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DO LATIM AO VERNÁCULO I: UMA ESTRATÉGIA REVOLUCIONÁRIA
  • Publicado em 11/08/2021
  • Por Diogo Rafael Moreira

DO LATIM AO VERNÁCULO: PRETEXTOS HERÉTICOS CONTRA MOTIVOS CATÓLICOS

1.ª Parte

No capítulo 4 do livro OBRA DE MÃOS HUMANAS do Reverendo Padre Anthony Cekada, fala-se da passagem do latim ao vernáculo na Missa, que aconteceu como efeito da implementação da Constituição sobre a Sagrada Liturgia (Sacrosanctum Concilium) do Concílio Vaticano II. Foram cinco anos de intenso trabalho (1964-1969), que, na prática, expulsaram 1600 anos de latim das igrejas, seminários e escolas católicas. A verdadeira causa desta mudança, considerada radical até mesmo por aqueles que a implementaram, será o objeto de nosso estudo ao longo deste artigo.


I. UMA ESTRATÉGIA REVOLUCIONÁRIA

A mudança de língua é, e sempre foi, a maneira mais eficaz de destruir com a memória e a identidade de um povo. Dos anos trinta em diante, aqui no Brasil, em muitas partes de Santa Catarina e outras regiões de colonização germânica, o governo Vargas, e com ele as administrações posteriores, terminantemente proibiram o uso e o ensino do alemão. A ideia era vender aos colonos a propaganda nacionalista de então e cortar, de maneira definitiva, os laços destes com o seu país de origem. De fato, antes das festas germânicas se tornarem um evento turístico popular em Blumenau, falar em alemão ou simplesmente sê-lo, já era o bastante para receber humilhações em público. É o que contam as pessoas do lugar. Um pouco disso, muito pouco porém, foi registrado no curta-metragem "Proibido falar Alemão", integrante do projeto "Nossas Raízes, Nossa Luta - difusão do material de pesquisa" vencedor do prêmio Elizabete Anderle de Estímulo à Cultura 2014 - categoria Patrimônio Imaterial (https://youtu.be/tGEKF__0tpc).

Mutatis mutandis, foi mais ou menos isso o que os modernistas pretendiam com a mudança de língua litúrgica: manipular as massas (encher-lhes de novas ideias) e cortar os seus laços com o passado (jogar fora as antigas ideias).

A analogia é igualmente acertada quando pomos, lado a lado, o fenômeno da defunta Missa de Motu Proprio com a famosa Oktoberfest. Não há nenhum problema em ser alemão de maneira teatral e folclórica, vestindo roupas e bebendo cerveja; enquanto isso não tem consequências práticas sérias, e não repercuta em seu modo de pensar a política, tudo bem. É apenas um entretenimento inofensivo, afinal, a lavagem cerebral já foi feita e a tradição já se perdeu. O mesmo vale para o pessoal do Motu Proprio, enquanto aquilo é somente um saudosismo sem consequências práticas sérias, eles podem seguir em frente com vestes litúrgicas antigas e até mesmo com algum latim. Mas, quando acontece, como parece ter ocorrido no episódio da Traditionis Custodes, de seus frequentadores terem começado a pensar a religião de acordo com o catolicismo tridentino, aí não, isso precisa ser parado imediatamente. Foi isso o que Bergoglio fez, para que todos saibam que extrapolar o paradigma folclórico-saudosista a la Oktoberfest significa romper com as mudanças doutrinais, morais e disciplinares implementadas pelo Concílio Vaticano II. De fato, para os modernistas, as inovações do Vaticano II sempre serão inegociáveis, o jeito será voltar a proibir o alemão, digo, o latim; porque o catolicismo de verdade tradicional não pode ser tolerado.

Mas a mudança de língua, dizia eu, é uma velha estratégia para substituir os modos e ordens de uma religião ou população antiga por aqueles de uma nova. Já a encontramos descrita nas páginas do ímpio Maquiavel que, com seu hiperbólico ceticismo, diz que só nos resta vaga lembrança dos tempos passados, porque sempre que uma nova seita chega ao poder no mundo, seja religiosa, seja política, ela procura destruir tudo aquilo que foi feito pela anterior, e tal operação - destaca ele - somente pode ser considerada 100% bem-sucedida, quando se destrói a língua antiga.

Como exemplo de destruição parcial, ele nos dá o cristianismo, que sob São Gregório Magno e outros papas, procurou, por todos os meios, apagar da face da terra a memória da religião pagã. Contudo, por graves razões, manteve-se a língua antiga, o que nos dá ainda alguma ideia, embora tênue, do que acreditavam e faziam os antigos pagãos. Já como exemplo de destruição total da memória de um povo, ele dá a história do que sucedeu com os toscanos: "[…] a Toscana", diz ele, "já era poderosa, cheia de religião e virtú, tinha seus costumes e sua língua pátria, e tudo foi extinguido pelo poderio romano. Assim, conforme se disse, dela só ficou a memória do nome." (MAQUIAVEL, Nicolau. Discursos sobre a Primeira Década de Tito Lívio [Livro II, 5]. São Paulo: Martins Fontes, 2007, p. 203).

Troque-se Toscana por Igreja Católica e romanos (referindo-se aos antigos romanos) por modernistas, e temos um bom retrato do que ocorreu depois do Concílio Vaticano II: do catolicismo só ficou o nome, tudo o mais tendo sido mudado, inclusive sua língua pátria, o latim.

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