de Bento.

Com seu Motu salafrário,
chamou de extraordinário
o Rito dos católicos de Trento.

Pondo, pois, em igualdade,
o certo co’a falsidade,
da Missa fez questão de sentimento.

Qual amante da mentira,
em Assis de volta unira,
os doutores do vão ensinamento.

Mas durou pouco quem diria,
quis ter aposentaria,
do ofício pedindo afastamento.

[FRANCISCO]

Eis que aí Chico Primeiro,
dentre todos mais ligeiro,
pôde dar ao erro prosseguimento.

Mostrando de forma boçal,
pra mídia internacional,
seu descaso pelo estabelecimento.

Quebrou assim regras e normas,
alegrou-se co’as “reformas”,
sem pudor e com todo atrevimento.

Dos pães a multiplicação,
tratou como superstição,
duvidando do Novo Testamento.

Sendo então tudo simbólico,
nem o seu Deus era católico,
nem seu Cristo tinha bom comportamento.

Pregando doutrina malsã,
confirmou mundo e Satã,
sem cumprir o Divino Mandamento.

[CONCLUSÃO]

Quem por erro ou costume,
trata tal boca d’estrume
como Papa ou Pedro do momento.

Saiba que nisso s’engana,
não pode mente profana,
ocupar um Apostólico Assento.

O que ele pode e faz,
tendo os cinco por detrás,
é do Bem desviar o desatento.

E se você quer se salvar,
Deve então abandonar,
A seita dessas cabeças de vento.

Leia também: O Papa e o Anticristo: A Grande Apostasia Predita

E também: A Revolução dentro da Igreja

E também: Os erros doutrinais do Concílio Vaticano II

Você é carismático ou católico?

VOCÊ É CARISMÁTICO OU CATÓLICO?

Renovação Carismática

DEZ ARGUMENTOS CATÓLICOS CONTRA A RENOVAÇÃO CARISMÁTICA

 

Atualizado a 16 set 2017
Revisto a 26 out 2018

Você é carismático ou católico? [PDF]

Aqui estão reunidos e resumidos dez argumentos contra as doutrinas e práticas da Renovação Carismática. Eles seguem de perto o artigo de Padre Raymond Taouk sobre o mesmo assunto. Todo carismático de boa fé deve lê-lo a fim de tomar consciência dos sérios problemas desse movimento.

I. O FALSO ECUMENISMO

“Não pode a árvore boa dar maus frutos, nem a árvore má dar bons frutos.” (Mt 7, 18)

Em primeiro lugar, o movimento carismático se funda no erro do falso ecumenismo. Como a história conta, o movimento começou com católicos buscando graças espirituais em um culto protestante. Ora, buscar santificação nas seitas protestantes é equivalente a buscar liberdade na cadeia, ou seja, trata-se de um empreendimento sem qualquer esperança de sucesso. E aqui não se trata de preconceito, mas apenas da aplicação do princípio de que não se pode dar aquilo que não se tem.

O Catecismo ensina que uma das notas que pertence a Igreja, e somente a ela, é a santidade. A Igreja é santa, ela é vivificada pelo Espírito Santo, a sua doutrina e disciplina são santas. Nela o cristão tem tudo o que precisa para se santificar, por isso muitos de seus membros são realmente santos (cf. Catecismo da Doutrina Cristã, n. 109).

Uma seita, seja ela qual for, passa a existir quando um grupo de pessoas resolvem negar ou relativizar essa verdade da Fé. Eles já não estão dispostos a manter que a Igreja Católica é a única santa, a única vivificada pelo Espírito Santo. Se o católico mantém a sua fé na Igreja, ele não vai buscar a santidade fora dela, pois não há – assim a Fé Católica o ensina e a experiência o comprova. Por outro lado, se ele não vê mal algum em buscar graças espirituais fora da Igreja, então ele já concordou com aqueles que dizem que a santidade não é uma propriedade exclusiva da Igreja e assim ele já abandonou a Fé Católica nesse mesmo ato. Esse foi o caminho tomado pelo movimento carismático desde suas origens, seus membros são o que são graças ao pecado do falso ecumenismo.

II. OS SINAIS DE POSSESSÃO DEMONÍACA

Infelizmente o falso ecumenismo não é um erro exclusivo dos carismáticos, de modo que todos que aceitam o Vaticano II estão dispostos a manter que existem verdadeiros “elementos de santificação” fora da Igreja. Enquanto o católico pode e deve negar essa afirmação por que a Igreja sempre ensinou o contrário, e a verdade não pode contradizer a si mesma, ainda assim é possível confirmar a verdade da Fé com o auxílio da razão e da experiência. Os argumentos seguintes explicam por que as práticas e doutrinas dos carismáticos de fato não são santas. Comecemos pelas práticas.

A primeira coisa a ser notada é que os carismas de que eles tanto falam não são sinais certos da presença do Espírito Santo, mas são, em vez, fortes indícios de possessão demoníaca.

“De acordo com o Ritual Romano, outros sinais de possessão incluem ‘a habilidade de falar com certa familiaridade em uma língua estranha ou entendê-la quando falada por outro; a faculdade de adivinhar o futuro e eventos ocultos; e a exibição de poderes que estão além da idade e condição natural do sujeito'”.

(Joseph Ecanem, Ph.D., Demonic Possession, p. 23).

Qualquer um que já tenha ido a um Grupo de Oração da Renovação Carismática sabe muito bem que são exatamente esses “sinais de possessão” que eles usam para atestar a presença do Espírito. Não se pode de todo negar que seja um espírito, mas será que é o Santo?

III. A ORDEM E A DECÊNCIA

Como visto acima, a posse mesma dos carismas já é um problema. Mas o problema com as práticas carismáticas vai muito além. O comportamento deles por si só revela a falta de santidade do movimento. De maneira geral, uma prática que conduz a desobediência deve ser evitada, mesmo que ela seja boa em si mesma. Por exemplo, comer carne é um ato bom em si mesmo, mas fazê-lo em dia de abstinência é pecado; não porque comer carne seja mau em si mesmo, mas simplesmente por causa da desobediência ao preceito. Enquanto a Igreja Católica sempre ensinou o princípio da ordem e da submissão, os carismáticos preferem o caminho inverso. Embora a maior parte de seus líderes tenham conhecimento da Sagrada Escritura, eles se fazem surdos ao expresso mandato de São Paulo: “faça-se tudo com decência, e com ordem.” (1 Cor 14, 40).

A bagunça e extravagância é uma nota inconfundível de qualquer reunião carismática digna do nome. Quem conviveu, sabe muito bem disso. Não é o mau carismático que ignora a ordem e a decência, mas é o carismático tal e qual. “As mulheres estejam caladas nas igrejas, por que não lhes é permitido falar, mas devem estar sujeitas, como também o ordena a lei.” (1 Cor 14, 34), eis outro preceito simplesmente ignorado por eles em suas reuniões.

IV. CURA FÍSICA

Os carismáticos põem enorme ênfase sobre a “cura física” e dizem ao povo que Deus não quer ninguém doente, encorajando as pessoas a pedirem cura e milagres o tempo todo, tudo daquele jeitinho bem barulhento, com imposição de mãos, musica alta e assim por diante. Eles não possuem um sólido fundamento para pensar desse modo, pois na Igreja de Deus sempre se ensinou que sofrer tais privações com resignação é coisa edificante e meritória. Eis o belíssimo exemplo de São Paulo:

“E para que a grandeza das revelações me não ensoberbecesse, permitiu Deus que eu sentisse na minha carne um estímulo, que é o anjo de Satanás, para me esbofetear. Por cuja causa roguei ao Senhor três vezes que ele se apartasse de mim. E então me disse: Basta-te a minha graça, porque a virtude se aperfeiçoa na enfermidade. Portanto de boa vontade me gloriarei nas minhas enfermidades, para que habite em mim a virtude de Cristo. Pelo que sinto complacência nas minhas enfermidades, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições, nas angústias por Cristo; porque quando estou enfermo, então estou forte.”

(2 Coríntios 12, 7-10)

V. O ENGRANDECIMENTO DO ESPÍRITO SANTO

A Renovação Carismática se gaba de ter chamado a atenção para o Espírito Santo, aquele que era o “Deus desconhecido” da Igreja pré-Vaticano II. Muito bem, mas e se eu lhe contar que o Espírito Santo não chama a atenção para si, mas para o mistério de Cristo? “Quando vier porém aquele Espírito de verdade, ele vos ensinará todas as verdades, porque ele não falará de si mesmo, mas dirá tudo o que tiver ouvido, e anunciar-vos-á as coisas que estão para vir. Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu, e vo-lo há de anunciar.” (Jo 16, 13).

VI. O FALSO BATISMO NO ESPÍRITO SANTO

O Espírito Santo planta na alma os seus sete dons e a as virtudes infusas a fim de glorificar a Cristo. O carismático não entende essas coisas e, pior ainda, toma a sua “experiência mística” como certeza da graça recebida. Em outras palavras, ele eleva uma provável possessão demoníaca ou, na melhor das hipóteses, uma mera intensificação de suas emoções, ao grau de Sacramento.

De fato, o Catecismo ensina que somente os Sacramentos são sinais sensíveis que garantem o recebimento da graça (cf. Catecismo da Doutrina Cristã, n. 268). Ora, o que um carismático poderá negar na teoria, ele não será capaz de fazer na prática. O sucesso deste movimento consiste basicamente no fato de que as pessoas realmente identificam suas experiências ou emoções com a certeza da graça recebida.

VII. ORGULHO E ENGANO

Tal identificação da experiência com a graça não é livre de consequências para a vida espiritual dessas pessoas. Os grandes mestres espirituais sempre alertaram sobre o grande perigo que se corre ao se buscar tais manifestações.

“Os êxtases, as visões e as revelações não são de jeito nenhum um argumento inconteste da permanência ou assistência de Deus em uma alma. Quantos se viram que foram enganados com esses tipos de visões? Embora tenham sido a causa de conversão ou mesmo de salvação de algumas almas, é um estratagema do espírito maligno que fica contente em perder um pouco para ganhar muito.”

(São Vicente Ferrer, Tratado da Vida Espiritual, II Parte, cap. VIII in: GAUDRON, Mathias. Catecismo Católico da Crise na Igreja. Rio de Janeiro: Permanência, 2011, p. 202.)

São João da Cruz, o grande Doutor Místico da Igreja, partilha da mesma opinião:

“Assim, o demônio fica muito contente de que uma alma deseja revelações ou que a veja inclinada a isso. Porque tem então uma ocasião fácil de lhe sugerir seus erros e de a desviar da Fé tanto quanto puder. Pois [como eu disse] a alma que deseja essas revelações se coloca em uma disposição muito contrária à Fé e atrai para si muitas tentações e muitos perigos.”

(São João da Cruz, A Subida do Carmelo, livro II, cap. 11 in: ibidem.)

VIII. MENOSPREZO PELAS VERDADEIRAS FONTES DA GRAÇA

A Renovação Carismática procura a “abundância” ou o “derramamento” do Espírito Santo. Mas onde está, com certeza, a graça do Espírito Santo? Nos Sacramentos. Logo, a santificação se torna mais frutuosa quando o fiel recebe esses mesmos Sacramentos com as devidas disposições.

Dentre os Sacramentos, a Igreja sempre afirmou que o mais poderoso derramamento da graça divina acontece quando o Santo Sacrifício da Missa é oferecido. Eis aí o manancial da graça que eles deveriam procurar, eis aí a oração oficial da Santa Igreja, na qual Cristo Mesmo intercede por nós continuamente (Heb 7, 25).

A Igreja também ensina que o derramamento das graças espirituais não se limita somente aos Sacramentos, mas também se pode obter pelos Sacramentais (água benta, escapulário, bençãos) e pelas devoções aprovadas e vivamente encorajadas pela Igreja – de modo particular a devoção ao Sagrado Coração de Jesus e à Santíssima Virgem Maria.

A propósito, os carismáticos do Brasil são notáveis pela promoção que fazem da falsa devoção à Divina Misericórdia. Essa devoção é a grande responsável pelo abandono das duas devoções mencionadas acima. Eles prestam culto a um Jesus falso, sem chagas, que esconde o seu Sacratíssimo Coração; eles recitam preces bem curtinhas para esse falso Jesus usando as dezenas que os católicos usam para recitar o Santo Rosário.

Canção Nova Misericórdia

IX. NÃO HÁ SEGUNDO PENTECOSTES

Os mais prudentes falam em renovação de Pentecostes, os mais ousados em Segundo Pentecostes, tanto um como outro ignoram o que foi o primeiro Pentecostes. O primeiro e último Pentecostes foi estabelecido com o propósito de cumprir a promessa feita por Nosso Senhor de enviar o Espírito Santo (Jo 15, 26) confirmando aos olhos de todos a origem divina da Igreja, que foi estabelecida de uma vez por todas para a redenção do gênero humano. Uma “segunda experiência” de Pentecostes não é de todo necessária.

De modo muito concreto, a presença do Espírito se manifestou na primeira pregação pública dos Apóstolos, onde pessoas de diferentes lugares foram capazes de compreender o discurso dos Apóstolos em sua própria língua (cf. At 2, 4). Em nenhum lugar nos Atos dos Apóstolos se alude ao estranho fenômeno de pessoas falando em línguas incompreensíveis e, portanto, inúteis aos ouvintes (1Cor 14, 11); tampouco se encontra qualquer alusão à agitação incontrolável, desmaios repentinos e outras coisas mirabolantes que só se podem encontrar nas ditas renovações de Pentecostes dos carismáticos.

Assim é porque os Apóstolos eram bons católicos, viviam segundo a modéstia cristã, procediam com ordem e decência, sabendo que Deus se manifesta na brisa do silêncio (3 Rs 19, 12). Além do mais, os carismas que possuíam não foram empregados para o “avivamento” de si próprios, mas para o estabelecimento da Igreja, isto é, para convencer as pessoas de que a Igreja Católica procedia de Deus. Santo Agostinho e São Gregório explicavam que tais maravilhas não eram mais necessárias em seu tempo, porque a Igreja já falava a língua de todas as nações e não havia mais qualquer motivo plausível para desconfiar de sua origem divina. Muito mais razão temos nós para dizê-lo hoje.

X. AS IRMÃS DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA

Abaixo segue uma pequena lista com as heresias-irmãs da Renovação Carismática e um breve comparativo entre elas e a dita cuja. Os erros dessas heresias já foram previamente condenados pela Igreja.

  • Nova Era, um movimento sincrético que usa a experiência pessoal de seus membros como fator de unificação: a Nova Era não possui dogmas, só “carismas”. Eles são, naturalmente, adeptos da doutrina carismática do “batismo no Espírito”. Insistimos novamente, qual espírito?
  • Messalianismo, uma heresia que teve origem na Mesopotâmia em 360 A.D. Segundo eles, os Sacramentos não comunicavam a graça. O único poder espiritual é a oração que leva a posse do Espírito Santo. Com um pequeno esforço de imaginação podemos vê-los, ao som de guitarra e tamborim, cantando “Eu tomo posse da graça de Deus” com as mãos para o alto, entre palminhas e gritarias, tal qual acontece nas reuniões carismáticas.
  • Montanismo, heresia segundo a qual o Espírito Santo teria suplantado a Revelação de Cristo. Agora ele estaria completando-a mediante “um novo derramamento do Espírito Santo”. O seu fundador, Montano também possuía o “dom de línguas”. Algo familiar?
  • Protestantismo, uma heresia que teve início com Martinho Lutero em 1517. Ela nega a existência de uma Igreja hierárquica visível, mas sustenta que existe uma sociedade invisível, a “Igreja espiritual dos crentes”. Ela também sustenta que é dado a cada crente a inspiração profética para interpretar a Palavra de Deus infalivelmente. O movimento pentecostal, que deu origem a Renovação Carismática, é um dos muitos frutos podres nascidos dessa árvore.
  • Jansenismo, uma heresia do século XVI que tentou incorporar os erros do protestantismo dentro da Fé Católica. Eles confundiram a graça com o sentimento de consolação, afirmando que só aqueles que são totalmente espirituais podem se salvar. Essa doutrina lhes permitia viver longe dos Sacramentos, entregando-se totalmente a “graça de Deus”. Novamente aqui os Sacramentos, a principal fonte da graça santificante, são trocados pelos sentimentos.

Fica assim comprovado que o Renovação Carismática é má em si mesma. As doutrinas e práticas carismáticas são errôneas e nocivas ao bem comum. A Igreja, cuja missão é dar testemunho da verdade, não pode aceitar esse movimento em seu seio.

No mundo tereis tribulações

Mãe depois do parto do filho

Sofre a mãe de dores e abrolhos,
Dando à luz ao filho bem-amado,
Tudo fica, porém, recompensado,
Depois que nele repousar seus olhos.

Não há dores, sofrimentos, escolhos,
Sentidos n’algum tempo já passado,
Que não conduzirão a Bem dobrado:
Os teus padecimentos são teus sólios.

Se o gládio da dor tem transpassado,
O pobre coração do homem justo,
Saibam que é um bem-aventurado.

O que perseverar a todo custo,
A viver de modo mais abnegado,
Vai de Deus lograr o prêmio mais augusto.

A Virgem Formosa

Imaculado Coração de Maria

A alvura dos lírios campestres,
o perfume da mais bela rosa,
o verdor das folhagens silvestres
são imagens da Virgem Formosa.

Imagens que artistas e mestres
pintam nas telas, dizem em prosa…
mas o que são tais obras terrestres,
comparadas a Virgem Formosa?

Nem mesmo a mais linda das flores,
nem a doce e rútila aurora
pode igualar seus esplendores!

Tudo que falam desta Senhora
são humildes e parvos louvores
Ante a Graça que nela vigora!

Os profetas de Roncalli

Pairou no mundo estranha profecia,
que não trouxe mais vaticínio grave,
nem denunciou em plena luz do dia
as obras que ao Bem eram entrave.

Eis que ao modernismo enaltecia,
tratava como bênção o enclave
do reinado da geral Apostasia,
onde jazia a Petrina Chave.
.
“Progresso, o cassar da hipocrisia!”,
bradavam do altar até a nave,
tais profetas vibrantes de euforia.

E assim, com voz séria ou mais suave,
pregavam toda sorte de heresia,
sem jamais, do olho, tirar a trave!