4.ª Lição de Catecismo da Doutrina Cristã. A Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Revisão da lição sobre a Encarnação do Filho de Deus.
I. Durante a sua vida mortal, Jesus Cristo ensinou o caminho do Céu com palavras e obras, confirmando a sua doutrina com muitos milagres.
II. Jesus Cristo padeceu e morreu na cruz a fim de satisfazer a Deus pelos nossos pecados. Assim teve de ser, porque a ofensa se mede pela dignidade do ofendido enquanto a satisfação se mede pela dignidade de quem a paga. Assim se um criado dá uma bofetada em um príncipe, seria julgado um delito gravíssimo conforme a dignidade do príncipe; porém, se o príncipe desse uma bofetada no criado, seria julgado de menos importância conforme a vileza do criado. E pelo contrário se um servo tirasse o chapéu para um príncipe, não seria nada além do seu dever, mas se um príncipe tirasse o chapéu para um criado, então seria este um notável favor. Ora, como o primeiro homem ofendeu a dignidade infinita de Deus, isso exige uma satisfação infinita, proporcional à Majestade Divina. E como não havia nem homem, nem anjo de tamanha dignidade, veio o Filho de Deus que sendo Deus tinha dignidade infinita e sendo homem satisfez inteiramente por nossas culpas e pecados.
III. Cristo também morreu na cruz para nos dar o exemplo da virtude da paciência, humildade, obediência e caridade, que são as virtudes indicadas nos quatro braços da cruz. Não há maior paciência do que padecer injustamente uma morte afrontosa, nem há maior humildade do que sujeitar-se o Senhor dos Senhores a ser crucificado entre dois ladrões; não há maior obediência do que preferir morrer do que transgredir um mandamento divino, nem há maior caridade do que oferecer a vida para salvar os seus próprios inimigos.
IV. Um religioso devoto e grande servo de Deus pedia à Majestade Divina com muita instância que lhe revelasse qual serviço lhe era mais aceito e agradável. No fim de muitas súplicas, apareceu-lhe um dia Cristo Nosso Senhor, vindo para ele com uma grande Cruz ao ombro, e lhe disse: não me podes fazer serviço mais agradável e aceito do que ajudar-me a levar esta pesada Cruz. Perguntando-lhe o religioso como podia levar a Cruz com ele, o Senhor lhe respondeu: Com o coração poderás levar minha Cruz, com a continua memória e meditação dela; na boca ao dar-me graças com muita consideração e devoção, porque nela te redimi; com os ouvidos ouvindo com muito afeto o que foram as minhas penas; nas costas com a mortificação da tua carne. Logo que o religioso ouviu isso, deu graças ao Senhor e procurou dali em diante empregar-se neste santo ofício.
V. Depois de sua morte na Cruz, o santíssimo corpo de Nosso Senhor foi sepultado, enquanto isso a sua alma descia ao Limbo para abrir as portas do Céu aos justos que tinham morrido antes dele.
VI. Passados três dias incompletos, Jesus Cristo ressuscitou, isto é, sua alma se uniu novamente ao seu corpo para nunca mais morrer. Este mistério é o maior de todos os milagres e a partir dele se pode facilmente crer em todos os demais. Um morto nada pode fazer, a morte é a impotência absoluta, e todavia Jesus Cristo morto restituiu a vida a si mesmo. Ele mesmo quis padecer e morrer na Cruz e no tempo em que havia fixado ressuscitou gloriosamente. Este triunfo de Cristo sobre a morte é sinal de sua onipotência divina e, por conseguinte, prova incontestável de que Jesus Cristo realmente é o Filho de Deus.
VII. Depois de ficar quarenta dias com seus discípulos, Jesus Cristo subiu ao Céu, onde está assentado à mão direita de Deus Pai todo-poderoso. Lá do Céu, enviou aos discípulos o Espírito Santo no dia de Pentecostes, dez dias depois de sua Ascensão. De fato, Jesus Cristo enquanto Deus está em toda parte, mas enquanto Homem-Deus está com o Pai no Céu e no Santíssimo Sacramento do Altar.