A Igreja e o Papa não se podem enganar

EXPLICAÇÃO DO PEQUENO CATECISMO
do
PADRE JACOB HUDDLESTON SLATER
Doutor em Teologia e Filosofia Escolástica

4.ª Edição
Tipografia das Vozes de Petrópolis
1933

Com aprovação e recomendação
de S. Emcia. o Cardeal
DOM SEBASTIÃO LEME

  1. Quando a Igreja ensina a fé e os bons costumes pode enganar-se?
    R. Quando a Igreja ensina a fé e os bons costumes não se pode enganar.
  2. Quando o papa, como chefe da Igreja, ensina a fé e os bons costumes, pode se enganar?
    R. Quando o papa, como chefe da Igreja, ensina a fé e os bons costumes, não se pode enganar.
  3. Por que a Igreja e o papa não se podem enganar?
    R. A Igreja e o papa não se podem enganar, porque Jesus está com eles até ao fim dos séculos.

EXPLICAÇÃO

Jesus tinha dito aos apóstolos: “Como o Pai me enviou a mim, assim eu vos envio a vós”. Depois disse estas palavras, que já aprendemos: “Ide pelo mundo inteiro e ensinai todos os povos: quem crer será salvo, quem não crer será condenado”. Mas Jesus acrescentou umas palavras, muito importantes, que ainda não ensinei: Jesus disse: “E eis que eu estou convosco até ao fim dos séculos”.

Jesus está com os apóstolos e com os seus sucessores até ao fim dos séculos. Por que Jesus fica com os sucessores dos apóstolos? Para os ajudar. Ajudar em quê? No ensino. Pois Jesus mandou aos apóstolos ensinar todos os povos. Neste ensino da Igreja Nosso Senhor está com ela: ajuda a sua Igreja a ensinar.

Mas se Jesus ajuda a Igreja a ensinar, este ensino não pode ser errado. Cristo está com a Igreja, para que ela não se engane.

Por isso nos mandou crer tudo quanto a Igreja ensina. Jesus disse aos apóstolos e aos seus sucessores: “Ide pelo mundo inteiro e ensinai todos os povos… Quem crer será salvo… quem não crer será condenado”.

Jesus diz que todos os que não creem tudo o que os apóstolos e seus sucessores ensinam são condenados ao inferno. Ele nos manda crer só a verdade; portanto, tudo o que os apóstolos e seus sucessores ensinam é a verdade. Se houvesse erro no ensino da Igreja, Cristo não nos mandava crer: pois Ele é a verdade. Por isso São Paulo chama a Igreja de Deus: “O fundamento da verdade”, pois a Igreja não se pode enganar.

Devemos agradecer muito a Deus, que a sua Igreja nos ensine só a verdade. Os homens, ainda os mais sábios, se enganaram muitas vezes. Os hereges, que não creem na Santa Igreja Católica, caem nos erros mais grosseiros. Mas nós conhecemos a pura verdade nas coisas mais importantes, mais difíceis, porque cremos na Igreja Santa, Católica, Apostólica, Romana.

Chamamos à Santa Igreja Católica esposa de Jesus Cristo. Jesus amou sua Igreja como um noivo ama a sua noiva. Um noivo fidalgo comunica à sua noiva o seu nome e a sua nobreza. Jesus comunicou à sua Igreja a sua divindade: sua santidade, sua verdade, sua unidade e outras perfeições de Deus. A Igreja é divina, porque é de Jesus Cristo.

Se a Igreja não pode enganar-se, também o Papa não se pode enganar. O papa é o chefe da Igreja.

Se o papa manda crer alguma coisa, todos os fiéis lhe devem obedecer. Pois ao papa Jesus fez supremo pastor de seu rebanho, e todas as ovelhas devem seguir este pastor.

Mas Jesus não quer que todos os fiéis creiam num erro. Portanto, quando o papa manda crer alguma doutrina, esta não pode ser errada, senão toda a Igreja se enganaria, e isto não pode ser.

Por isso dizemos que o papa é infalível. O papa é infalível, quer dizer que o papa não pode enganar-se, quando, como chefe da Igreja, manda crer alguma coisa da fé ou dos bons costumes.

Quando o papa fala duma coisa que não tem nada com a Religião, pode enganar-se como qualquer outro; por exemplo, quando o papa diz: “Este ano virá muito povo a Roma”, pode ser verdade, mas pode também ser falso, porque nisto o papa pode enganar-se.

Também se o papa só conversa com alguma pessoa sobre coisa de religião, pode enganar-se.

Mas quando o papa solenemente ensina uma doutrina a toda Igreja e manda que todos creiam esta doutrina, neste caso o papa não se pode enganar e esta doutrina deve ser verdadeira, senão toda a Igreja estaria no erro.

Este ensino da Igreja nós o aprendemos no catecismo, nas práticas e em livros bons. Por isso devemos aprender o catecismo e ouvir a explicação do catecismo, dos sermões e práticas. Não temos o direito de criticar o que se diz nas práticas, mas devemos ouvi-las como se Nosso Senhor falasse. Convém também ler livros bons que tratem de religião.

Há pessoas que creem o que querem, e não creem o que não lhes agrada; e contudo se dizem católicos. É mentira.

Quem obstinadamente não quer crer um doutrina da Igreja, ainda que uma só, não pertence à Igreja Católica, não é católico.

Quem obstinadamente não crê que no dia do juízo todos os corpos dos mortos ressurgirão, não é católico.

Quem obstinadamente não crê que é pecado mortal desobedecer à Igreja, por exemplo: não ir à missa no Domingo, não é católico.

Quem obstinadamente não crê que rogar pragas, ter ódio ao próximo, fazer coisas desonestas, são pecados mortais, não é católico.

Quem obstinadamente não crê que os que não querem receber os sacramentos da confissão e comunhão, estão condenados ao inferno, não é católico.

Quem obstinadamente não crê que só o registro civil entre Cristãos não dá o direito de viver no estado conjugal, não é católico.

Se alguém não crê alguma destas ou das outras verdades do catecismo, ofende gravemente a Deus. Jesus mandou, sob pena de eterna condenação, crer tudo o que a Igreja ensina, e fazer o que a Igreja manda. Por isso dizemos que fora da Igreja não há salvação.

Quem nega obstinadamente alguma verdade da fé e bem sabe o que faz: a Igreja o lança fora de si: fica herege e não pode salvar-se, se não voltar à Igreja.

Este castigo se chama excomunhão, e o tal homem chama-se excomungado. É feio chamar a outro de excomungado. É irrazoável chamar um animal de excomungado. Devemos usar esta palavra só daqueles que a Igreja realmente excomungou.

Fora da Igreja não há salvação, isto é, quem por sua culpa não pertence á Igreja Católica, não pode salvar-se.

O santo Bispo Fénélon tinha defendido certa ideia sobre o arrependimento perfeito, pensando que fosse verdadeira. Não ensinava aquela doutrina ao povo, como doutrina da Igreja, mas discutia-se com outros padres e bispos.

Mas o papa condenou aquela doutrina como heresia, e Fénélon estava mesmo pregando, quando lhe trouxeram a carta de Roma, condenando a sua opinião. Logo o bispo mudou de assunto, retratou a sua opinião e disse que era heresia, e que o papa ensinava a verdade. Pouco tempo depois estavam fazendo na sua catedral uma grande pintura, onde também estavam representados uns hereges. Fénélon pediu que entre os hereges pintassem também o seu retrato, porque tinha tido uma opinião, depois condenada pela Igreja.

Aqueles que querem saber mais do que a Igreja podem aprender do sábio Fénélon que a Igreja e o papa não se podem enganar; porque Jesus está com eles até ao fim dos séculos.

“Creio em uma, santa, católica, e apostólica Igreja”.

2 comentários em “A Igreja e o Papa não se podem enganar

  1. Mas quando um papa abdica voluntariamente de agir enquanto papa, deixa de ser assistido pelo Espírito Santo. Então pode sim errar, pois não agem como vigário do Filho de Deus. Foi isto que os papas eleitos a partir do concilio fizeram.

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    1. Isto não é verdade, somente para mencionar um exemplo de muitos, veja o que disse João Paulo II sobre o Compêndio de Vaticanosegundices, que é o Catecismo de 1993: “O ‘Catecismo da Igreja Católica’, que aprovei no passado dia 25 de junho e cuja publicação hoje ordeno em virtude da autoridade apostólica, é uma exposição da fé da Igreja e da doutrina católica, testemunhadas ou iluminadas pela Sagrada Escritura, pela Tradição apostólica e pelo Magistério da Igreja. Vejo-o como um instrumento válido e legítimo a serviço da comunhão eclesial e como uma norma segura para o ensino da fé. Sirva ele para a renovação, à qual o Espírito Santo chama incessantemente a Igreja de Deus, Corpo de Cristo, peregrina rumo à luz sem sombras do Reino!” (Fidei Depositum).

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