DESILUSÕES COM AS TECNOLOGIAS:
- Publicado em 30/04/2017
- Por Diogo Rafael Moreira
[14:02, 30/4/2017] +55 47 9108-3580: A Carol levantou uma questão interessante. Ela tocou no problema da transmissão do conhecimento, particularmente os meis pelos quais o conhecimento, seja qual for, é conservado. De lá para cá muita coisa mudou, mas eu suspeito que superestimamos muito as tecnologias de que dispomos atualmente. Você pode considerar rudimentar aquela pele de carneiro sobre a qual os antigos escreviam livros com pena e tinta, mas aquela pena e tinta não dependia de energia elétrica para existir e não desaparece da sua frente quando acaba a luz, por outro lado, todos os sesu ebooks e arquivos do computador desaparecem na falta dela.
[14:05, 30/4/2017] +55 47 9108-3580: Outro fator é a quantidade. Todos falam que hoje temos mais acesso à informação. Isso é em parte verdade, você pode, por exemplo, baixar uma multidão de livros no seu computador, muito mais do que um monge medieval poderia ter na biblioteca de seu mosteiro. Mas isso significa que você irá lê-los? Insistamos um pouco mais, isso significa que você irá entendê-los? Um pouco além, esse conhecimento é realmente importante ou é perda de tempo? Ele é essencial?
[14:12, 30/4/2017] +55 47 9108-3580: Digo mei-averdade, porque é óbvio que, por exemplo, nem tudo está disponível na internet e que a maior parte das informações que faziam parte do currículo de uma pessoa que viveu há cento e cinquenta anos atrás difere muitíssimo do currículo contemporâneo. Um exemplo que me impressionou muito era o do Padre Eduard Hugo que, entre seus colegas, era chamado de pequeno Homero, porque na sua adolescência ele adorava recitar os versos de Homero, claro que ele os recitava em grego, como todo adoslescente que frequentava um colégio na França do início do século XX aprendia. Hoje os mesmos jovens que vão ao colégio, maiores em número, saem de lá com um francês mal digerido, talvez algum inglês. Mas eles já não tem acesso a Homero e Virgílio pelo simples fato de não saberem grego e latim, eles podem aprender por uma tradução, mas é claro que não é a mesma coisa, Homero e Virgílio não escreveram em francês, assim como Camões não escreveu em inglês.
[14:38, 30/4/2017] +55 47 9108-3580: No caso da poesia a língua original é particularmente importante, o mesmo vale para a religião: normalmente uma língua morta é conservada para que não se perca, com o vai e vem da línguagem e o surgimento de gírias e metáforas, o significado orginal das palavras sagradas. Os hindus conservam o sânscrito, os judeus o hebraico, os católicos o latim, os protestantes, de um modo geral, recorrem ao grego e ao hebraico em caso de controvérsias e elucidações, as línguas usadas na Bíblia. Se essas línguas fossem deixadas de lado ou perdidas de vista, muito da religião se perderia junto. E é exatamente isso que nós podemos testemunhar hoje em dia: uma perda das tradições religiosas, mesmo as mais populares. Português não é uma língua sagrada, ela não foi feita para isso; ela não é a língua da revelação. No alto da Cruz você lê "Iesus Nazarenus Rex Iudeaorum" em aramaico, latim e grego, não em português. Se na religião não é só o homem que faz as coisas para Deus, mas é também Deus que faz as coisas para o homem, então ele vai fazê-las do modo que Deus fez de uma vez por todas: de maneira perpétua, sem mudança ou variação. Se Deus fala nos Sacramentos, e fala desde a eternidade, ele vai usar a língua que sempre usou: Cristo usa o mesmo latim, aramaico e grego - mudar a língua corre o risco de mudar o significado; a tradução pode ser feita, muito bem, mas ela causa problemas e os problemas estão aí para quem quiser ver. As pessoas não tem o mesmo acesso às informações que uma senhora do Apostolado da Oração tinha na década de 30. Ela provavelmente sabia as respostas da Missa de cor, sabia recitar o Pater, a Ave Maria, o Gloria e a Salve Regina em latim e conhecia os nomes e signidicados das três virtudes teologais e das quatro cardeais, os dez mandamentos, os cinco preceitos da Igreja, os sete pecados capitais, os seis dons do Espírito Santo, os sete Sacramentos,, as nove bem-aventuranças, os doze artigos do Credo etc. Nós não temos mais acesso a coisas que a vovó sabia de cor e salteado.
[14:45, 30/4/2017] +55 47 9204-5158: Sim verdade...muitas palavras no Hebraico tem um significado diferente da forma escrita.
[14:48, 30/4/2017] +55 47 9108-3580: A questão é que o conhecimento é infinito, principalmente porque o objeto do conhecimento é Deus, o qual não tem fim, mas nem todo conhecimento é necessário. É necessário aprender um ofício que seja para o bem comum, atenda alguma necessidade do próximo e nos ajude a atingir o fim último do homem, esse fim último para alguns é "o sono eterno", o mesmo em que os outros animais entram quando morrem, e para outros é a salvação ou danação da alma, e existem ainda outras ideias. A mim parece que as pessoas do passado dirigiam as suas vidas mas para esse fim último e menos para os fins imediatos, tais como quantas coisas eu posso comprar e consumir para viver bem aqui e agora, para dar um bom sustento a família etc. todas coisas honestas e boas numa certa medida, mas que eu acho que exageramos muito.
[14:57, 30/4/2017] +55 47 9196-0552: Quanta inspiração....
Muito oportunas essas colocações, pois hoje se estuda muito, se aprende muito, se sabe muito, por outro lado esse muito não resulta ou resultou em melhor qualidade de vida, de relacionamento com o próximo ou mesmo com "Deus".
Hoje o volume vale mais do que a qualidade.....
[14:58, 30/4/2017] +55 47 9108-3580: Eu tenho certeza - e o Mr. Robert Bolton o confirma no seu The Order of the Ages - que o telescópio poderia ter sido inventado em 1200. Lá pelo reinado de Afonso o Sábio havia tudo o que era precisa para descobrí-lo, por que o mundo teve que esperar por Galileu? Porque não havia interesse. Desde o século XVIII aqueles que representam a elite do pensamento na Europa são lucos por novidades e revoluções, eles favorecem o descobrimento dessas coisas, em grande parte porque eles acreditam somente nessas coisas. O homem medieval também acreditava nelas, mas não somente nelas. Saber a velocidade da luz não era tão importante quanto saber que no princípio Deus disse Fiat Lux e que Cristo disse Ego sum lux mundi.
[15:05, 30/4/2017] +55 47 9108-3580: Uma das coisas que caracterizou a Revolução Científica foi um homem achar que tinha autoridade para colocar a Bíblia em dúvida. Toda a história de Galileu se resume nisso. Ele dizia que sabia mais que a Bíblia, a Igreja dizia que os cálculos estavam certos, mas as mesmas coisas poderiam ser calculadas no sistema geocêntrico de Tycho e que o fato de Jupiter girar em torno do sol não implica necessariamente que a terra gira em torno do sol. O Cardeal Belarmino falou que não havia evidência para isso, outros astrônomos diziam o contrário, mas Galileu insistiu e, por ser teimoso, foi condenado pela Inquisição. Galileu ficou famoso, porque ele foi condenado pela Inquisição e pessoas que amam novidades acima de tudo adoram ouvir histórias de "mártires da ciência", pessoas tão incrédulas quanto elas que, por algum motivo, viveram antes delas. Mas acontece que ele não foi um mártir da ciência, no máximo, ele foi um advinho ou profeta, porque Galileu disse algo que não podia provar com as ferramentas que tinha.
[15:09, 30/4/2017] +55 47 9108-3580: O pior é que ainda hoje não se tem como provar, a única coisa que mantém o heliocentrismo de pé é o costume e a propaganda. Wolfgang Smith diz em seu livro Ancient Wisdom and Modern Misunderstanding que hoje existem tão boas ou talvez melhores razões para se adotar o geocentrismo que o heliocentrismo. Seja como for, o heliocentrismo moderno é completamente outra coisa que o heliocentrismo defendido por Galileu, que é comprovadamente errado. Ficarei por aqui mesmo, mas se um dia houver a oportunidade de discutir sobre a "cosmologia" de Galileu, vocês também terão a oportunidade de descobrir que ela é um equívoco e que, nessa questão, o Aristóteles tinha mais razão que ele e Descartes juntos.
[15:16, 30/4/2017] +55 47 9108-3580: Resumindo: as novidades tecnológicas são boas, mas não são tudo. A bondade delas também é matéria para ser discutida. Sob certo aspecto são excelentes, sob outras são terríveis. Elas distraem e podem destruir a sua inteligência. Eu prefiro enfatizar os aspectos terríveis, porque se fala menos deles. Hoje você supostamente tem mais informação, mas você depende de um computador, não só dele, mas de energia elétrica, não só dela, mas de telefone, não só dele, mas de alguém que faça manutenção, não só dele, mas de acessórios para prevenir que se percam os arquivos e garantir que ele funcione bem. Aqui em casa tenho um livrinho escrito nos anos 40. Nunca precisou de manutenção feita por terceiros, eletricidade ou qualquer coisa semelhante.
[15:19, 30/4/2017] +55 47 9108-3580: Outra coisinha terrível: a tela de um computador, smartphone ou tablet libera uma substância chamada dopamina em seu pobre cérebro. Ela gera uma sensação de prazer semelhante a trazida pelo açúcar. Estudos mostram que o cérebro de uma pessoa que se expõe diariamente a essas maravilhas é semelhante a de um viciado em heroína, isso é mais verdadeiro se você aplicar à crianças.
[15:21, 30/4/2017] +55 47 9108-3580: A recomendação é que se evite expor crianças "abaixo dos 18" a mais que uma hora de "tela brilhante". O que um pobre coitado que tem que trabalhar na frente de um computador oito horas por dia pode fazer quantto a isso? Bem, não há muito a ser feito. Sobre as crianças, o negócio é limitar o tempo em frente a TV e nesses aparelhos. Aqui em xasa baixei para 2h no máximo.
[15:23, 30/4/2017] +55 47 9108-3580: Vocês já estranharam que as crianças de hoje são tão agitadas e, no entanto, quase desmaiam de sono durante as aulas? Não é que elas acham "chato", mas aquilo não estimula os olhinhos delas, já acostumados com telinhas brilhantes. Tente dar café sem alúcar para alguém que se acostumou com o açúcar e você terá o mesmo efeito.
[15:24, 30/4/2017] +55 47 9108-3580: Não é bem o café, mas o açúcar que ela gosta. Não é bem o "Minecraft" - se bem que ele também produz um estrago por si próprio -, mas é a telinha brilhante, aqueles pontinhos sempre em movimento que o "usuário mirim" quer porque quer.
[15:34, 30/4/2017] +55 47 9108-3580: Então, sim, as tecnologias são lindas e maravilhosas, mas nosso entusiasmo é em grande parte comparável àquele do bêbado que se compraz no seu vício. Beber é? Booomm... mas será que eu não estou exaltando demais os méritos da bebida a fim de esconder ou diminuir o triste fato de que eu já me tornei escravo dela? Será que eu não exalto "os grandes descobrimentos da humanidade" para enganar a mim mesmo, para fazer de conta que a vida é piorou? Eu trabalho dia e noite para manter essa imensa engrenagem que jamais termina rodando, as inovações que tem que sair para a glória dos potentados econômicos, mas será que vale a pena? Será que é saudável? Lembrem que saúde vem de salus, mesma raiz da palavra salvação, então, será que isso me liberta, me salva?
[15:38, 30/4/2017] +55 47 9108-3580: Os transgênicos e demais produtos alimentícios também são uma coisa terrível. Há muita informação na internet, nem vou entrar nessa questão. Que tal a indústria médica e farmacêutica, aqueles remédios tão caros que no mais das vezes geram efeitos colaterais que levaram você para outro médico daqui há um ano? E os médicos? Também há o bastante na internet sobre "negligência clínica", alguns números impressionantes até. Mas o pior são os equipamentos que vai ano e vem ano e não param de encarecer, estranho não? Rios e rios de dinheiro, lotes do seu suor vão ser gastos nessas coisas que, um tempo atrás, não existiam.
[15:49, 30/4/2017] +55 47 9108-3580: E o que me dirão do sistema judiciário? Hoje eles podem achar você em qualquer lugar mermão. Se o povo não se preocupasse tanto com progresso material, a maior parte dos processos não existiria. A vara trabalhista e civil que o digam. Mas todos querem inovações, não é? Todos querem uma vida confortável e, muitas vezes, através do parasitismo puro e simples. Quantos empregos a lei do divórcio e a liberação da pornografia geraram! Advogados e atores foram contratados, pessoas tiveram emprego com carteira assinada. Com o passar do tempo excitar o conflito nos lares e as paixões alheias mediante novelas, filmes e música se torna uma necessidade econômica, o material não pode ficar parado no pátio, sabe como é. Advogado precisa comer, assim como aquele ator. Imagina se as pessoas resolvem ser virtuosas? Coisa horrível, vamos convencê-los que defender essas coisas se chama "liberdade" fazendo deles nossos escravos voluntários. É claro que a maior parte deles não pensa assim, não dizem isso expressamente, mas eles agem assim e onde há um ação, há uma ideia.
[15:50, 30/4/2017] +55 47 9108-3580: Então, aí estão algumas observações minhas sobre as tecnologias. Como você veem, eu tenho estado um pouco desiludido com elas. Eu não sei ainda sobre o que vou falar, o assunto é legal, mas não tenho muito interesse em tecnologias, contento-me em usá-las e, se possível, bem pouco.