Paulo VI Sodomita: Rumor ou Realidade?

O jornal italiano L’Espresso publicou uma reportagem onde informava que Paulo VI teria sido vitima de chantagem em razão de um certo segredo. A informação confidencial seria sua suposta “irregularidade” no tocante a atos homossexuais.

O essencial do artigo foi reportado pelo Il Giornale Online, a 27 de janeiro de 2006. Em vez de negar as acusações, Paulo VI teria pedido a ajuda de seu amigo Aldo Moro, presidente do Conselho Governamental, para sufocar o boato. Isso foi relatado pelo general Giorgio Manes, que divulgou com exclusividade as suas notas confidenciais ao L’Espresso.

Existe algum sólido fundamento nesta acusação tão séria, ou seria ela apenas uma calúnia de tabloide? A reportagem traz à tona a acusação recorrente de que Paulo VI realmente teria sido homossexual. Muitas vezes se disse que a principal coisa que poderia interromper o processo de sua canonização seria que seu vício era, e ainda é, amplamente conhecido em inúmeros setores italianos.

Em seu livro, Vaticano II, Homossexualidade e Pedofilia, Atila S. Guimarães examinou essas acusações e, com base em fontes confiáveis, compôs o seguinte informe. Com sua permissão, transcrevo um excerto de seu trabalho (páginas 157 a 162, com as notas de rodapé).

Acusações contra Paulo VI

[…]

Em abril de 1976, uma declaração importante sobre Paulo VI foi feita. Em entrevista à revista italiana Tempo, o autor francês Roger Peyrefitte, um homossexual declarado, comentou sobre uma homilia (janeiro de 1976) na qual Paulo VI se pronunciou contra a homossexualidade. O escritor francês alegou que as palavras do pontífice eram hipócritas e fez essa revelação:

“O segundo pecado do qual me sinto libertado, depois desse grotesco discurso papal, é a minha homossexualidade. Em meu último livro, Cenas Furtivas, e em outro, Em torno do povo francês, eu afirmei com todo o respeito devido a um papa (especialmente quando ele ainda está vivo) que ele é homossexual. É impressionante que o discurso papal [contra a homossexualidade] tenha sido publicado no mesmo tempo que meu livro. Paulo VI foi movido por um complexo de culpa? Mas por que ele deveria se sentir culpado? Sabe-se que um namorado de Paulo VI era uma certa estrela de cinema, cujo nome eu não darei, embora me lembre muito bem dele. Ele era um ator desconhecido quando nosso amigo Paulo era o cardeal Montini, arcebispo de Milão.” (1)

Essas graves acusações (que alguns poderiam considerar abertas à discussão, dadas as características escandalosas de Peyrefitte) foram confirmadas por outro autor, um professor e jornalista sério que trabalhou no Vaticano nas dependências papais.


Sérias acusações contra Paulo VI – 30 Giorni, julho / agosto de 2001.

Os detalhes que ele relatou corroboram com as afirmações de Peyrefitte e parecem bastante dignos de crédito. Seu nome é Franco Bellegrandi, camariero di spada e cappa de Sua Santidade, do final do pontificado de Pio XII ao reinado de Paulo VI. Ele era um membro da Guarda Nobre do Vaticano, o mais distinto corpo do serviço militar papal. A Guarda Nobre – eliminada por Paulo VI – era um corpo de honra militar de elite formado por membros da nobreza romana que ajudava o pontífice em cerimônias e solenidades, bem como em funções diplomáticas cotidianas com Chefes de Estado ou importantes representantes estrangeiros.

Com credenciais confiáveis – professor de História Moderna na Universidade de Innsbruck (Áustria), correspondente do L’Osservatore Romano, autor de dois outros livros sobre o Vaticano, e condecorado com a Cruz de Ouro do Mérito da República Austríaca – ele utilizou fontes e estava a par dos fatos. Em 1994, quando seu livro Nichitaroncalli – Controvita di un Papa (Nikita Krushev e Roncalli – Aspectos Desconhecidos de um Papa) foi lançado em Roma, entre os presentes estava o Cardeal Silvio Oddi, que veio prestar seu prestígio ao trabalho e indiretamente endossar seus conteúdos.

Neste livro, Bellegrandi descreveu a situação nas dependências papais:

“Em Roma e em toda a Itália, corre o rumor de que Paulo VI é homossexual… Quando ele era arcebispo de Milão, ele foi pego pela polícia numa noite vestindo roupas civis e em companhia não tão louvável. Na verdade, por muitos anos ele disse ter uma amizade especial com um ator ruivo. Este homem não fez nenhum segredo de seu relacionamento com o futuro papa. O relacionamento continuou e se estreitou nos anos seguintes. [Depois que Montini foi eleito papa], um oficial das forças de segurança do Vaticano me contou que esse favorito de Montini era autorizado a entrar e sair livremente nos apartamentos pontifícios e que ele foi visto muitas vezes à noite tomando o elevador papal.

“A casca de banana que Paulo VI pisou e que pôs fim à natureza confiante de sua fraqueza foi a homilia sobre ética sexual proferida em janeiro de 1976, tratando de alguns pontos sobre a homossexualidade. Esta homilia provocou uma reação do escritor Roger Peyrefitte. Em 13 de abril de 1976, o semanário Tempo publicou uma entrevista com este autor (com uma reputação de boa documentação), que acusou o papa de ser homossexual e negou seu direito de ser um censor sobre o assunto. Paulo VI reconheceu oficialmente o golpe.

“Um ‘dia de reparação pela ofensa ao papa’ foi pedido. Toda a Itália, no entanto, estava rindo-se do incidente. A TV britânica fez uma entrevista com Peyrefitte, que confirmou suas acusações e expressou surpresa com a publicidade que estava recebendo.

“A primeira chantagem contra Montini foi feita pela Maçonaria assim que ele subiu ao trono de Pedro, ela o pressionou a acabar com a condenação da Igreja àqueles que pedem para serem cremados após a morte (o que ele fez). O que ela usou como ameaça foi revelar os encontros secretos entre o arcebispo de Milão e “seu” ator em um hotel em Sion, no cantão de Valais, na Suíça. Em Paris, algum tempo depois, a história por trás dessa mudança feita por Paulo VI veio à tona, com a evidência indiscutível pacientemente acumulada por um policial. ” (2)

Algumas páginas depois, Bellegrandi descreveu o que ele havia testemunhado pessoalmente:

“Outra mudança observada por aqueles naquele estreito círculo que, por causa de sua posição na hierarquia ou seus postos, costumavam passar uma grande quantidade de tempo dentro do Palácio Apostólico, foi a súbita nomeação de homossexuais para posições de prestígio e responsabilidade para junto do Papado. Esta praga infestou, transformou e devastou o Vaticano durante o tempo de Paulo VI. Já começara então [no pontificado de João XXIII], bem escondida nas barras das cortinas barrocas da Corte Pontifícia, mas, infelizmente, viva e real. Mas foi a mão distante do arcebispo de Milão, ele mesmo vítima de tal fraqueza, que discretamente os colocava um após o outro no tabuleiro de xadrez do Estado… as peças de seu jogo, caras ao seu coração.

“Esses novos personagens de alto escalão, que estavam contaminados pela mesma ‘doença’, naturalmente trouxeram consigo outras pessoas menos elevadas do mesmo gênero. Portanto, lenta mas continuamente, rumores e indiscrições começaram a fluir no Vaticano, e fatos graves começaram a ocorrer como coisa corriqueira.

“Por causa de suas funções, essas pessoas eram frequentemente vistas por nós [a Guarda Nobre]. … Eles também tinham seus favoritos, que eram os jovens efeminados que usavam uniformes elegantes e maquiagem no rosto para dissimular suas barbas. Nós (os camarieri di spada e cappa e os nobres guardas) cuidadosamente mantivemos nossa distância de seus sorrisos e cortesias. Nós nos limitávamos a cumprimentá-los à distância com a saudação militar dos saltos.

“Favoritos do Arcebispo de Milão também começaram a aparecer no nível de funcionários, e pequenos e grandes escândalos às vezes irrompiam. A Gendarmeria Pontificia [a polícia do Vaticano] teve que se orientar com cuidado… junto com essas minas flutuantes e manter um olho fechado – e às vezes os dois – para evitar que os relatórios vazassem e desencorajar alguns jornalistas afiados… Funcionários antigos e honrados que dependiam do Governatato [a administração do Estado do Vaticano] foram repentinamente demitidos ou removidos para outros postos, e esses recém-chegados foram instalados em seus lugares, todos carregando em seus bolsos cartas de recomendação do Cardeal Montini.” (3)

Guimarães termina seu capítulo apresentando o testemunho do autor espanhol Pepe Rodrigues, que afirma abertamente o que parece ser de conhecimento geral nos círculos internos da hierarquia européia e das elites, isto é, que não havia apenas muitos bispos homossexuais, mas também um “grande papa homossexual.” (4)

A reivindicação anterior, pelo menos, pode ser afirmada sem hesitação em face da crise contínua da homossexualidade que a Igreja está experimentando por causa do envolvimento ou cumplicidade de seus prelados com esses crimes. A segunda alegação, se for verdadeira, explicaria em parte a imensa complacência da mais alta cúpula em relação à homossexualidade entre os eclesiásticos.

Notas:
1. Roger Peyrefitte, “Mea culpa? Ma fatemi il santo piacere,” Tempo, 4 abr. 1976. 
2. Franco Bellegrandi, Nichitaroncalli – Controvita di un Papa (Roma: Ed. Internazionale di Letteratura e Scienze, 1994), pp. 85-86. 
3. Ibid., pp. 91-2. 4. Pepe Rodrigues, “Espana no es diferente,” El Mundo, March 19, 1995, p. 3.

HORVAT, Ph,D, Marian T. Paul VI’s Homosexuality: Rumor or Reality? In: Tradition in Action. Acesso em: 4 dez. 2018.

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