21.ª Lição de Catecismo da Doutrina Cristã. Sexto e Nono Mandamento da Lei de Deus: Não pecar contra a castidade. Não cobiçar a mulher do próximo.
I. O Sexto Mandamento é Não pecar contra a castidade. Ele nos proíbe qualquer ação, olhar ou palavra que atentem conta a castidade ou a fidelidade no matrimônio. O Nono Mandamento é não cobiçar a mulher do próximo. O Nono Mandamento proíbe expressamente todo o desejo contrário à fidelidade que os conjugues juraram um ao outro ao contrair matrimônio e proíbe também todo o pensamento culpável ou desejo de ação proibida pelo Sexto Mandamento.
II. O Sexto e o Nono Mandamento são apresentados em conjunto, porque estão intimamente ligados entre si, como o pensamento anda ligado à obra, como a intenção à execução, como a causa ao efeito; e mutuamente se completam, tanto nos mandamentos quanto nas proibições. Na verdade, o Sexto Mandamento proíbe atos, palavras, olhares, livros, figuras e espetáculos imorais; o Nono, todo o pensamento impuro. O Sexto ordena que sejamos santos no corpo, tendo pela nossa pessoa e pela dos outros o máximo respeito; o Nono nos ordena a máxima pureza de alma e o máximo respeito pelo ato conjugal.
A. OS MALES DA IMPUREZA.
III. O Sexto Mandamento proíbe a impureza. A impureza é um ato gravíssimo e abominável. Os Livros Santos, os Santos Padres e a Igreja a condenam, assim como a reprova a consciência humano e o sentido íntimo da natureza. Mesmo as pessoas mais corruptas se envergonham deste vício e o praticam em segredo. Realmente, como poderia ser leve e de pouca importância um delito que destrói a ordem natural contra a vontade do Criador, um delito que viola as leis mais sagradas que presidem a conservação do gênero humano? Por isso, o Apóstolo escreve aos Coríntios: "Não vos enganeis: nem os fornicadores, nem os adúlteros, nem os efeminados hão de possuir o Reino de Deus." (1Cor 6, 9 cf. Ef 5, 5). O Dilúvio Universal, que destruiu todo o gênero humano, à exceção de Noé e sua família; e o fogo que destruiu as populosas cidades de Sodoma e Gomorra atestam de forma eloquentíssima a gravidade da luxúria, porque foi para punir este pecado que esses tremendos castigos desolaram a terra.
IV. A impureza provoca consequências dolorosas. A desonestidade (1) extingue a fé, que é a porta da vida sobrenatural; (2) arruína a saúde e não raro apressa a morte do corpo; (3) endurece o coração, rendendo a pessoa insensível ao próximo e aos apelos da própria consciência e (4) frequentemente conduz à impenitência final.
V. Henrique VIII, rei da Inglaterra, que tinha merecido o epíteto de defensor da fé, abjurou da Igreja Romana para cair em adultério. Lutero despiu o hábito de Santo Agostinho e renegou a sua ordem pelo vício desonesto. Teodoro Beza, apertado pela lógica de São Francisco de Sales, estava a ponto de cair nos braços do Santo, quando mostrando-lhe uma jovem lindíssima, disse-lhe: Não posso, essa é a única causa de minha incredulidade.
VI. Os pensamentos e desejos impuros podem vir da concupiscência, de paixões fortuitas ou de sugestões diabólicas. Enquanto a alma se desgosta deles e internamente os detesta, enquanto a vontade resiste energicamente às tentações, o coração permanece casto e imaculado, não há pecado algum e o cristão confirma-se na virtude e multiplica os seus merecimentos para o céu, do mesmo modo que oferece ao rei e a pátria cem provas da sua lealdade e da sua coragem, o soldado que por cem vezes repele o inimigo. São, porém, culpáveis os pensamentos e desejos impuros quando a vontade toma parte neles e neles se deleita. Por isso, ao aproximar-se o inimigo, faça-se logo a devida resistência com coragem pela honra de Deus e pela dignidade e salvação da alma. Lembre-se que com fogo não se brinca: as tentações sensuais são uma chama terrível assoprada com arte finíssima pelo espírito do mal. Por fim, no meio da luta, haja plena confiança em Deus, recorrendo a ele com fervorosas preces, assim como os meninos correm aos braços dos pais ou pelo menos gritam pedindo seu socorro quando avistam um lobo.
B. A CASTIDADE.
VII. O Sexto Mandamento ordena a castidade e a modéstia nas ações, olhares, porte e palavras. O Nono ordena que o sejamos mesmo no nosso íntimo, isto é, no espírito e no coração. A castidade é comumente considerada sob três formas diversas, conforme o diverso estado de vida em que cada qual se encontra: (1) castidade das pessoas casadas, (2) das viúvas e (3) das virgens.
1) A castidade conjugal exige que o marido e a mulher vivam fiéis entre si e quer que os cônjuges, no uso do matrimônio, tenham sempre em vista o fim principal para o qual foi santificada a sua união, fim expressamente indicado pelo Anjo Rafael a Tobias: “Desposarás esta virgem no temor de Deus, movido mais pelo desejo de ter filhos do que por outra qualquer inclinação”. Seria erro gravíssimo imaginar que no estado conjugal tudo é lícito e não pode ser ofendida pelos cônjuges a virtude da castidade. O crime mais negro que perturba, divide, ultraja e profana a castidade conjugal é o adultério, que tem lugar quando um dos cônjuges tem relações conjugais com pessoa estranha, livre ou casada. O adultério é um latrocínio, mas pior e mais grave do que qualquer latrocínio (São João Crisóstomo), é um “crime horrendo e grandíssima iniquidade” (Jó 31, 11). Pela fidelidade jurada nos altares, “a mulher casada já não é de si mesma, mas do marido; do mesmo modo o marido não é de si mesmo, mas da mulher.” (1Cor 7, 4) O adultério rompe esse contrato, indissolúvel por lei divina, usurpa um bem de outrem, viola a sagrada posse do companheiro de vida. Quantos conflitos, quantos esbanjamentos de dinheiro, quantos patrimônios arruinados, quantos escândalos, quantas divisões de família desgraçadamente causadas pela infidelidade conjugal!
2) A castidade das viúvas, estende-se às pessoas que, unidas antes pelo matrimônio, ficaram livres pela morte do cônjuge. Os cônjuges em estado de viuvez, para se conservarem castos, devem abster-se de qualquer prática ou deleite carnal.
3) A castidade virginal encontra-se nas pessoas que nunca se uniram pelo matrimônio, e propuseram se abster até a morte de qualquer prazer carnal. A virgindade é o grau mais excelso da castidade, a qual é simbolizada por uma flor lindíssima, o lírio, bela pelo seu aroma e por sua cândida carola.
VIII. Jesus, para mostrar o altíssimo valor da virgindade, quis nascer duma mãe sempre virgem; virgem era seu pai putativo, São José; de virgindade quis que brilhasse a fronte de seu Precursor; por causa da virgindade revelou um especialíssimo afeto ao Apóstolo São João e Ele próprio teve a pureza como inseparável companheira de toda a vida. Eis por que os Padres da Igreja, em coro unânime, cantam a glória sublime da virgindade, eis por que os Santos a estimaram a ponto de preferirem antes os maiores tormentos e a própria morte do que violarem a própria candura.
Para conservar a pureza, lançou-se São Francisco de Assis em um lago gelado; São Bento revolveu-se entre os espinhos; Santa Inês, vendo o carrasco olhá-la com olhos lascivos, exclama: “Por que tardas? Fere para que morra este corpo provocador e para que a alma vá para Jesus.”
IX. Para guardar a castidade é necessário evitar ocasiões próximos ou circunstâncias favoráveis à impureza. Em geral, deve evitar-se as seguintes coisas: (1) a ociosidade, que costuma ser a porta de entrada de impuros deleites; (2) as más companhias, especialmente a amizade com pessoas de sexo diferente sem o conhecimento dos pais sem a intenção ou esperança de matrimônio; (3) as más conversas; (4) a leitura de livros e jornais imorais; (5) a vista de figuras indecentes, quer em revistas, apresentações teatrais, programas de televisão ou qualquer outra mídia digital; (6) os bailes, por serem em geral o sepulcro do pudor; e (7) a intemperança no comer e no beber, sobretudo no tocante ao consumo de bebidas alcoólicas.
X. Para bem observar o Sexto e o Nono Mandamento, devemos fazer as seguintes coisas: (1) invocar frequentemente e de todo o coração a Deus; ser muito devotos da Virgem Maria, Mãe da Pureza; (3) praticar o exercício da presença de Deus, sabendo que Ele nos vê a todo instante; (4) pensar na morte, nos castigos divinos, na paixão de Jesus Cristo; (5) guardar os nossos sentidos, de modo especial os nossos olhos; (6) mortificar-se; e (7) frequentar os Santos Sacramentos com as devidas disposições, sobretudo os da Penitência e da Comunhão.