OBJEÇÃO AO VÍDEO UMA HERESIA DE FRANCISCO APONTADA AO ITALO MARSILI: O que cessou foi a Aliança-Lei (prescrições da Lei de Moisés), mas não a Aliança-promessa (as coisas que Deus prometeu ao povo eleito).
RESPOSTA: […] Deixe-me apontar para o problema desta teoria, que acima qualifiquei como judaizante:
Se a Aliança antiga nunca foi revogada quanto às suas promessas, então a pergunta que não quer calar é: quais são elas?
Em Levítico 26 temos várias delas, postas de forma condicional e atreladas ao escrupuloso cumprimento da Lei antiga, ao lado de uma porção de ameaças correspondentes, se eles não a cumprirem. Mas a Aliança-lei foi revogada, então como é que eles podem herdar tais promessas? A resposta é: eles não podem, pois exige-se expressamente o cumprimento da Lei. Logo, a Aliança-promessa foi revogada junto com a Lei, pelo menos em todos estes casos de promessas condicionais.
Há, que eu saiba, uma promessa absoluta de redenção com a vinda do Messias em sua Igreja, profetizada em várias passagens, eventos e ritos do Antigo Testamento, acompanhada daquela de que o Senhor reinaria sobre todos aqueles que nele cressem. Tal se verificou em Jesus Cristo e na Igreja Católica como demonstram os Evangelistas, Apóstolos e Santos Padres. Mas se assim é, já não se trata de promessa, mas de realização e consumação da Aliança. Quando o que foi acordado em um contrato futuro se cumpre, isso equivale ao vencimento do contrato. Logo, quanto às profecias messiânicas dirigidas a Israel, fruto da livre eleição e vocação de Deus, também não há mais o que esperar, senão que eles se convertam à Nova Aliança, fundada na fé e na graça de Jesus Cristo. Portanto, a Aliança-promessa cessou.
Esse é, em linhas gerais, o grande problema que torna não satisfatória tal explicação. O que parece lhe dar alguma aparência de fundamento é uma pequena confusão entre uma profecia escatológica sobre a conversão dos judeus à fé cristã no fim dos tempos, em atenção aos Patriarcas e à bondade de Deus para com Israel, como consta em várias passagens do Antigo Testamento, e uma suposta salvação universal dos judeus pela Antiga Aliança, o que se apoia na blasfema negação do mistério da Encarnação. Quanto à isso, respondo que São Paulo foi claro ao ensinar que hoje em dia só pode ser contado como semente de Abraão o judeu que crer em Jesus Cristo e que os tais que se salvarão jamais o serão enquanto ficarem na incredulidade judaica. Portanto, ou os judeus de hoje serão salvos pela Nova Aliança, ou serão condenados, porque, em última análise - e este é o argumento capital do cristianismo - nenhum judeu é capaz de cumprir a Lei Antiga sem a fé e a graça de Jesus Cristo. Esse é o ponto final.
Se o senhor quiser aprofundar-se neste assunto, eis algumas considerações mais elaboradas da mesma coisa:
Não podem ser tidos como herdeiros de Abraão aqueles que não imitam a sua fé e obediência a Deus. Se é verdade que um dia, em atenção dos Patriarcas, a Aliança com todo o Israel segundo a carne será renovada, isso não sucederá senão por meio de sua conversão à fé de Jesus Cristo, isto é, à Nova Aliança. Enquanto isso, eles são ramos cortados da oliveira, não são verdadeiros filhos de Abraão.
Por isso, São Paulo repete o tempo todo que nós cristãos, e não os judeus, somos os verdadeiros filhos e herdeiros da Aliança feita com Abraão: "Nem os que são linhagem de Abraão, todos são seus filhos: Mas de Isaac sairá uma estirpe que há de ter o teu nome: Isto é, não os que são filhos da carne [os judeus], esses tais são filhos de Deus: Mas os que são filhos da promessa [os cristãos], se reputam descendentes." (Rom. 4, 7-8). "E nós, irmãos, somos filhos da promessa segundo Isaac." (Gál. 4, 28). "Porque a promessa a Abraão, ou à sua posteridade, de que seria herdeiro do mundo, não foi pela lei [dos judeus]: Mas pela justiça da fé. Porque se os da lei é que são os herdeiros, fica aniquilada a fé, sem valor a promessa." (Rom. 4, 14). "Reconhecei pois que os que são da fé, esses tais são filhos de Abraão. Mas vendo antes a Escritura, que Deus pela fé justifica as gentes, anunciou primeiro a Abraão: Em ti serão pois benditas todas as gentes. Assim os que são da fé, serão benditos com o fiel Abraão. Porque todos os que são das obras da Lei, estão debaixo da maldição. Porque escrito está: Maldito todo o que não permanecer em todas as coisas, que estão escritas no Livro da lei para fazê-las… Mas a Escritura todas as coisas encerrou debaixo do pecado, para que a promessa fosse dada aos crentes, pela fé em Jesus Cristo… Não há judeu, nem grego: Não há servo, nem livre: Não há macho, nem fêmea. Porque todos vós sois um em Jesus Cristo. E se vós sois de Cristo: Logo sois vós a semente de Abraão, os herdeiros segundo a promessa." (Gál. 3, 7-10. 22. 28-29). Logo, se os judeus não são de Cristo, então eles não são a semente de Abraão, os herdeiros segundo a promessa. Portanto, não é ao Israel carnal, mas ao Israel espiritual, não aos filhos da escrava, mas aos filhos da livre, não à Sinagoga, mas à Igreja, que se aplicam as promessas feitas a Abraão e sua Aliança com Deus.
O mesmo se depreende das palavras do mesmo Apóstolo no lugar "judaizado" pelos modernistas: "Virá de Sião um que seja libertador, e que desterre a impiedade de Jacó. E esta será com ele a minha aliança: Quando eu tirar os seus pecados." (Rom. 11, 26b-27). Isto é, com estes que agora estão cortados da oliveira, do povo de Deus, da verdadeira descendência de Abraão; farei aliança quando vier até eles o libertador, isto é, quando crerem em Jesus Cristo pela fé e receberem a sua divina graça, sem a qual não podem livrar-se dos seus pecados. Enquanto isso não ocorre, não há aliança alguma com eles, pois os filhos da incredulidade não são semente do fiel Abraão, da mesma forma que os gentios antes não o eram depositários da Aliança por conta de sua incredulidade: "Porque assim como também vós em algum tempo não crestes a Deus, e agora haveis alcançado misericórdia pela incredulidade deles: Assim também estes agora não creram na vossa misericórdia. Porque Deus a todos encerrou na incredulidade, para usar com todos de misericórdia." (Rom. 11, 30-32). Em outras palavras, os pagãos ficaram um longo tempo privados da aliança com Deus por conta de sua incredulidade, enquanto os judeus segundo a carne gozavam da misericórdia de Deus; porém, no final dos tempos, quando a multidão das gentes abraçar ao Evangelho, gozando de sua misericórdia, então os judeus, por longo tempo nesta condição de incredulidade e privação da aliança, serão também eles convertidos à fé de Jesus Cristo. É assim que se deve entender o mistério escatológico de que fala o Apóstolo em Rom. 11, 25, isto é, em consideração dos Patriarcas e da grande misericórdia de Deus (cf. Gên. 17, 19; Levit., 26, 42; Deut. 4, 37; 7, 6-8 etc. etc.), mesmo depois de castigados com severidade por sua falta de fé, o que acontece até aos nossos dias, eles serão enfim convertidos ao Senhor Jesus Cristo.
O mesmo se pode inferir logicamente, ao modo escolástico: Se a aliança com Deus se funda na caridade (que é o perfeito cumprimento da Lei), e a caridade na fé, pois não se pode amar o que não se conhece. Logo, não pode haver aliança com Deus sem a mesma fé. Portanto, uma vez promulgado o Evangelho, os judeus enquanto incrédulos no Messias não possuem qualquer aliança com Deus. Isso concorda com as frases de Nosso Senhor, dos Apóstolos, de São João Crisóstomo e outros Padres, indicadas no vídeo acima.