Sedevacantismo: a palavra e a coisa

[Neste artigo você encontra: Nove ressalvas sobre o termo sedevacantismo e três silogismos sedevacantistas. Ele foi revisto pela última vez a 21 de novembro de 2007. No entanto, observe que tudo o que foi dito sobre Bento-Ratzinger se aplica ainda mais ao caso de Francisco-Bergoglio.]

Sede vacante 2

Sou um católico puro e simples e permaneço como tal desde minha conversão do protestantismo há vinte e um anos atrás. Amo a Fé Católica e desejo somente professá-la em toda sua pureza e integridade. Amo a Igreja Católica e desejo somente e sempre ser um fiel membro dela, uma vez que ela definiu repetida e solenemente que fora dela não há salvação.

Todo católico tem o dever de necessariamente se opor e rejeitar todas aquelas pessoas ou coisas que não são compatíveis com o catolicismo. “Sedevacantismo” se tornou um rótulo infeliz (e impreciso) para designar a convicção dos católicos que estão persuadidos de que a adesão à Fé Católica ou à Igreja Católica em nosso tempo exige que se tenha João XXIII, Paulo VI, João Paulo I & II e Bento XVI como hereges e, portanto, antipapas. Isso implica a total rejeição das “reformas” ilicitamente promulgadas por eles, a saber: o Concílio Vaticano II, a Missa Nova e os demais sacramentos, o Código de Direito Canônico Novo, o Catecismo Novo, as canonizações novas (e.g. de Mons. Escrivá, Madre Teresa ente outras) etc.

É um indiscutível FATO que os católicos em muitos momentos críticos da história da Igreja tiveram de rejeitar tanto antipapas (houve mais de quarenta deles – muitos chegando mesmo a governar desde Roma) quanto conciliábulos (houve dezessete desses pretensos concílios).

Embora se tenha tornado aceitável rotular os católicos por esse título, na minha opinião o termo “sedevacantista” não é útil por várias razões:

1. O termo é desnecessário. Alguns poderiam pensar erroneamente que o “sedevacantismo” é um “ismo” diferente do “catolicismo”. Mas não é. O “sedevacantista” somente quer ser católico e nada mais: acreditar no que a Igreja sempre acreditou, observar o que os católicos sempre observaram, viver como os católicos sempre viveram. Portanto, nenhum “ismo” adicional é necessário.

2. O termo é desautorizado. Papas no passado instruíram os católicos a não fazerem uso de apelidos, devendo simplesmente chamar a si mesmos de “católicos”. Sobre esse respeito eu tenho em meu site uma frase do Papa Bento XV (não XVI!) extraída de sua encíclica Ad Beatissimi Apostolorum n. 24 (1914), onde ele diz: “Tal é a natureza do catolicismo que não existe meio-termo, ou se deve aceitá-lo integralmente, ou rejeitá-lo por completo: ‘Esta é a Fé Católica, quem não a professar fiel e firmemente não poderá se salvar’ (Credo Atanasiano). Não existe, portanto, necessidade de acrescentar quaisquer termos qualificativos na profissão do catolicismo. É o bastante para um e outro dizerem ‘cristão é meu nome e católico meu sobrenome’, cada qual se esforçando para sê-lo realmente.”

3. O termo é depreciativo. Ao rotularem com um “ismo” essa posição, aqueles que professam ser católicos negando o “sedevacantismo” podem pensar, na melhor das hipóteses, que é realmente possível professar plenamente a fé católica sem ele – uma conclusão claramente contestada por nós que defendemos o “sedevacantismo”. Na pior das hipóteses, os negadores concluem que os “sedevacantistas” não são católicos. Portanto, chamar de “sedevacantistas” àqueles que aceitam essa posição é, no mínimo, uma maneira de diminuir o alcance dessa doutrina ou, no pior dos casos, uma forma de demonizá-la.

4. O termo é prejudicial. Embora minha pesquisa sobre a origem do termo “sedevacantista” esteja em andamento, suspeito que esse foi um termo pejorativo cunhado pelos seus adversários e não pelos seus adeptos – com efeito, apenas um ariano chamaria de “atanasianos” os defensores da ortodoxia em vez de chamá-los simplesmente de “católicos”, título este que reservariam para si próprios.

5. O termo é impreciso. No Direito Canônico, quando um Papa morre e todos concordam com a necessidade de um conclave para eleger um sucessor, um estado de sede vacante é declarado pela Igreja. Contudo, uma situação completamente outra ocorre quando um homem que não é propriamente o Papa eleito ocupa ou presume ocupar a Sé de Pedro e que, por esta mesma razão, “impede” um verdadeiro papa de ocupá-la. O termo canônico para isso não é sede vacante, mas sede impedita, então se um apelido for necessário para classificar os que rejeitam Bento XVI et al., este deveria ser “sedeimpeditista” no lugar de “sedevacantista”.

6. O termo diz muito. Como um homem razoável, rejeito como demasiado ridículo (em face dessa questão) a alegação dos peseudopapas que se autoelegeram (tais como “Papa” Pio XIII, “Papa” Gregório XVII e “Papa” Miguel I etc.) de serem verdadeiros sucessores de São Pedro. (Embora, vale dizer, não considere a afirmação de Bento XVI e seus quatro predecessores de serem católicos e, portanto, papas, algo menos risível. Pio XIII e companhia pelo menos parecem ser católicos ortodoxos apesar de estarem muito longe de provar a legalidade dos seus respectivos “conclaves”)

Contudo, não descarto a possibilidade, em cumprimento de muitas profecias católicas, de existir um Papa “escondido” que Deus levantará num tempo oportuno para pôr fim à presente crise (tais profecias estão documentadas em livros como Catholic Prophecy de Yves Dupont; The Prophets and Our Times de Pe. Gerald Culleton; Prophecy for Today de Edward Connor, todos publicados pela TAN Books).

Eu, portanto, objeto o termo “sedevacantismo” sob o fundamento de que parece requerer de mim uma certa onisciência que não tenho quando obriga-me a postular que não existe um papa válido. Prefiro, contentar-me com a bem mais modesta afirmação de que, se um tal papa pode existir agora ou no futuro, posso estar certo, pela estrita aplicação de princípios católicos, que aquele homem que visivelmente afirma sê-lo (isto é, Bento XVI) não pode sê-lo definitivamente (veja os silogismos no final deste ensaio).

7. O termo diz pouco. Enquanto no ponto 6 eu sugeri que o termo “sedevacantista” diz muito, aqui sugiro que, paradoxalmente, o termo parece ao mesmo tempo dizer pouco – reduz a crise atual à “Questão do Papa”, isto é, se Bento XVI é ou não é um papa.

O fato é que todo aquele que defende a posição chamada de “sedevacantista” acredita que há muito mais coisas erradas do que simplesmente um antipapa ocupando a Sé de Pedro, como se a presente crise fosse completamente resolvida se um Papa ortodoxo fosse eleito amanhã. Se tal coisa ocorresse, a crise só se resolveria de modo incipiente, havendo muito trabalho a ser feito, pois o sedevacantista não crê apenas que existe um falso papa alegando ser o verdadeiro, mas também que existe uma falsa Missa e falsos Sacramentos, um falso Catecismo, um falso Código de Direito Canônico – em suma, o problema é que existe uma falsa “Igreja” afirmando ser a verdadeira Igreja Católica.

Ignorar esses grandes problemas e se fixar meramente sobre a ortodoxia ou falta de ortodoxia de Joseph Ratzinger é, portanto, um reducionismo absurdo.

8. O termo reúne grupos heterogêneos. Outro aspecto do reducionismo mencionado acima é o fato de que a rejeição de Ratzinger como um falso Papa NÃO é o princípio que une todos os verdadeiros católicos; o princípio de unidade é a posse e profissão da verdadeira Fé Católica.

O simples fato de considerar Ratzinger um usurpador não faz alguém se tornar automaticamente um católico; pelo contrário, se ele rejeita não somente Ratzinger, mas também dogmas politicamente incorretos como o Extra ecclesiam nulla salus (Fora da Igreja não há salvação), então esse sujeito não é um católico autêntico. Um mero repudiador de Ratzinger, portanto, não ascende automaticamente à sociedade sobrenatural de todos aqueles que, pela graça de Deus, possuem e professam a fé católica.

Essa observação permite descrever a falta de unidade entre os assim-chamados “sedevacantistas”, uma falta de unidade que os antisedevacantistas alegremente costumam apontar como justificativa de sua não adesão ao sedevacantismo. (Não é uma justificativa válida: aqueles que não são sedevacantistas apresentam entre si muito mais pontos de discórdia que os sedevacantistas, de fato, existe uma enorme quantidade de assuntos bem mais fundamentais que são aceitos por todos os “sedevacantistas”, inclusive entre os grupos mais antagônicos.)

9. O termo é acidental. Essa palavra não descreve a essência da fé católica, apenas descreve um acidente histórico extrínseco, a saber, que o homem que ocupa o trono de Pedro nesse momento não é, no entender dos católicos, um papa válido. Se algum dia ele morrer e for sucedido por um papa válido, a fé, o comportamento e a devoção desses católicos não mudaria num iota. Um dia atrás eram considerados “sedevacantistas” e no dia seguinte já não seriam mais! Como esperar, portanto, definir o conteúdo da fé católica com um termo que se aplica agora e não depois, quando o conteúdo de sua fé, de sua devoção e vida moral são imutáveis? O termo, na realidade, não descreve nada dentro da fé, somente descreve alguma coisa sobre o que está acontecendo fora da fé, isto é, se um papa válido ocupa a Sé de Pedro ou não. Todo historiador católico afirma que, quando de fato um antipapa usurpa a Igreja, a fé não foi por alterada por causa disso.


Tendo admitido tudo isso e em consideração do costume corrente, vou meio que a contragosto aceitar o uso do termo “sedevacantismo” – embora pense que seja indesejável, impreciso e inútil -, tomá-lo-ei como uma espécie de “atalho” pelo qual se chega à posição daqueles que (como eu) professam a fé católica e se sentem obrigados, como um aspecto necessário da profissão da fé nas circunstâncias atuais, a rejeitar como não católicos, não somente os homens que afirmam ser papas desde a morte de Pio XII em 1958, mas também as mudanças que esses homens introduziram na fé, na vida litúrgica e na moralidade dos católicos nos anos que se seguiram à morte de Pio XII.

OS TRÊS SILOGISMOS SEDEVACANTISTAS

A tese do “sedevacantismo” pode ser sucintamente afirmada em três argumentos silogísticos separados. Qualquer um dos três é suficiente para demonstrar que Bento XVI não pode ser um Papa, o que leva a crer que ele é um forte candidato ao posto do “antipapa alemão” da profecia, um homem que nos últimos tempos levará muitos para o erro (veja as antologias mencionadas acima). A combinação dos três, no entanto, constitui uma tese formidável. Os silogismos são os seguintes:

PRIMEIRO SILOGISMO

Quem não é um verdadeiro Bispo não pode ser um verdadeiro Papa

Ordenação de Ratzinger em 1977
Premissa Maior: Um homem que não foi validamente ordenado bispo não pode ser o bispo de Roma, isto é, ser o Papa. [Nota: um não bispo – mesmo um leigo – pode ser, e às vezes foi, eleito ao Papado, mas ele sempre tinha de receber as Ordens Sagradas para ascender, embora rapidamente, pelos graus da hierarquia eclesiástica antes de reinar como Papa.]

Premissa Menor: Mas Joseph Ratzinger não é um bispo validamente ordenado, tendo recebido (em maio de 1977) a ordenação episcopal segundo o comprovadamente inválido rito promulgado em junho de 1968 pelo antipapa Paulo VI. (Para uma demonstração completa do porquê o novo rito é inválido, leia o brilhante artigo de 12 páginas de Padre Anthony Cekada ou pelo menos o menos técnico sumário de duas páginas do mesmo.)

Conclusão: Logo, Joseph Ratzinger não pode ser um verdadeiro Papa.

SEGUNDO SILOGISMO

Quem não é católico não pode ser Papa

Ratzinger em Assis
Premissa Maior: Um herege manifesto não pode ser um verdadeiro papa.
[Veja o cânon 188.4 do Código de Direito Canônico de 1917, a bula Cum ex Apostolatus Officio de Paulo IV (1559) e o consenso unânime dos Padres e Doutores da Igreja, como é documentado nos artigos de Padre Cekada sobre o sedevacantismo no seu website: Traditional Latin Mass, como também nos artigos em Bellarmine Forums.]

Premissa Menor: Mas Joseph Ratzinger é um herege manifesto, como pode ser amplamente demonstrado tanto pelos seus escritos quanto pelas suas ações anteriores a sua “eleição” ao Papado. (Veja os artigos sobre Ratzinger em: Traditional Latin Mass, Novus Ordo Watch ou Moste Holy Family Monastery.)

Conclusão: Logo, Joseph Ratzinger não pode ser um verdadeiro Papa.

TERCEIRO SILOGISMO

Quem não está na verdadeira Igreja não pode ser o verdadeiro Papa

Bento XVI com cismáticos e protestantes
Premissa Maior: A cabeça de uma igreja não católica não pode ser a cabeça da Igreja Católica, isto é, o Papa.

Premissa Menor: Mas Joseph Ratzinger é a cabeça de um igreja não católica, nomeadamente a igreja do Vaticano II ou pós-conciliar, a natureza não católica de suas doutrinas, sacramentos e culto pode ser claramente demonstrada pela comparação destas com a Doutrina, os Sacramentos, o Culto e as Leis Perenes adotadas pela Igreja Católica pelos séculos (veja artigos sobre isso nos sites mencionados acima).

Conclusão: Logo, Joseph Ratzinger não pode ser a cabeça da Igreja Católica, isto é, o Papa.


Um observador astuto pode notar que a ordem em que coloquei os três silogismos vai do mais simples ao mais complexo: um silogismo demanda menos apoio material e exame, menos esforço mental e conclusões menos radicais do que o seguinte.

Existe mais, muito mais que pode ser dito sobre essa questão, e esperamos pela graça de Deus dizer tudo nos próximos dias, semanas, meses e anos (se for necessário).
[…]


MATATICS, Gerry. Is Gerry Matatics a ”sedevacantist”? Acesso em: 1 jul. 2018.

6 comentários em “Sedevacantismo: a palavra e a coisa

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