Uma palavra a todos os filhos da fé de Jesus Cristo sobre o escândalo

UMA PALAVRA A TODOS OS FILHOS DA FÉ DE JESUS CRISTO SOBRE O ESCÂNDALO

Pelo Reverendo Padre Gilberto Dianda (1915)

Vae homini illi per quem scandalum venit; Ai do homem por cuja culpa vem o escândalo… Melhor fora para ele que lhe prendessem ao pescoço uma mó e o precipitassem no fundo do mar.” (Mateus 18, 6 e 7)

O escândalo não é uma chaga exclusiva de nosso século. Existiu e existirá sempre, porque eterna será sobre a terra a luta entre o bem e o mal, entre a cidade de Deus e a cidade de Satanás.

Não obstante, podemos afirmar, sem o receio de sermos desmentidos, que não tem havido época na história como esta em que vivemos, que tenha visto estender-se em volta da inocência uma rede tão apertada, e tão cheia de maus exemplos. Não se trata só do espetáculo de paixões ardentes, mas também dum apostolado militante de incredulidade.

O ateísmo é hoje público nas suas manifestações, declarou guerra eterna a Deus e a Cristo, e se esforça para destruir até à última as crenças mais santas, servindo-se para esse fim de todas as armas, da palavra, da imprensa, do ensino.

Acrescente-se o escândalo da indiferença religiosa: a maior parte dos homens cristãos vivem exclusivamente para a terra, para os seus prazeres, para os seus interesses.

Acrescente-se o escândalo da blasfêmia, a blasfêmia entra hoje em todos os discursos, em todas as conversas, em todas as assembleias; e é pronunciada com uma indiferença tal, que parece não lhe ligarem importância.

Acrescente-se o escândalo da profanação dos dias de festa: o dia do Senhor é o dia das mais graves desordens, dos maiores pecados.

Acrescente-se o escândalo do sensualismo: a arte prostituiu-se ao seu nefando serviço, a pintura, a imprensa, a fotografia, o teatro, o cinema representam as cenas mais voluptuosas e atrevidas; a virtude é ridicularizada, a honestidade caricaturada.

Acrescente-se o escândalo do luxo, que tomou proporções espantosas, que provoca desordens sociais, porque é um insulto à miséria.

Acrescentem-se os escândalos nas ruas, nas praças, nas escolas, nas repartições públicas, nas empresas, nos laboratórios, nas famílias e até nas igrejas, onde se vai só para ver e ser visto, para mostrar os vestidos, a beleza… e depois de tudo isto dizei-me se uma alma sinceramente cristã pode ficar inativa em presença de tanta maldade.

Não, não; a voz do dever impõe-se poderosamente.

Nós não podemos, nem devemos ficar inativos. De harmonia com os ensinamentos de Nosso Senhor Jesus Cristo, a nossa santificação individual não basta.

Nós somos ligados em sociedade, todos temos laços de parentesco, de amizade, de dependência; pois bem, é necessário opor ao apostolado do mal o apostolado do bem e de alguma maneira reparar as imensas ruínas do escândalo. O incêndio devora o edifício, a torrente inunda a cidade; a verdade e a virtude estão em perigo! Não basta derramar lágrimas, suspirar pelos tempos passados; não basta também orar. Mas, à ardente oração, é preciso acrescentar a indústria santa e amorosa da salvação das almas.

Quando a pátria está em perigo e os inimigos próximos a profanar o seu solo, cada cidadão é então um soldado. Quando a fé dos avós é vilipendiada, quando o escândalo se torna insolente e faz pavoroso estrago, todos os cristãos devem converter-se em apóstolos. É um dever sagrado, a que ninguém pode subtrair-se.

Pais e mães, exercei o vosso zelo no santuário da família; patrões de empresas, de estabelecimentos, cumpri a vossa missão para com os vossos dependentes. Quem quer que vós sejais, com os vossos bons exemplos inspirai amor à virtude, ao dever, aos ensinamentos de Jesus Cristo, e tereis feito um grande apostolado de caridade muito grato e abençoado pelo Senhor.


Versão levemente adaptada do original em DIANDA, Presbítero Gilberto. O Catecismo Maior de Sua Santidade o Papa Pio X – Explicado ao povo segundo a norma do Concílio de Trento: Tomo II – Dos Mandamentos de Deus e da Igreja, das verdades principais e doutras coisas que o christão deve saber. Vizeu: Editora da Revista Catholica, 1915, pp. 206-207.

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