SEDEVACANTISTAS: NEO-TRADS, "SEX SELLS"
- Publicado em 31/12/2019
- Por Diogo Rafael Moreira
PARA OS SEDEVACANTISTAS NEO-TRADS, "SEX SELLS"
Pelo Reverendo Padre Anthony Cekada
(Quidlibet, 2 de maio de 2019)
Como notei há algumas semanas atrás em Os Erros de Athanasius Schneider, a "direita" da Igreja Conciliar — "conservadores" ou, no caso daqueles que promovem a Missa tradicional no sistema Novus Ordo, "neo-trads" — tem se tornado cada vez mais veemente na denúncia de Bergoglio. Há apenas seis anos atrás, falar sobre heresia papal seria rotineiramente descartado nesses círculos como "fantasias de sedevacantistas cismáticos" ou como "rejeitar a promessa de Cristo de que as portas do inferno não prevaleceriam".
Agora, porém, encontramos os conservadores e neo-trads do estabelecimento em uma "Carta Aberta aos Bispos da Igreja Católica" declarando que "Estamos acusando o Papa Francisco de delito canônico [= crime] de heresia."
Material pesado e um bom desenvolvimento. É animador ver conservadores e neo-trads enfim começarem a tomar seriamente a noção de que a própria heresia – e um monte desta — está por trás da degeneração da fé e moral que se alastrou universalmente depois do Concílio Vaticano II. E também é animador vê-los reconhecer que a heresia pode e de fato vem (ao menos no caso de Bergoglio) de um papa putativo.
Mas por que agora? É simples: "Sex sells", diz o marqueteiro. Em outras palavras, ele chama a atenção de nossa natureza caída, de uma forma ou de outra.
Donde o choque e o escândalo que estourou no último verão entre católicos de todas as partes sobre os escândalos de abuso sexual, tanto em face de clérigos pedófilos quanto de seus cúmplices: McCarrick, Cupich, Wuerl, Farrell, Maradiaga, Ricca, Zanchetta e centenas de outros entre o baixo clero. Por causa do componente sexual, a história se alastrou em larga escala, na impressa e nas redes sociais, e não dá sinais de diminuição.
Esse fato teria sido uma mistura bastante volátil sozinho, mas se tornou de muitos modos ligado, na mente do povo, às mais extravagantes heresias de Bergoglio sobre a moral sexual — divórcio/recasamento, quem sou eu para julgar, a Mafia da sopa de letrinhas, “reproduzindo-se como coelhos” etc., unida com suas dissimulações toscas sobre "clericalismo".
Essa combinação destruiu aquela constante que o estabelecimento conservador pós-Vaticano II sentia que sempre poderia contar: doutrina imutável sobre moral sexual declarando que o divórcio e o recasamento, os atos homossexuais, a contracepção, o aborto e práticas similares eram sempre coisas pecaminosas. Enquanto sob Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI essas doutrinas oficiais foram amplamente ignoradas na prática, elas ainda se mantiveram "nos livros". Para os conservadores, era como se sexo fosse tudo o que interessasse ao católico.
Quando o Furacão Francisco [no original Chaos Frank] começou a minar esses ensinamentos tanto por palavras quanto por obras, então os conservadores e neo-trads ficaram loucos. As heresias de Francisco sobre moral sexual, sua recente Carta Aberta afirma, são largos fundamentos para que os cardeais e bispos o considerem digno do crime canônico de heresia e, se ele não se arrepender, para declararem-no removido do papado.
Portanto, para eles, quando o assunto é papas heréticos e sedevacantismo, “sex sells".
Mas seria muito mais benéfico aos católicos no longo prazo, se os autores da carta examinassem o assunto mais amplo: Como chegamos a tal estado de coisas? Certamente, o ataque de Bergoglio ao Sexto e Nono Mandamento, assim como aos dogmas católicos sobre o pecado e a graça é horrível. Mas o que e quem tornou isso possível?
A resposta é o Vaticano II e os predecessores de Bergoglio.
A heresia modernista, implacavelmente suprimida por São Pio X, reemergiu no Vaticano II para plantar as sementes tóxicas da seus erros através de seus sims e poréns, baboseiras existencialistas, ambiguidades, enrolações, omissões, neologismos mortíferos, redefinições, falsas equivalências, distinções destrutivas e tudo o mais. E foram os próprios homens que os conservadores de hoje tratam como heróis da ortodoxia, João Paulo II e Bento XVI-Ratzinger, os que participaram do Concílio — no caso de Ratzinger, até mesmo dirigiu seu rumo teológico —, implementaram suas "reformas" e prepararam o caminho para os escândalos de Bergoglio.
Assim, enquanto se agravava a degeneração da fé e moral que o Vaticano II produziu, os conservadores e indultistas daquele tempo, contentes de que a moral sexual parecia imutável, passaram quarenta anos ignorando as declarações de João Paulo II e Bento XVI que desmantelaram, minaram e lançaram dúvida sobre largas porções do dogma católico.
Assim protegidos, ambos Wojtyla e Ratzinger — apesar da "teologia do corpo" do primeiro e da aprovação de camisinhas do último — puderam proclamar com força toda uma série de heresias sem ouvirem sequer um pio dos conservadores e neo-trads, porque o Sexto e o Nono Mandamento ainda estavam de algum modo "nos livros".
Porém, uma vez que o machado foi posto contra o dogma católico, a moral inevitavelmente será a próxima vítima. E essa é a verdadeira lição de moral que a "direita" da igreja Novus Ordo deveria tirar das heresias de Jorge Mario Bergoglio.
Então, enquanto é um sinal muito bom que certos conservadores e neo-trads cheguem ao estopim sobre um papa do Vaticano II por causa de suas heresias sobre a moral sexual, espero que eles passem a tratar esse dado como uma seta gigante de neon apontando para a miríade de heresias dogmáticas de seus predecessores e finalmente para a a verdadeira causa de todos os ais — as heresias modernistas que são o próprio fundamento do conciliábulo, o Vaticano II.