As imagens dos santos e as relíquias sagradas

Annunciation
A Anunciação de Fra Angélico (ca. 1450)

DOUTRINA CATÓLICA SOBRE AS IMAGENS E RELÍQUIAS DOS SANTOS

  • Nós o adoramos, porque é o Filho de Deus. Quanto aos mártires, enquanto discípulos e imitadores do Senhor, nós os amamos encarecidamente por conta do extraordinário amor que tiveram eles mesmos para com o seu Rei e Mestre. […] Vendo a rixa suscitada pelos judeus, o centurião colocou o corpo no meio e o fez queimar, como era de costume. Desse modo, pudemos mais tarde recolher seus ossos, que são mais valiosos do que pedras preciosas e mais puros do que ouro fino, para colocá-los em lugar apropriado, para onde iremos o quanto for possível, com alegria e júbilo; conceda-nos o Senhor celebrar o aniversário de seu martírio para comemorar aqueles que combateram antes de nós e ensinar e preparar aqueles que deverão combater no futuro. (Martírio de São Policarpo [ca. A.D. 155], cap. XVII-XVIII)
  • Pois falamos de um rei e da imagem de um rei, não de dois reis. A majestade não é partida, nem a glória dividida. A soberania e a autoridade que ele tem sobre nós é uma, e o louvor prestado por nós a ele não é plural, mas também um só, porque a honra prestada a imagem passa para o seu modelo original. (São Basílio [329-379], De Spiritu Sancto, cap. 18, n. 45)
  • Não sem razão a antiguidade permitiu que as histórias dos santos fossem pintadas nos lugares santos. E nós certamente te elogiamos por não permitir que elas sejam adoradas, mas te culpamos por quebrá-las. Porque uma coisa é adorar uma imagem, e outra mui distinta é aprender de uma pintura o que devemos adorar. O que os livros são para aqueles que podem ler, uma pintura é para o ignorante que a contempla; numa pintura mesmo um ignorante pode ver que exemplo deveria seguir; numa pintura aqueles que não conhecem uma letra podem no entanto ler. Portanto, principalmente para os bárbaros, uma pintura toma o lugar de um livro. (São Gregório Magno [540-604], Ep. IX, 105, in P. L., LXXVII, 1027)
  • Antigamente Israel não erguia templos em nome de homens, nem celebrava sua memória, pois a natureza humana ainda estava sob a maldição, e a morte era para o homem uma condenação, logo mesmo aquele que apenas tocasse o corpo de um defunto era para ser tido como impuro; agora porém, desde que a divindade foi unida sem confusão com a nossa natureza, qual remédio vivicante e salutar, a nossa natureza foi verdadeiramente glorificada e seus elementos mesmos foram vertidos na incorrupção. Portanto, templos são erguidos para os santos e imagens são esculpidas. (São João Damasceno [676-749], Three Treatises on the Divine Images, traduzido por Andrew Louth. New York: St. Vladimir’s Seminary Press, 2003, p. 91)
  • Definimos com toda certeza e cuidado que ambas, a figura da cruz sagrada e vivificante, como também as santas e veneráveis imagens, quer pintadas, quer em mosaico ou em qualquer outro material adequado, devem ser expostas nas santas igrejas de Deus, nos sagrados utensílios e paramentos, nas paredes e painéis, nas casas e nas ruas; tanto as imagens de Nosso Senhor Deus e Salvador, Jesus Cristo, quanto as de nossa Senhora Imaculada, a Santa Mãe de Deus, as imagens dos veneráveis anjos e e de todos os varões santos e justos. De fato, quanto mais os santos são contemplados na imagem que os representa, tanto mais os que os contemplam são levados à recordação e ao desejo dos modelos originais e induzidos a tributar-lhes respeito e veneração, certamente não a adoração própria de nossa fé, reservada só a Natureza Divina, mas aquela reverência que se deve à representação da cruz sagrada e vivificante, dos santos livros dos Evangelhos e outros objetos sagradas, honrando-os com ofertas de incenso e de luzes segundo o piedoso uso dos antigos. Pois a honra prestada a imagem passa para o modelo original, e quem venera a imagem venera a pessoa nela representada. (II Concílio de Niceia, VII Sessão, 13 out. 787; Denzinger-Hünermann, n. 600-601)
  • Aqueles, pois, que ousam pensar ou ensinar diversamente, ou, seguindo os ímpios hereges, violar as tradições da Igreja, ou inventar novidades, ou repelir alguma coisa do que foi confiado à Igreja, como o livro do Evangelho, a imagem da cruz, uma imagem pintada, ou uma santa relíquia de um mártir; ou que ousam transtornar com astúcia e engodo algo das legítimas tradições da Igreja universal ou usar para fins profanos os vasos sagrados ou os mosteiros santificados, nós decretamos que, se bispos ou clérigos, sejam depostos, se monges ou leigos, sejam excluídos da comunhão. (II Concílio de Niceia, VII Sessão, 13 out. 787; Denzinger-Hünermann, n. 603)
  • Objeção 1. Parece que a idolatria não é um pecado. Nada que a fé verdadeira empregue no culto de Deus é pecado. Ora, a verdadeira fé usa imagens no culto divino, uma vez que tanto no Tabernáculo estavam presentes imagens de querubins, como se lê em Êxodo 25, quanto na Igreja estão presentes imagens para o culto dos fiéis. Portanto, a idolatria pela qual os ídolos são cultuados não é um pecado… Resposta à Objeção 1: Nem no Tabernáculo ou Templo da Antiga Lei, nem agora na Igreja, as imagens são usadas para que lhes seja prestado culto de latria, mas para o propósito de representação; de modo que a crença na excelência dos anjos e dos santos possa ser impressa e confirmada na mente dos homens. Coisa diferente sucede com as imagens de Cristo, para as quais latria é devida em virtude de Sua Divindade. (São Tomás de Aquino [1224-1274], Suma Teológica II, II, q. 94 a. 2; cf. II, II, q. 103)
  • O santo Sínodo ordena… que conceda-se a devida honra e veneração às imagens de Cristo, da Virgem Mãe de Deus e dos outros santos, a serem tidas e conservadas especialmente nas igrejas, não porque se pense que lhes seja inerente alguma divindade ou poder em virtude do qual sejam veneradas, ou porque se deva pedir alguma coisa a essas imagens, ou depositar confiança nelas como antigamente faziam os pagãos, que punham sua esperança nos ídolos [cf. Sl 135,15-17], mas porque a honra prestada a elas se refere aos modelos que representam, de modo tal que, por meio das imagens que beijamos e diante das quais nos descobrimos e prostramos, adoramos a Cristo e veneramos os Santos cuja semelhança apresentam. (Concílio de Trento, XXV Sessão, 3 dez. 1563; Denzinger-Hünermann, n. 1823)
  • Os bispos ensinem diligentemente que, por meio das histórias referentes aos mistérios de nossa redenção expressas nas pinturas ou de outros modos, o povo é instruído e confirmado na comemoração e na assídua contemplação dos mistérios da fé; e que de todas as sagradas imagens tira grande fruto, não só porque o povo recorda os benefícios e os dons que lhe foram conferidos por Cristo, mas também porque entram pelos olhos dos fiéis os milagres e exemplos salutares de Deus por intermédio dos Santos, para que agradeçam a Deus por eles, modelem a vida e os costumes à imitação dos Santos e sejam incentivados a amar e adorar a Deus e a cultivar a piedade. Se alguém ensinar ou crer coisas contrárias a esses decretos: seja anátema. (Concílio de Trento, XXV Sessão, 3 dez. 1563; Denzinger-Hünermann, n. 1824)
  • Na invocação dos Santos, na veneração das relíquias e no uso sagrado das imagens afaste-se qualquer superstição, elimine-se toda torpe ganância, evite-se, enfim, toda sensualidade. (Concílio de Trento, XXV Sessão, 3 dez. 1563; Denzinger-Hünermann, n. 1825)
  • Por que veneramos inclusive as mínimas relíquias e as imagens dos Santos? Veneramos inclusive as mínimas relíquias e as imagens dos Santos para sua memória e honra, referindo a eles toda veneração, completamente diferente dos idólatras, que rendem às imagens ou ídolos um culto divino. (Catecismo da Doutrina Cristã, n. 177)
  • Deus, no Velho Testamento, não proibiu severamente as imagens? Deus, no Velho Testamento proibiu severamente as imagens para adoração, de fato quase todas as imagens, como ocasião próxima de idolatria para os judeus, que viviam entre os idólatras e eram muito inclinados à superstição. (Catecismo da Doutrina Cristã, n. 178)
  • Os cristãos não estão obrigados a circuncidar-se, a abster-se da carne impura dos levitas etc… Desse modo, no Primeiro Mandamento devemos distinguir as cláusulas – “Não terás deuses estranhos diante de mim”, “Não os adorarás nem os servirás” – que são lei natural e eterna (prohibitum quia malum) da cláusula “Não farás nenhuma imagem de escultura” etc. Qualquer que seja o sentido em que o arquélogo possa entendê-la, ela claramente não é uma lei natural, tampouco poderá alguém provar maldade inerente no ato de fazer uma estátua; portanto, é lei divina positiva (malum quia prohibitum) da Velha Dispensa, a qual não se aplica aos cristãos mais que a lei que obriga o homem a casar-se com a viúva de seu irmão. Uma vez que não há no Novo Testamento lei positiva sobre a matéria, os cristãos estão obrigados… por qualquer lei eclesiástica que tenha sido feita sobre a matéria pela autoridade da Igreja. A situação foi definida bem claramente pelo Segundo Concílio de Niceia [citado acima] em 787… (Catholic Encyclopedia, v. Veneration of Images)

O ensinamento católico de todos os tempos deixa claro: as imagens de escultura não só podem, mas devem ser feitas e veneradas por todos os fiéis. Elas são uma forma de prestar a devida reverência aos amigos de Deus e ao próprio Deus que operou maravilhas por meio deles; elas também trazem à mente o exemplo daquele que representam.  Negá-lo é uma inovação e não tem nada a ver com a fé cristã. Que o Senhor remova a cegueira daqueles que tal como o diabo abominam as cruzes e as imagens santas, que Ele mesmo conceda-lhes o dom do arrependimento e lhes permita entrar em comunhão com a Santa Igreja Católica.