16.ª Lição de Catecismo da Doutrina Cristã. O Primeiro Mandamento da Lei de Deus.
Revise a lição sobre Os Mandamentos da Lei de Deus em geral.
PARTE POSITIVA
PARTE NEGATIVA
I. “Jesus lhes disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o máximo e o primeiro mandamento.” (Mt 22, 37s). Devemos a Deus um amor muito especial, sem igual, imenso, sobre todas as coisas, maior do que o amor que temos por aqueles de nossa casa, de nosso sangue, de nossa pátria; amor maior que o amor que temos pela nossa própria vida. De fato, o Primeiro Mandamento da Lei de Deus, “Não terás deuses estrangeiros diante de mim...” (Ex 20, 3ss) manda que somente a Deus se renda o culto supremo, aquela homenagem devida ao nosso único Criador e Senhor. Esse culto não deve ser somente interno (por meio de atos interiores de fé, esperança e caridade), mas também externo (por meio de obras exteriores). Assim como não é possível encontrar um filho que ame e respeite de verdade o seu pai, sem que lhe dê sinal algum de amor e respeito, também não é possível que o homem tenha vivos sentimentos de gratidão, adoração, amor e obediência a Deus, sem que isto se manifeste fora do seu espírito. Além disso, sendo Deus o Criador e Senhor absoluto tanto da alma quanto do corpo, deve-se prestar a Deus um culto da alma juntamente com o corpo.
II. a. O zelo pelo culto divino é a manifestação concreta de nosso amor a Deus. Um chinês piedoso veio até um missionário manifestar o seu desejo de construir uma capela em sua vila. O missionário, olhando para a sua simplicidade, comoveu-se pela boa intenção do rapaz, mas logo explicou que uma tal obra exigiria muitas despesas, que ele não teria condições de arcar com tantos gastos. É aqui então que o chinês revela o seu segredo: durante anos fez economia, contentando-se com o necessário para o seu sustento, de modo que tinha reunido uma soma mais que suficiente para a construção da igreja.
b. Um dia o grande chanceler da Inglaterra, Thomas More, quando assistia à Santa Missa, foi chamado pelo rei para um assunto importantíssimo. Thomas não se moveu do seu lugar, Pouco depois, novo recado; e o piedoso chanceler nem assim se moveu. Quando por fim um terceiro procurador chegou, a correr, pedindo-lhe que não se demorasse a ir ao gabinete do rei, Thomas respondeu que naquele momento estava prestando homenagem ao mais excelso Senhor e que só iria ter com o rei da Inglaterra, quando terminasse a Santa Missa. Thomas deu assim prova soleníssima de amar profundamente o seu Deus, porque o culto externo da Missa se juntava ao culto interno do seu coração.
III. O culto externo é um dever social. A sociedade, como o homem, pertence a Deus e a Ele está absolutamente sujeita. Por isso, a sociedade como tal, e o homem como seu membro, tem o restrito e sacrossanto dever de render ao Altíssimo um culto público e solene. Sem esta homenagem social, os homens coletivamente recusam reconhecer a Deus como base da ordem política e impedem que o Redentor exerça sua influência benigna sobre as instituições sociais. O resultado dessa rebelião contra a vontade divina é que os homens assim dispostos vivem em desunião e ficam à mercê de toda calamidade moral e natural.
IV. Recordemos o exemplo do povo de Israel. Quando este povo, para honrar o Senhor, construía tabernáculos preciosíssimos com as alfaias mais suntuosas, ele era pastoreado por Deus, por ele iluminado e protegido contra os seus inimigos. Mas quando se afastava dos caminhos do Senhor, era disperso e entregue aos seus inimigos. Que assim aprendamos que o culto público tributado a Deus não prejudica às nações, mas antes é fonte perene de bênçãos.
V. Além da distinção de culto externo e interno, o culto também pode ser privado (oração, meditação, leitura espiritual) ou público (também conhecido como litúrgico, dito em nome da Igreja, como a Missa, o Ofício Divino, os demais Sacramentos, sacramentais, bênçãos e procissões). O culto de Deus também pode ser direto, quando se refere ao mesmo Deus, ou indireto quando se refere a Deus por meio de seus servos mais excelentes. O culto supremo de Deus se chama de latria, o culto a Santíssima Virgem enquanto mãe de Deus se chama de hiperdulia, o culto a São José de protodulia e, por fim, o culto aos demais santos simplesmente de dulia. Este pode ser ainda absoluto, quando se dirge a pessoa diretamente, ou relativo quando se dirige a um símbolo, quadro, imagem ou estátua de Nosso Senhor, Nossa Senhora, dos Santos e Anjos de Deus.
VI. Logo a calúnia rabínico-protestante, segundo a qual os católicos violam o Primeiro Mandamento pelo culto aos Santos e veneração das imagens sagradas, carece de todo fundamento e contradiz a Bíblia. No Antigo e no Novo Testamento evidentemente há o culto às criaturas mais excelentes de Deus e fazem-se imagens delas para favorecer a piedade de todos. Porém, o culto que lhes é prestado é sempre secundário e subordinado ao culto divino: os santos e os anjos são reconhecidos como amigos de Deus e poderosos intercessores diante de Cristo, por isso eles são louvados em razão de sua fidelidade a Deus e para servirem de modelo aos fiéis.
Eis alguns exemplos bíblicos de culto aos Santos: Abraão (Gn 18, 2), Ló (Gn 19, 1) e Josué (Js 5, 14-15) prostram-se diante dos anjos do Senhor; Abdias, homem temente a Deus, também se curva por terra na presença do profeta Elias (3Rs 18, 7), os filhos dos profetas fazem o mesmo diante de Eliseu (4Rs 2, 15). Toda Escritura nos ensina a louvar e tratar com toda reverência os homens de virtude. “Demos louvores aos homens gloriosos como Moisés, Josué e Davi. A sua sabedoria é celebrada pelos povos e os seus louvores são repetidos nas sagradas assembleias.” (Eclo 44, 1-15) Não somente a pessoa dos santos, mas também aquilo que os representa, pois assim como a imagem de César gravada em uma moeda lembra do tributo que se deve pagar a César (Mt 22, 19-21), a imagem de um santo posta no altar nos lembra de render-lhe a devida homenagem; além disso, quem faz reverência a um símbolo relacionado com alguém deseja indicar sua reverência por este mesmo alguém, tal como fez Jacó inclinando-se diante da vara de José (Hb 11, 21).
VII. O Primeiro Mandamento proíbe a idolatria, a superstição, o sacrilégio, a heresia e todo e qualquer outro pecado contra a religião.
a. Idolatria é prestar a uma criatura o culto supremo de adoração devido só a Deus. Exemplos de idolatria se encontram entre os antigos egípcios, gregos e romanos, como também entre os hindus e tribos da América e da África. A idolatria é um gravíssimo pecado, porque coloca a criatura no lugar do Criador e assim faz a Deus a maior das injúrias. A gravidade da idolatria infere-se também dos tremendos castigos com que puniu os culpados. Por ordem do Senhor, vinte três mil homens foram passados ao fio de espada por terem adorado a um bezerro de ouro.
b. Superstição é toda e qualquer devoção contrária à doutrina e ao uso da Igreja, bem como atribuir a uma ação ou a uma coisa uma virtude sobrenatural que ela não tem. Exemplo disso são o tomar como sinal de desgraça o quebrar de um vidro, o canto da coruja, o encontro de uma pessoa em vez de outra ou quando se diz que fazendo tal coisa ou usando tal outra se estará infalivelmente livre de incêndios, naufrágios, morte súbita etc. A superstição é um pecado horrível, porque nela pode intervir o demônio e se deposita em coisa de nenhum valor aquela confiança ilimitada que devemos ter somente em Deus,
c. O sacrilégio é a profanação de um lugar, de uma pessoa ou de uma coisa consagrada a Deus ou destinada ao seu culto. O sacrilégio é dito pessoal quando se agride ou ofende um sacerdote ou religioso enquanto tal; ele é dito local, quando se estraga ou profana um ambiente reservado ao culto divino; e real, quando o que estraga ou profana são coisas como vestes e vasos sagrados. Todas essas formas de sacrilégio são graves, como testemunha a Sagrada Escritura: A insolência dos meninos que zombavam de Eliseu foi severamente punida (4Rs 2, 23-24); a tentativa de Heliodoro de assaltar o Templo resultou na vingnça do Senhor (2Mc 3); o reino de Baltasar terminou na hora em que chegou ao cúmulo de usar os vasos sagrados do Templo para uso profano (Dn 5).
d. Heresia é a negação pertinaz e voluntária de qualquer verdade revelada por Deus e pela Igreja proposta como tal. A heresia é um enorme pecado contra o Primeiro Mandamento, porque contém a mais declarada rebelião da inteligência contra Deus e a sua Igreja. O orgulho sempre foi a fonte comum de todas as heresias. Não ligar importância à doutrina do Catecismo, não buscar a instrução religiosa, também é pecado contra o Primeiro Mandamento.
e. O Primeiro Mandamento também proíbe o comércio com o demônio na forma de adivinhação, magia ou espiritismo; bem como a associação com seitas anti-cristãs, especialmente a seita maçônica e a comunista.