O VATICANO II E FRANCISCO NA ESCOLA DE MAQUIAVEL:
- Publicado em 26/06/2017
- Por Diogo Rafael Moreira
Portanto, a fraude de Maquiavel consiste não só em uma releitura da história de Tito ajustada a seus próprios interesses, mas também em seu uso da religião bíblica como um cavalo de batalha de sua doutrina. Seu método de apelar para algo novo disfarçado de antigo parece de todo mais prudente visto que Maquiavel afirma que "o comum dos homens se nutre tanto do que parece ser quanto do que é: aliás, muitas vezes se comovem mais com as coisas que parecem ser do que com as que são." Como um resultado, "isso deve ser observado por todos quantos queiram eliminar um antigo modo de vida de uma cidade e conduzi-la a uma vida nova e livre, porque, visto que as coisas novas alteram as mentes dos homens, deves empenhar-te para que tais alterações conservem o máximo possível das antigas." (Discursos I, 25 veja também O Príncipe cap. XVIII). Como a visão dominante é cristã, ele apelaria não somente para a antiguidade romana, mas também para o cristianismo, caso ele pretenda seguir seu próprio conselho de como introduzir um novo modo de vida. Assim, além da genuína utilidade de certos elementos transformados do cristianismo, um apelo a eles também fornece uma medida de proteção, pois muitos não vão se dar conta que a visão que ele divulga é em realidade um repúdio ao antigo. [...]
SULLIVAN, Vickie. Machiavelli's Three Romes: Religion, Human Liberty and Politics, p. 145s.
O leitor precisa ter em mente que Maquiavel é um dos grandes proponentes da rebelião do homem contra Deus. Quando ele sugere a estratégia da fraude para "eliminar um antigo modo de vida de uma cidade e conduzi-la a uma vida nova e livre", ele tem em mente emancipar o homem da cidade de Deus, pois, segundo ele, ela enfraqueceu o mundo. De fato, ele se ressente do Deus cristão que fez novas todas as coisas e mudou o mundo não com armas, mas antes persuadiu os homens pacificamente por meio de suas palavras e obras grandiosas. Ele quer libertar-se do jugo suave de Cristo, ele convida os homens a construírem sua própria cidade, não com o auxílio de Deus, mas apenas com armas humanas, ou seja, o uso da força e da fraude.
Maquiavel plantou as sementes da revolução na mente de muitos filósofos e políticos modernos, muitos deles efetivamente tomaram armas para levar a cabo o seu plano nefando. Ainda assim, a única arma que Maquiavel possuía no seu tempo era papel e tinta, então ele tratou de utilizá-las em favor da revolução. Maquiavel não foi um filósofo interesse na verdade, ele está completamente fora da linha traçada pelos filósofos cristãos e pagãos. A filosofia de Maquiavel é essencialmente antifilosófica, ela não usa da reflexão senão para saciar as ambições humanas. Das ambições humanas, Maquiavel ressalta a propriedade ou riquezas e a fama ou glória. Maquiavel procurou a ambas: em parte ele procurou os favores dos príncipes ou potenciais chefes da república, por outro lado, procurou a fama mediante seus escritos. Ele deseja que os homens o imitem, que eles deixam de buscar bens que não podem ser vistos e uma glória que estão para além dessa vida. Não seria este um modo de justificar-se?
O nosso argumento é que Maquiavel não tem desculpa e que os seus seguidores, por conseguinte, também não tem. Seja maquiavélico, seja maquiaveliano, aquele que procura justificar suas ações sobre esse conceito fundamental de liberdade humana não está com a verdade. A aspiração por emancipação não é somente um erro, mas também um princípio pervertedor, donde ele dar margem para crimes que espantam o bom senso.