Verdadeiros e falsos católicos

Texto inédito, autobiográfico, achado por acaso enquanto vasculhava alguns arquivos mais antigos. Foi escrito em 2016, na festa de Corpus Christi, meses antes da criação do Controvérsia Católica.

Venho pensando em responder a sua carta faz um tempo. Ando um pouco ocupado e, até onde vi, não creio que minhas palavras vão ter força o bastante para fazê-lo sair da esfera pós-Conciliar. No entanto, na véspera de Corpus Christi, veio-me o desejo de escrever-lhe uma resposta a partir da questão que me fez abrir os olhos para ver o que realmente estava acontecendo.

Foi a partir dela que notei quão inútil seria continuar numa igreja que já tinha se tornado uma igreja protestante entre outras. Como a questão envolvia justamente o Santíssimo Sacramento, torna-se ainda mais oportuno tratar desse assunto agora. Quero então neste dia pôr-me em defesa deste tesouro, deste inestimável dom dado a Igreja de Deus.

Vamos aos fatos. Certo dia estava navegando pela internet quando encontrei um artigo sobre a comunhão na mão. Eu já sabia daquelas coisas todas, mas o que me impressionou foram as palavras de Santo Tomás de Aquino. Eu acho que nem o autor do artigo se deu conta de quanto aquelas linhas da Suma eram impactantes. Sendo o Doutor Angélico o insigne teólogo da Igreja Católica, o mais douto dos santos e o mais santo dos doutos, eu realmente fiquei perturbado. Como se pode tratar com tal indiferença um ensinamento tão evidente? Seguem as palavras do Santo:

“A distribuição do Corpo de Cristo pertence ao sacerdote por três razões.

Primeira, porque consagra na pessoa de Cristo. E assim como Cristo consagrou o Seu Corpo na (Última) Ceia e O deu também a partilhar aos outros, do mesmo modo tal como a consagração do Corpo de Cristo pertence ao sacerdote, assim também a Sua distribuição lhe pertence.

Segunda, porque o sacerdote foi nomeado intermediário entre Deus e o povo. Portanto, assim como lhe compete oferecer a Deus as oferendas do povo, assim também lhe compete entregar ao povo as oferendas consagradas.

Terceira, porque, por respeito para com este Sacramento, nada Lhe toca a não ser o que é consagrado; eis porque o corporal e o cálice são consagrados, e da mesma maneira as mãos do sacerdote, para que toquem este Sacramento. E assim, não é licito que qualquer outra pessoa Lhe toque, excepto em caso de necessidade, por exemplo, se caísse ao chão ou em qualquer outro caso de urgência.” (Suma Teológia III, q. 82, art. 13)

Assim, pensava eu, por que não nos ensinaram isso? E por que eles toleram a massiva profanação do Corpo de Deus? No final de semana seguinte eu deveria distribuir a Eucaristia na condição de “Ministro da Comunhão” apesar de São Tomás assinalar três boas razões para não fazê-lo de maneira alguma. Em meio ao cruciante dilema de ir ou não ir, optei por abandonar o “cargo” alegando que não é permitido a um leigo tocar na Hóstia Santa. O fato de ninguém na paróquia levar isso a sério, muito embora seja um Doutor da Igreja que o tenha ensinado, fez-me procurar entender a quem eles estavam seguindo realmente. Por certo não era o ensinamento católico tal e qual ensinava o Santo Doutor. Sendo aquela postura de receber a hóstia nas mãos uma iniciativa historicamente protestante, não levaria muito tempo para descobrir que isso tinha muito que ver com o protestantismo e pouco com o catolicismo.

profanação da eucaristia na jmj 2013 bergoglio 2

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Fotos mostrando a profanação do Santíssimo Sacramento na Jornada Mundial da Juventude de 2013.

A grande verdade que eu custei anos para, enfim, perceber é que a Igreja do Concílio Vaticano II reconhece o protestantismo como parte dela, ela o acolhe e lhe concede todo espaço necessário para que ele se prolifere dentro de si, ela chegou mesmo ao ponto de criar uma nova liturgia a fim de se tornar aceitável aos olhos de Lutero e Calvino. E, indo um pouco mais fundo, você descobre que não é só aos olhos de Lutero e Calvino que ela deseja se ajustar, ela também quer se tornar agradável aos olhos de Maquiavel, Rousseau, Kant, Marx e todo o sistema de idéias que mantém os velhos inimigos da Igreja de pé. Na prática, quando vemos os apóstolos da Igreja pós-Conciliar clamarem por diálogo e cooperação com aqueles que nos odeiam – e eles fazem isso com insistente frequência -, eles não pedem algo que edifique o Corpo de Cristo; muito pelo contrário, eles estão a pedir por uma coisa que vai levar à quebra da aliança estabelecida entre nós e Dues em favor da caduca e velha aliança da humanidade com o Demônio.

O que se tornou muito claro para mim desde então foi que aqueles mesmos que dizem representar a Igreja Católica hoje em dia são os mesmos que dão todas as armas para os inimigos dela. Eles abrem a porta para os lobos, mercenários e ladrões, eles se identificam com eles, eles são amigos deles – não existe mais o duelo entre Igreja Militante vs. Mundo lá, ao invés temos um pacto de auxílio mútuo.

Bento XVI assis

Bento XVI assis 2
2.ª Edição do Encontro de Assis, realizado por Bento XVI em 2011. A ideia é esta: cada qual reza para o seu deus pela paz mundial. Em suma, de um só golpe você tem a profissão pública das seguintes heresias: indiferentismo religioso, liberalismo político, imanentismo, agnosticismo teológico, gnosticismo filosófico ou pseudo-misticismo, pelagianismo.

Então, você vê eles rezarem com os infiéis por um mundo melhor, pela paz no mundo, exatamente aquele tipo de coisa que caracteriza uma loja maçônica em pleno vigor. Eles amam o mundo e por isso não hesitam em dar às religiões fundadas na mentira o status de irmãs. E é assim que o cão volta a comer do próprio vômito e o príncipe deste mundo passa a reinar novamente sobre a multidão que um dia foi libertada pelo Cristo Salvador. Pobres gentes, pobres gentes. Eles já não fazem mais parte de nós, eles professam e vivem uma outra fé, uma fé tristemente baseada nas fábulas do tempo presente.

No entanto, a Igreja Militante ainda existe. Nem todos capitularam. Você ainda encontra muitos católicos fiéis à Tradição espalhados pelo mundo inteiro, capelas que celebram a Missa Católica rezada por padres ordenados no rito católico.

Eis aí algo que vale mais do que ouro, que bendito e louvado seja o Santíssimo Sacramento. Que caiam por terra os inimigos d’Ele e que cresça o número de seus adoradores! Lutemos corajosamente, unamo-nos para enfrentar os numerosos inimigos do Redentor. Lutemos com preces, lutemos com lágrimas e sacrifícios. Lutemos. Que não digam que fomos pusilânimes, que não digam que nos faltou amor pelas coisas santas. A Verdade precisa ser publicada, conhecida e amada.

E não deixe de rezar o seu Rosário.

2 comentários em “Verdadeiros e falsos católicos

  1. Peço que explique isso:
    “Foi a partir dela que notei quão inútil seria continuar numa igreja que já tinha se tornado uma igreja protestante entre outras.”
    A que “igreja” você se refere?

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    1. Trata-se da Igreja pós-conciliar, emanada do Vaticano II. Melhor definida como seita modernista, já que seus chefes são herdeiros do modernismo de Loisy, Tyrell e outros hereges condenados por S. Pio X.

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