Qual é a doutrina católica sobre os judeus?

Qual é a doutrina católica sobre os judeus [PDF]

1. Papa Bento XIV
Contudo, não estão tentando observar os preceitos da antiga lei que, como todos sabem, foi revogada pela vinda de Cristo… A primeira consideração a ser feita é que as cerimônias da lei mosaica foram ab-rogadas com a vinda de Cristo e que elas já não podem ser observadas sem pecado depois da promulgação do Evangelho. (Papa Bento XIV, Ex Quo Primum, nn. 59 e 61, 1 mar. 1756)

1. João Paulo II
A primeira dimensão desse diálogo é que o encontro entre o povo da Antiga Aliança, nunca revogada por Deus, e aquele da Nova Aliança é, ao mesmo tempo, um diálogo dentro de nossa Igreja, por assim dizer, entre a primeira e segunda parte de sua Bíblia. (João Paulo II, Alocução aos Judeus da Alemanha Ocidental, 17 nov. 1980)

2. Sagrada Escritura
Por isso é que o Filho de Deus entrando no mundo, diz: Tu não quiseste hóstia nem oblação, mas tu me formaste um corpo. Os holocaustos pelo pecado não te agradaram. Então disse eu: Eis aqui venho; no princípio do livro está escrito de mim: Para fazer, ó Deus, a tua vontade. Dizendo acima: Porque tu não quiseste as hóstias, e as oblações, e os holocaustos pelo pecado, nem te são agradáveis as coisas que se oferecem segundo a lei, então disse eu: Eis aqui venho, para fazer, ó Deus, a tua vontade; tira o primeiro para estabelecer o segundo. Na qual vontade somos santificados, pela oferenda do corpo de Jesus Cristo feita uma vez. (Hebreus 10, 5-10)

2. Novo Catecismo
O Antigo Testamento é parte indispensável da Sagrada Escritura. Seus livros são divinamente inspirados e conservam um valor permanente, pois a Antiga Aliança nunca foi revogada. (João Paulo II, Novo Catecismo da Igreja Católica, n. 121) “O Catecismo da Igreja Católica, que aprovei no passado dia 25 de junho e cuja publicação hoje ordeno em virtude da autoridade apostólica, é uma exposição da fé da Igreja e da doutrina católica… Vejo-o como um instrumento válido e legítimo a serviço da comunhão eclesial e como uma norma segura para o ensino da fé.” (Idem, Fidei Depositum, n. 4, 11 out. 1992)

3. Sagrada Escritura
A lei e os profetas duraram até a vinda de João, desde este tempo é o reino de Deus anunciado, e cada um faz força para entrar nele. (Lucas 16, 16)

Por isso eu vos declaro que tirado vos será o reino de Deus, e será dado a um povo que faça os frutos dele. (Mateus 21, 43)

3. Bento XVI
Jesus não apresenta sua mensagem como uma coisa totalmente nova, como se fosse o fim de tudo o que a tinha precedido. Ele era e permaneceu um judeu, ou seja, ligava sua mensagem à tradição dos crentes de Israel. Ele não tratou o Velho Testamento como uma coisa antiquada e já superada. (Bento XVI, então Cardeal Ratzinger, Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Principles of Catholic Theology, 1982, p. 95)

4. Papa Pio XII
E primeiramente com a morte do Redentor, foi ab-rogada a antiga Lei e sucedeu-lhe o Novo Testamento; então com o sangue de Cristo foi sancionada para todo o mundo a Lei de Cristo com seus mistérios, leis, instituições e ritos sagrados… estabelecendo, com o sangue, derramado por todo o gênero humano, a Nova Aliança (cf. Mt 26, 28; 1 Cor 11, 25). “Então, diz S. Leão Magno falando da cruz do Senhor, fez-se a transferência da Lei para o Evangelho, da Sinagoga para a Igreja, de muitos sacrifícios para uma única hóstia, tão evidentemente, que ao exalar o Senhor o último suspiro, o místico véu, que fechava os penetrais do templo e o misterioso santuário, se rasgou improvisamente de alto a baixo”. Portanto na cruz morreu a Lei antiga; dentro em pouco será sepultada e se tornará mortífera, para ceder o lugar ao Novo Testamento. (Papa Pio XII, Mystici Corporis, nn. 28-29, 29 jun. 1943)

4. Francisco
Um olhar muito especial é dirigido ao povo judeu, cuja Aliança com Deus nunca foi revogada, porque “os dons e o chamamento de Deus são irrevogáveis” (Rm 11, 29). A Igreja, que partilha com o Judaísmo uma parte importante das Escrituras Sagradas, considera o povo da Aliança e a sua fé como uma raiz sagrada da própria identidade cristã (cf. Rm 11, 16-18). Como cristãos, não podemos considerar o Judaísmo como uma religião alheia, nem incluímos os judeus entre quantos são chamados a deixar os ídolos para se converter ao verdadeiro Deus (cf. 1 Ts 1, 9). Juntamente com eles, acreditamos no único Deus que atua na história, e acolhemos, com eles, a Palavra revelada comum. (Francisco, Evangelii Gaudium, n. 247, 24 nov. 2013)

5. Papa Eugênio IV
A Igreja crê firmemente, professa e ensina que as prescrições legais do Antigo Testamento, isto é, a Lei mosaica, que se dividem em cerimônias, sacrifícios sagrados e sacramentos, mesmo porque instituídos para significar algo futuro, ainda que adequadas ao culto divino daquela época, com a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, por elas significado, cessaram, e que tomaram início os sacramentos do Novo Testamento… Todos, portanto, que depois disso observam os tempos de circuncisão, do sábado e de outras disposições da lei, ela os denuncia como estranhos à fé em Cristo, não podendo de todo participar da salvação eterna. (Papa Eugênio IV, Concílio de Florença, Cantate Domino, 4 fev. 1442; Denzinger-Hünermann n. 1347)

5. Bento XVI
O ensinamento do Concílio Vaticano II representou para os católicos uma clara divisa, para a qual fazemos constante referência na nossa atitude e nas nossas relações com o povo judeu, marcando um estágio novo e significativo. O Concílio deu um novo ímpeto ao nosso irrevogável compromisso de buscar o caminho do diálogo, fraternidade e amizade, uma jornada que tem sido aprofundada e desenvolvida nos últimos quarenta anos por meio de passos importantes e gestos significativos… Também eu, no curso de meu Pontificado, quis demonstrar minha proximidade e meu afeto para com o povo da Aliança. (Bento XVI, Alocução durante visita à Sinagoga de Roma, 17 jan. 2010)

6. Papa Eugênio IV
A Igreja crê firmememnte, confessa e anuncia que nenhum dos que estão fora da Igreja Católica, não só os pagãos, mas também os judeus ou os hereges e cismáticos, poderá chegar à vida eterna, mas irão para o fogo eterno “preparado para o diabo e para seus anjos” [Mt 25,41], se antes da morte não tiverem sido a ela reunidos. (Papa Eugênio IV, Concílio de Florença, Cantate Domino, 4 fev. 1442; Denzinger-Hünermann n. 1351)

6. Cardeal Walter Kasper
Como vós sabeis, a velha teoria da substituição foi abandonado desde o Concílio Vaticano II… Portanto, a Igreja crê que o judaísmo, i.e., a resposta fiel do povo judeu à irrevogável aliança de Deus, lhes é salvífica, pois Deus é fiel às suas promessas. (Cardeal Walter Kasper, Presidente do Pontifício Conselho pela Promoção da Unidade dos Cristãos, Alocução ao Comitê Judeo-Católico, 21 mai. 2002; Christopher A. Ferrara, Thomas A. Woods, The Great Façade, p. 46)

7. Oração pelos Judeus
Oremos também pelos pérfidos judeus para que o Senhor lhes tire de cima do coração o véu, e que reconheçam conosco Nosso Senhor Jesus Cristo. Oremos: Onipotente e eterno Deus, que não recusais misericórdia mesmo aos pérfidos judeus, ouvi as preces que, por causa da sua cegueira, Vos dirigimos; afim de que, reconhecendo a luz da vossa verdade, que é Cristo, sejam enfim arrancados das suas trevas. Pelo mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém. (Missal Romano, Sexta-Feira Santa; versão portuguesa e anotações de D. Crisóstomo d’Aguiar, 1938, p. 522)

7. Nova Oração pelos Judeus
Oremos pelo povo judeu, para que Deus nosso Senhor, que falou aos seus pais pelos antigos Profetas, o faça progredir no amor do seu nome e na fidelidade à sua aliança. Oremos: Deus eterno e onipotente, que confiastes as vossas promessas a Abraão e à sua descendência, atendei com bondade as preces da vossa Igreja, para que o povo da primeira aliança alcance a plenitude da redenção. Por Cristo Senhor nosso. Amém. (Novo Missal Romano, Sexta-Feira Santa; versão portuguesa do Secretariado Nacional de Liturgia de Portugal, p. 44)

8. Sagrada Escritura
Mas Jesus lhes respondia [aos judeus]: vós sois cá de baixo, e eu sou lá de cima. Vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo. Por isso eu vos disse, que morrereis nos vossos pecados; porque se não crerdes quem eu sou, morrereis no vosso pecado. (João 8, 23-24)

8. Bento XVI
… seu “Não” a Cristo põe os israelitas em conflito com os atos subsequentes de Deus; mas, ao mesmo tempo, sabemos que eles estão assegurados da fidelidade de Deus. Eles não estão excluídos da salvação. (Papa Bento XVI, então Cardeal Ratzinger, Prefeito da Congregação para a Dountrina da Fé, God and the World, 2000, pp. 150-151)

9. Papa São Gregório Magno
Se vós sois de Cristo, então vós sois a semente de Abraão (Gal 3, 29). Se nós em virtude de nossa fé somos chamados filhos de Abraão, os judeus em virtude de sua perfídia cessaram de ser sua semente. (Papa Gregório Magno, c. 590; Sunday Sermons of the Great Fathers, vol. 1, p. 92)

9. Pontifícia Comissão Bíblica
A espera judaica pelo Messias não é em vão. Ela pode se tornar para nós cristãos um poderoso estímulo para manter viva a dimensão escatológica de nossa fé. Como eles, também vivemos em expectativa. A diferença é que para nós aquele que está por vir terá os traços do Jesus que já veio e já se faz presente e atuante no meio de nós. (Pontifícia Comissão Bíblica, The Jewish People and the Holy Scriptures in the Christian Bible, 2001)

10. Cardeal Manning
Os Padres acreditaram que o Anticristo será da raça judaica. Tal era a opinião de Santo Irineu, São Jerônimo… e muitos outros que acrescentam que ele será da tribo de Dã; como, por exemplo, São Gregório Magno, Teodoreto, Aretas de Cesareia e muitos mais. Essa também foi a opinião de Belarmino, que a chama de certa. Lessius afirma que os Padres, em consenso unânime, ensinam como indubitável que o Anticristo será judeu. Ribera repete a mesma opinião, e acrescenta que Aretas, São Beda, Haymo, Santo Anselmo e Rupert dizem que por essa razão a tribo de Dã não é enumerada entre as mencionadas no Apocalipse. Viegas diz o mesmo citando outras autoridades. Isso parecerá provável se considerarmos que o Anticristo virá para enganar os judeus, cumprindo a profecia de Nosso Senhor ‘Eu vim em nome do meu Pai e vós não me recebeis; se vier outro em seu próprio nome, haveis de recebê-lo”, estas são interpretadas pelos Padres como o assentimento [dos judeus] ao falso Messias. (Cardeal Manning, The Present Crisis of the Holy See tested by Prophecy, 1861, pp. 24-25)

10. Novo Catecismo
De resto, quando se considera o futuro, o povo de Deus da Antiga Aliança e o Novo Povo de Deus tendem para fins análogos: a espera da vinda (ou volta) do Messias. Mas o que se espera é, do lado dos cristãos, a volta do Messias, morto e ressuscitado, reconhecido como Senhor e Filho de Deus, e do lado dos hebreus, a vinda do Messias – cujos traços permanecem encobertos -, no fim dos tempos, espera esta acompanhada do drama da ignorância ou do desconhecimento de Cristo Jesus. (João Paulo II, Novo Catecismo da Igreja Católica, n. 673) “O Catecismo da Igreja Católica, que aprovei no passado dia 25 de junho e cuja publicação hoje ordeno em virtude da autoridade apostólica, é uma exposição da fé da Igreja e da doutrina católica… Vejo-o como um instrumento válido e legítimo a serviço da comunhão eclesial e como uma norma segura para o ensino da fé.” (Idem, Fidei Depositum, n. 4, 11 out. 1992)

6 comentários em “Qual é a doutrina católica sobre os judeus?

  1. Fortaleza, 5 de abril de 2020.
    Como saberemos que o anticristo será pertencente à tribo de Dã, se poucos judeus hoje em dia sabem de que tribo eles procedem, já que se perdeu há séculos o controle do nascimento dos judeus segundo a tribo de seus antepassados? O anticristo é uma fantasia. E aliás para os judeus tanto a vinda do Messias e principalmente do Anticristo é algo muito pouco significativo. Nós, os judeus, continuamos levando nossa vida normalmente, sem o terror que muitos cristãos sofrem com medo do inferno. Para nós o “gheinom” corresponderia ao purgatório do catolicismo, e não ao inferno no contexto cristão. Estas palavras vão a título de esclarecimento para muitos cristãos, que vivem apavorados com medo do inferno. Os judeus, em sua totalidade não crêem no inferno cristão, e sim no purgatório e paraiso, pois o termo “gheinom” em hebraico significa purgatório e não o inferno eterno.Espero ter contribuido para o esclarecimento de conceitos tão importantes em nossas crenças religiosas. Shalom para todos do judeu Elisha ben Avraham.

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    1. A declaração do senhor é interessante, porque admite que o judaísmo é uma religião falida desde a destruição do Templo em 70 AD, que foi um castigo pelo deicídio judaico, conforme Nosso Senhor havia profetizado no Evangelho. Não há mais Templo, nem sacerdotes que possam provar sua linhagem e nem sacrifício a Deus, tornou-se assim o judaísmo uma religião impraticável, o cumprimento da Lei é impossível sem Jesus Cristo.

      Agora bem, quanto à tribo de Dã, este é um dado objetivo. Não depende do reconhecimento de terceiros, não é um sinal ou nota do Anticristo. O sinal que é dado para que saibam quem é ele é o 666. Este sinal está ainda envolto emmistério, diz Santo Irineu de Lião que, somente quando for a hora de sua manifestação, saber-se-á entendê-lo retamente

      Quanto à geena, não é senão uma figura do Inferno. Geena era um lugar ao sul de Jerusalém, onde se sacrificavam criancinhas aos ídolos. Literalmente é isso, como figura representa o Inferno, já que esse barbarismo bem representa o ódio do demônio aos homens e a profunda maldade humana quando o homem se aparta dos caminhos de Deus. Pois bem, quanto ao Inferno propriamente dito, este é eterno e inextinguível, os que para lá vão receberam uma sentença irrevogável e há um abismo entre o seio de Abraãk e o Inferno, de modo que não se pode passar de lá para cá e vice-versa. Essa é a doutrina do Evangelho, como se vê em Mateus 25, na parábola do rico e do pobre Lázaro e ainda outros lugares. Nosso Senhor falou muito sobre o Inferno, para advertir os homens do grave perigo que correm de perder a sua felicidade e sua alma, o seu fim último que é gozar de Deus no Paraíso, caso escolham o caminho da morte ao da vida.

      Se o judaísmo, islamismo, budismo, espiritismo e outras seitas – que concordam entre si neste ponfo – estão certos, então tudo o que se fala de castigos e salvação é mera retórica, pois no fim todos se salvam. Essa é a religião de Satanás que quer os homens ignorantes e descuidados de sua salvação para mais facilmente daná-los.

      Reflita bem sobre esses pontos e considere seriamente converter-se para receber o santo batismo e fazer parte da Igreja de Cristo, fora da qual não há salvação, como testemunham tantos mártires, confessores, santos e doutores, em todos os tempos e lugares, classes e posições, para a glória de Deus e salvação das almas.

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  2. Fortaleza, 20.8.2020.
    Caro Diogo Moreira,
    Só hoje tomei conhecimento de seu comentário ao meu comentário sobre assunto tão complexo como é a divergência teológica entre cristianismo e judaísmo. E algumas correções se impõem, para iniciarmos o debate. Em primeiro lugar, não admiti que o judaísmo é uma religião falida desde a destruição do Templo no ano 70 de nossa era. Nada disto. É uma religião que continua bem viva em todo o mundo, e não apenas em Israel.E que ao longo dos séculos sobreviveu às perseguições dos imperialistas romanos, e dos nazistas do Sec. XX, só para citar os dois exemplos mais notórios.
    Não somos uma religião salvacionista, do tipo daquelas que considera seus adeptos salvos, e os pertencentes a outros credos condenados. Nada disto. O “gheinom” para nós corresponde ao purgatório católico. Logo, os que vierem a morrer nos seus credos de origem não estão, por este motivo, condenados às chamas do inferno tal como é compreendido no cristianismo. Por isso não somos proselitistas. E, no meu caso particular, nem há que falar em batismo, e outros sacramentos da Igreja Católica, pois eu e minha família toda somos de origem católica, e eu fui batizado ainda em criancinha, fiz a primeira comunhão e fui católico até uma idade bem adulta. Optei pelo Judaísmo, porque passei a questionar o credo central do Catolicismo, o doutrina da Trindade, em que uma Pessoa é sacrificada na cruz para aplacar a ira da outra Pessoa da Trindade em consequência do pecado de Adão e Eva. E é só isto, por enquanto. Se alguém vier falar mal do Catolicismo sob o pretexto de que ele não forma boas pessoas para o convívio social, terá minha veemente oposição. Por hoje é só. Que o Eterno lhe dê saúde e paz, e a todos os seus familiares. Shalom. Francimar de Oliveira.

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  3. Uma coisa que eu achei estranho: parece que o Vaticano II acrescentou no calendário figuras do velho Testamento. Já vi publicações supostamente católicas chamando Aarão de Santo Aarão, e se referindo a ele como um Santo católico. Também já vi recentemente o “São” Daniel.
    Isso não esta errado não?

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