Bento XVI morreu neste sábado (31), aos 95 anos, após uma piora repentina de saúde nos últimos dias.
"É com pesar que informo que o Papa Emérito Bento XVI faleceu hoje às 9h34 [5h34 no horário de Brasília] no Mosteiro Mater Ecclesiae no Vaticano", escreveu o perfil de notícias do Vaticano no Twitter.
A saúde de Joseph Ratzinger vinha se debilitando nos últimos anos. O Vaticano havia dito nesta sexta-feira (30) em um comunicado que sua condição era grave, mas estável, com atenção médica constante. Desde a renúncia, em 10 de fevereiro de 2013, o teólogo alemão vivia em um pequeno mosteiro no Vaticano.
A morte de Bento XVI marca o fim de uma geração de teólogos e lideres reformistas, para não dizer revolucionários, que propuseram uma nova teologia, baseada na história e evolução do pensamento do homem, em vez da teologia antiga e tradicional, baseada no dogma e na revelação imutável de Deus ao homem.
Não se limitando à teoria, tornou-se perito nas sessões do Concílio Vaticano II, convocado por João XXIII, onde – com seus amigos Karl Ranner, Hans Küng, Henri de Lubac, Dominique Chenu, Yves Congar, entre outros, operou uma grande revolução no catolicismo.
Destes senhores, que protagonizaram o Concílio Vaticano II e suas reformas, Bento XVI foi o último a deixar este mundo para ir ao encontro de Cristo Nosso Senhor, Juiz Supremo de todo mortal, o que marca o fim de uma geração, da geração conciliar.
Quais os frutos que esta geração conciliar produziu? Olhando para a Europa Central – Alemanha, França, Bélgica, Holanda -, de onde veio a totalidade destes senhores, vemos que, graças ao seu reformismo de caráter revolucionário, eles conseguiram agravar muito o que já não estava bom: com as suas ideias liberais de abertura ao mundo moderno e diálogo com todas as religiões, cresceu ainda mais, no continente europeu, a indiferença religiosa, o interesse no esoterismo oriental e no ocultismo, e, mesmo o Islã, que havia sido represado por séculos, retomou sua tentativa histórica de colonizar a Europa.
Hoje, igrejas católicas belíssimas, construídas com a fé de nossos antepassados, são vendidas para serem bares, hotéis ou mesquitas muçulmanas, por conta da falta de fé de seus indignos sucessores, filhos dessa nova e amaldiçoada teologia.
Bento XVI muito contribuiu a esse respeito, porque em vez de buscar – com sólidos argumentos – a conversão dos protestantes de sua terra ao catolicismo, ele trazia para dentro de seus livros às suas ideias e na qualidade da Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé foi o grande responsável por vários acordos com os hereges, condenados pela Igreja no passado, confirmando-os em seus erros. Em sua obra, Princípios de Teologia Católica, publicada nos anos 80, quando já ocupava este cargo, dizia claramente que os ortodoxos cismáticos não precisam reconhecer o Papa, como a Igreja havia definido no Concílio Vaticano I, e que os católicos deveriam reconhecer a confissão de fé protestante de Augsburgo ou Augustana. Essa abertura gigantesca aos não católicos não gera conversões e apenas serve para destruir a mesma fé católica, com ideias que não lhe pertencem.
Quando vamos ao seu pontificado, vemos que Bento XVI é o primeiro da série de papas pós-cociliares a renunciar à tiara papal em seu brasão, se olhamos para ele, vemos que ostenta a simples mitra de um bispo qualquer (https://pt.wikipedia.org/wiki/Bras%C3%B5es_dos_papas#/media/Ficheiro:Coat_of_Arms_of_Benedictus_XVI.svg). Além disso, renunciou ao título do Papa como Patriarca do Ocidente, dizendo que se tratava de coisa ultrapassada. Tendo visitado a Alemanha, não deixou de visitar a sinagoga e a igreja luterana, na verdade, foi até a casa de Lutero, onde declarou que este foi uma pessoa apaixonada por Cristo. Foi precisamente em seu pontificado que se começaram os preparativos para a comemoração – sim, comemoração – dos 500 anos da Revolta Protestante, iniciada pelo mesmo Martinho Lutero.
A inusitada renúncia de Bento XVI, provavelmente fruto de chantagens e pressões políticas, igualmente reduziu o papado a uma espécie de profissão com aposentadoria, como Paulo VI já havia feito com os bispos, e não mais um ofício realmente vitalício e permanente, quase como o próprio sacerdócio, que é indelével e jamais se separa da pessoa que o possui.
O mérito pelo qual ele é mais conhecido nos meios tradicionais e conservadores foi o Motu Proprio de 2007, permitindo a celebração da Missa Tridentina, isto é, do rito anterior às reformas do Concílio Vaticano II, por qualquer padre, sem a necessidade da permissão dos bispos. De fato, Bento XVI sempre havia sido um crítico da reforma litúrgica realizada por Paulo VI. Ele queria "apenas" que a doutrina fosse mudada, não os ritos. Ainda assim, a motivação para tudo isso era tipicamente modernista: a experiência religiosa e cósmica experimentada durante a celebração, segundo o pensamento de Romano Guardini e Theilhard de Chardin, como lemos em sua obra Introdução ao Espírito da Liturgia.
De uma forma geral, sua morte agora marca o fim do modernismo culto e reformador e dá mais espaço ao modernismo bronco e destruidor de Bergoglio. Podemos esperar, a partir de agora, uma Traditionis Custodes II e um Francisco II ou até um João XXIV seguido de um Concílio Vaticano III.
Penso que é isso que deve ser dito por ora, que Deus tenha misericórdia de sua alma e que o tempo destrua o seu legado. Assim seja.
Outros artigos no Controvérsia Católica sobre Bento XVI: