A bela história de Joseph Murphy sobre a compaixão de Monsenhor Daniel Dolan

Carta enviada por um presidiário, no corredor da morte, sobre sua experiência com Monsenhor Daniel Dolan.

A HISTÓRIA DE REV. DANIEL DOLAN & JOSEPH MURPHY

Nos últimos meses de 1993, perdi meu último apelo ao tribunal estadual, na Suprema Corte de Ohio. A corte fixou uma data, para minha execução na cadeira elétrica. Estava no corredor da morte há 6 anos já, esperando para morrer, passando pela maior crise de todos os tempos. Sempre pensei que eu fosse normal, mas, conforme meu julgamento no tribunal ia avançando, percebi que nada era normal em mim.

Neste momento da vida, com a perda do meu apelo estadual, tudo o que eu queria era morrer. E eu não queria que o estado me matasse, então eu sabia que deveria guardar todas as minhas pílulas para asma, e acabar, eu mesmo, com a minha vida. Após 90 dias, guardando-as, estava pronto para morrer. Mas alguma coisa, no fundo da minha mente, pedia para eu descobrir se Deus existe realmente e, se sim, talvez Ele me ajudaria. Então, como eu deveria provar se Deus existe? Eu não sabia, afinal, eu tinha 27 anos, com a mentalidade de uma criança de 9. Mas eu sabia que queria dar a Deus uma verdadeira chance de provar que Ele existia. Então eu tinha uma Bíblia, que era dada a todos os presos no corredor da morte, eu a coloquei no meu colo e fiz a minha primeira oração. “DEUS, SE O SENHOR EXISTE, PROVE PARA MIM AGORA E EU SEREI SEU”.

Comecei a ler a Bíblia e a tentar encontrar uma maneira de provar que Ele existe. E enquanto eu estava lendo, deparei-me com a história em Lucas sobre Jesus e Seus discípulos. Jesus foi condenado à morte. E agora Seus discípulos estavam caminhando para uma pequena cidade. Eu me pergunto, como então os homens se sentiam? Perder seu bom amigo e agora ter que seguir sozinhos? Eu pensei que eles poderiam sentir o que eu sinto agora. Muito sozinho, perdido, indesejado e não amado. Senti a escuridão ao meu redor. Peguei uma caneta e papel, em mãos, e escrevi a história, para que – depois que me matasse – as pessoas pudessem ver, e juntando dois e dois, saber como me sentia e por que tirei minha própria vida. Voltei a ler a Bíblia e agora um transeunte dizia aos discípulos que Jesus estava vivo. E do nada eu fui tomado por emoções sinceras e clamei gritando: “Ele está vivo, ele existe!”, “Ele está vivo, ele existe!” e as lágrimas escorriam pelo meu rosto quando eu sabia que Deus tinha respondido minha oração e provado que Ele existia. Os outros presos no corredor da morte pensaram que eu estava louco, então começaram a bater nas grades da prisão, com um copo de lata, e gritaram aos policiais, para que viessem me socorrer. Os policiais vieram correndo e me perguntam o que estava acontecendo. Estava eu no fundo da minha cela, de joelhos, gritando: “Ele existe, ele está vivo”, então os policiais me pediram para ir até a porta, para que eles pudessem falar comigo. Eles me pedem para contar o que estava acontecendo e eu contei TUDO, e até lhes dei as pílulas. E eles me perguntam como Deus provou que Ele existia. Eu disse a eles que estava lendo a Bíblia e, depois de ler a história de Lucas, eu queria escrevê-la, para que as pessoas soubessem que eu morri como um homem cheio de mágoa, como os discípulos de Jesus, quando eles estavam caminhando para a cidade. E foi aí que Deus provou que Ele existia. A maioria dos oficiais voltou para o escritório, mas um continuou perguntando: “Como isso provava alguma coisa?” Então mostrei-lhe as anotações que escrevera. Depois, peguei meus papéis do processo, onde doutores e profissionais de saúde mental diziam a corte que eu nunca fui à escola, que não podia ler, nem escrever e que, por causa da minha infância, eu nunca tive a chance de crescer, e tinha a mente de uma criança de 9 anos. E eu estava lendo os documentos para ele. E disse: “Então você vê, Deus provou que existe, dando-me o dom de ler e escrever Sua palavra”.

O oficial disse: “Obrigado Murphy”, e eu disse “Obrigado por quê?” Ele me respondeu que sua esposa sempre dissera que, um dia, Jesus visitará o corredor da morte, e salvará alguém. Então ele agradeceu, porque, disse ele, “agora posso ir para casa e dizer à minha esposa que hoje Jesus estava no corredor da morte”. Ele rezou comigo e depois voltou ao trabalho.

Mas eu queria manter minha parte do acordo, então agora queria me entregar a Deus e ser Dele. Eu precisava entrar em contato e pedir ajuda para fazer isso, mas não tinha dinheiro, então comecei a dar minhas bandejas de comida todos os dias por um selo. E eu assistiria TV com as legendas me ensinando a ler e escrever, ouvindo as palavras e vendo como elas se parecem. Depois de ter o que precisava, escrevi 31 cartas para 31 igrejas em Ohio. Peguei os endereços no jornal de domingo e os enviei pelo correio. Eu estava no meu pior momento e estava quebrado e sozinho, e o mundo queria que eu fosse morto. Mas agora, enviando cartas, agora tinha esperança. Uma semana se passou, e ninguém me escreveu de volta, um mês se passou e ninguém me escreveu. Então eu sabia que tinha que descobrir como ser um filho de Deus sozinho, e tentei todos os dias. Então, um dia, o oficial estava me levando de volta à minha cela, após o recreio. Quando ele tirou as algemas das minhas mãos, vi uma carta na minha cama. Eu peguei e entreguei a ele, dizendo que havia recebido a correspondência de alguém. Ele olhou e devolveu dizendo: “é para você”. Um grande sorriso surgiu em meu rosto e olhei para a carta: “Para Joseph Murphy do Rev. D. L. Dolan”. Eu continuei olhando para ela e cheirava tão bem. Abri a carta para ler o que ele tinha a dizer.

Foi quando um grande homem santo entrou em minha vida e cuidou das necessidades de minha alma e me deu o amor e a compaixão de um pai, quando todo o mundo me abandonou. O bispo Daniel L. Dolan me resgatou.

“Caro Sr. Joseph Murphy, Meu nome é Padre Daniel L. Dolan e sou padre em SANTA GERTRUDES, A GRANDE, IGREJA CATÓLICA ROMANA. Eu estava fora do país, quando cheguei em casa, encontrei a sua carta. Ficarei muito feliz em ajudá-lo a se tornar um filho de Deus. Vou enviar uma freira para visitá-lo e ensiná-lo a fé católica. Quando ela disser que você está pronto, vou visitá-lo e fazer seu batismo e primeira comunhão, e você estará no caminho certo para estar no exército de Deus.” Chorei depois de ler a carta, foi a primeira carta que recebi pelo correio. Segurei-a e, com pensamentos de em breve ser filho de Deus, adormeci. No dia seguinte, fui chamado para uma visita. Entro na sala de visitas, e ponho-me à espera da Irmã Mary. Ela entra e todos param de falar para olhar para ela, ela estava toda de preto e tinha uma cruz pendurada em um colar de contas. Ela sorriu para mim e se sentou. Tivemos uma boa visita e ela me ensinou a fazer o sinal da cruz. E ela me ensinou uma música, “Jesus, Jesus, venha a mim” e sua voz ressoava pelos corredores e através da prisão, era tão doce. Ela me disse que me enviaria coisas para estudar, e que o Padre Dolan disse que se eu precisasse de algo, como comida ou roupas, ele conseguirá para mim. Nas semanas seguintes, ela me ensinou a rezar o Rosário. Foi tão incrível como o mundo desistiu de mim e me queria morto e ninguém me ajudava a conhecer Deus, até que esse padre muito bom me acolheu. O tempo estava passando tão devagar e eu não achava que conseguiria isto.

Então eu rezei: “Querido Deus, se você fizer isso acontecer para mim, para que eu possa ser seu filho, eu vou rezar o Santo Rosário 4 vezes ao dia às 9h-13h-17h-21h, pelo resto da minha vida”. Demorou cerca de um ano, mas eu estava pronto e o Padre Dolan marcou uma visita para fazer meu Batismo e minha Primeira Comunhão. Ele entrou com um sorriso e disse: “Hoje é seu novo aniversário Joseph, porque, hoje, você nasceu como filho de Deus”. Então me ajoelhei e rezei, enquanto ele fazia o que tinha que fazer. E então nos pusemos a rezar por um longo tempo. O Padre Dolan me disse que agora enviará um padre para me visitar todos os meses, para me trazer Nosso Senhor e rezar comigo. E logo o Padre Collins estava me visitando desde Jacksonville, Flórida. E mantive minha palavra, até hoje rezo o Santo Rosário a cada 4 horas, 4 vezes ao dia.

Padre Dolan falou às pessoas sobre mim e começaram a me escrever de todo o mundo. Eu cobria minhas paredes com cartões de Natal que recebi. Recebia visitas de pessoas que eu não conhecia. As pessoas me mandavam comida e, pela primeira vez na minha vida, eu me sentia amado. Tudo porque o padre era tão compassivo.

Padre Dolan me escrevia toda semana. Ele estava cuidando da minha alma e certificando-se de que estava agindo bem. Ele sabia que eu tinha uma vida ruim, mas ele me amava mesmo assim. Ele fez um homem me escrever, cujo nome era Jack Heath, e depois que o Sr. Heath me conheceu, depois de muitas visitas, ele começou a me enviar $ 100 dólares por mês, para comida e necessidades. Isso me fez sentir bem, por ter o que eu precisava e não sentir fome. Ele se tornou um bom amigo. Mas, infelizmente, teve câncer. Eu falava com ele, ao telefone, e ele me falava para dizer: “Oh meu Deus, eu te amo”, de novo e de novo. Após a ligação, ele foi dormir e morreu em sua cadeira. A esposa dele me disse que Jack queria que eu ficasse com o seu carro, para fazer o que eu quisesse. Eu contei isso ao Padre Dolan e ele me disse que eu precisava passar as bênçãos adiante, e ele confiava em mim para fazer o bem. Então, conheci uma família que veio me visitar, que contava com 14 filhos. Então liguei para o Padre Collins e pedi que ele informasse essa família que tinha um belo carro para eles, um presente inteiramente grátis.

Padre Dolan havia se tornado bispo e eu estava muito feliz por ele. Após a morte do Sr. Heath, o Bispo Dolan começou a me enviar $ 75 dólares por mês, para comida e outras necessidades, e $ 150 dólares no Natal e aniversários. Ele já tem feito isso por muitos anos. Era achegada então a hora de ser executado, e todos me disseram para ir em paz e estar com Deus. Mas, algumas pessoas, junto de Monsenhor Dolan, queriam lutar. Ele sabia que eu tenho um bom coração e que eu seria melhor na prisão, ajudando os presos que não conhecem a Deus. E ele disse que sou um pescador de almas. Então ele escreveu ao governador de Ohio, junto com algumas outras pessoas, pedindo que ele NÃO me matasse, tudo que eu precisava era ser amado, e agora eu era, e não deveria ser morto. Aqui estou, 11 anos depois, e ainda ajudando os presos a conhecer a Deus. Comecei a fazer um boletim informativo sobre o corredor da morte, com a ajuda e o apoio de Monsenhor Dolan, e continuo fazendo isso até hoje. Mas agora, que ele se foi, não sei o que se seguirá para mim. Mas sei que Monsenhor Dolan foi um grande homem. Ele viu que eu estava em crise o tempo todo e me puxou para fora da escuridão. Ele viu o bem em mim e me ensinou a ser o meu melhor e nunca me sentir sozinho, porque não estava. Ele sempre se dirigia a mim como “Meu Querido Filho” e eu sempre o chamava de “Papai”, porque ele era como um pai para mim. Mas ele era mais que um pai, era um amigo.

Em seu último e-mail para mim, ele me disse que, pouco a pouco, ele estava ficando mais forte e que o calor da primavera e do sol o ajudava. Ele me colocou sob sua asa e foi muito bom para mim. E tenho certeza que todo mundo tem uma história como a minha. Ele me diria hoje, se estivesse aqui: “Meu Querido Filho, siga em frente e vá com Deus, faça o que você faz de melhor, e você ficará bem. Não há tempo para lágrimas ou tristeza. Seja forte meu querido filho”.

Foi difícil e doloroso escrever essas coisas, mas um amigo me pediu para fazê-lo e eu sei que era isso que Monsenhor Dolan também queria de mim. Sentirei muita falta dele e ele pode me ajudar muito mais agora, porque está com a Sagrada Família. Ele esteve em todo o mundo fazendo a vontade de Deus e agora pode descansar em paz, e podemos seguir em frente, sabendo que conhecemos um dos maiores homens santos do mundo. Às vezes, conversávamos em e-mails sobre essas coisas, e ele dizia que sua igreja é a única que respondeu à minha carta, porque Deus queria ter certeza de que eu pertencia à única fé e Igreja verdadeira.

Reverendíssimo Monsenhor Daniel L. Dolan
28 de maio de 1951 —- 26 de abril de 2022
Descanse em paz, Papai. Vou rezar para sempre por sua alma.
Joseph Dimas Murphy

6 comentários em “A bela história de Joseph Murphy sobre a compaixão de Monsenhor Daniel Dolan

  1. Boa tarde.
    Existe um documentário da Netflix que conta a historia de um preso que teve sua pena revogada da cadeira elétrica para a prisão perpétua. O nome dele é Joseph Murphy, seria a mesma pessoa?

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