A Absoluta Necessidade da Oração

26.ª Lição de Catecismo da Doutrina Cristã. A Absoluta Necessidade da Oração.

I. Esta parte da Doutrina Cristã fala sobre a oração em geral, e o Padre Nosso em particular. Ela ensina os motivos, o modo e o que devemos desejar e pedir a Deus por meio da oração. A oração é uma elevação da alma a Deus para adorá-lo, render-lhe graças e lhe pedir aquilo que precisamos. O modelo de oração cristã encontra-se no Padre Nosso ou Oração Dominical, pois, ensinada por Nosso Senhor em pessoa, contém tudo o que precisamos desejar e pedir a Deus. Portanto, essa parte da doutrina cristã é excelente e sumamente importante, pois, como diz Santo Agostinho, “bem sabe viver, o que sabe rezar bem.”

II. O cristão deve saber, em primeiro lugar, que a prescrição de rezar não foi formulada como um simples conselho, mas antes como um dever rigoroso de todo fiel. Cristo Senhor assim nos mandou: “Importa orar sempre, e não cessar de o fazer.” (Lc 18, 1), “Vigiai, e orai para que não entreis em tentação.” (Mt 26, 41). Mais do que isso, para que o fizéssemos, Cristo não só nos ensinou uma fórmula de oração (o Padre Nosso) e nos deu a esperança de sermos atendidos ao dizer “Pedi, e dar-se-vos-á.” (Mt 7, 7), mas também Ele mesmo, nosso Mestre Divino, foi modelo vivo de oração, rezando não só com assiduidade, mas até ficando por noites inteiras em oração. Os Apóstolos, igualmente, não cessaram de insistir, por exemplos e palavras, sobre a necessidade da oração. De fato, em muitas ocasiões, eles exortaram os fiéis sobre a sua necessidade (1Pd 4, 7; 1Jo 3, 22; 5, 1 4-16; Rm 12, 13; 15, 30; Ef 6, 18; Fl 4, 6; 1Tm 2, 1-8; 5, 5; Hb 4, 16). A Igreja também o dá a entender na Sagrada Liturgia, quando diz antes da recitação do Padre Nosso: “Exortados por preceitos salutares, e guiados por normas divinas, ousamos dizer…” Então, a oração deve ser tida pelo cristão como um dever sagrado, indispensável a todo discípulo de Nosso Senhor Jesus Cristo.

III. Diante desses testemunhos de Cristo, dos Apóstolos e da Igreja, Santo Afonso Maria de Ligório não cessava de recomendar a prática da oração como o meio de salvação e perfeição cristã, e ele se explicava do seguinte modo: “Falo assim porque vejo, de um lado, a absoluta necessidade da oração, tão altamente recomendada pelas Santas Escrituras e por todos os Santos Padres. E, de outro lado, vejo que poucos cuidam de empregar este grande meio de salvação. E, o que mais me causa dor, é ver que os pregadores e confessores tão pouco se lembram de recomendar a oração a seus ouvintes e penitentes! Mesmo os livros espirituais, que hoje andam nas mãos dos fiéis, não tratam suficientemente deste assunto, quando é certo que todos os pregadores e confessores e todos os livros não deveriam incutir nada com mais empenho e afinco do que a necessidade de rezar.” (Santo Afonso Maria de Ligório, A Oração).

IV. Além disso, a oração é necessária em razão de nossa indigência, como meio para alcançarmos os bens de que temos mister para a salvação do nosso corpo e da nossa alma. De fato, outra coisa não somos senão pobres mendigos, que tanto temos, quanto recebemos de Deus como esmola: “Eu, porém, sou pobre e mendigo.” (Sl 40, 18).

V. Assim como a umidade é necessária às plantas para não secarem, assim diz São João Crisóstomo, nos é necessária a oração para nos salvarmos. Em outro lugar, diz o mesmo Santo, que, assim como a alma dá a vida ao corpo, assim também a oração mantém a vida da alma. “Assim como o corpo não pode viver sem a alma, assim a alma sem a oração está morta e exala mau cheiro.” Disse “exala mau cheiro”, porque quem deixa de recomendar-se a Deus, logo começa a corromper-se. A oração é ainda o alimento da alma, porque assim como o corpo não pode se sustentar sem alimento, assim, sem a oração, diz Santo Agostinho, não se pode conservar a vida da alma. Como o corpo, pela comida, assim a alma do homem é conservada pela oração. Todas essas comparações aduzidas pelos santos denotam a necessidade absoluta que todos temos de rezar para nos salvarmos.

VI. Há ainda um outro motivo: existem graças especiais que não nos é possível obter sem a oração. Uma certa casta de demônios, por exemplo, só pode ser expulsa com jejum e oração (cf. Mt 17, 20). Por isso, privam-se de ótima ocasião para receber graças singulares aqueles que não se dedicam ao exercício habitual da oração fervorosa e frequente. Por isso, dizia São Jerônimo: “Está escrito: ‘Dar-se-á a todo aquele que pede’. Portanto, se a ti não é dado, o único motivo de se não o dar é o deixardes de pedir. Sendo assim, pedi, e recebereis.”

VII. Assim erram os pelagianos, dizendo que a oração não é necessária para se conseguir a salvação. O ímpio Pelágio, seu mestre, afirmava que só se perde quem não procura conhecer as verdades necessárias. Mas, como disse bem Santo Agostinho, Pelágio falava de tudo, menos da oração, a qual, conforme sustentava e ensinava o mesmo santo, é o único meio de adquirir a ciência dos santos, como escreve São Tiago: “Se alguém necessita de sabedoria, peça a Deus, que a concede fartamente a todos.” (Tg 1, 5).

VIII. Por conta do poder da oração, foi uma verdadeira blasfêmia o que disse Lutero afirmando que, depois do pecado de Adão, é impossível ao homem a observância dos mandamentos de Deus. E Jansênio disse mais ainda, que alguns preceitos são impossíveis, até para os justos, em vista das forças que atualmente possuem. Até aqui, sua proposição podia ser interpretada em bom sentido. Mas, com justiça, foi ela condenada pela Igreja por causa do que se acrescentou depois, dizendo que lhes faltava a graça pela qual se lhes tornava possível a observância dos mandamentos. É verdade, diz Santo Agostinho, que o homem fraco como é, não pode observar certos mandamentos, com a sua força atual ou com a graça comum a todos: mas por meio da oração, pode muito bem obter o auxílio maior, do qual necessita para observá-los. Deus não manda coisas impossíveis. Entretanto, se mandar, exorta a fazer o que se pode e a pedir o que não se pode. É célebre este texto do Santo, que mais tarde foi adotado pelo Concílio de Trento e declarado dogma de fé. E imediatamente acrescenta o Santo Doutor: “Vejamos como o homem, em virtude do remédio, pode fazer o que não podia por causa da fraqueza”. Quer dizer que, com a oração, obtemos o remédio para nossa fraqueza, porquanto, se pedirmos a Deus, conseguiremos força para fazer o que não podemos. Por que, perguntará alguém, impõe-nos Deus coisas impossíveis às nossas forças? Justamente a fim de que procuremos, pela oração, o que não podemos com a graça comum. “Deus manda-nos algumas coisas superiores às nossas forças, para que saibamos o que lhe devemos pedir”. E em outro lugar: “A lei foi dada, para que se procure a graça. A graça é dada para que se cumpra a lei”. A lei não pode ser observada sem a graça, e Deus, para este fim, deu a lei, para que sempre suplicássemos a graça necessária, para observá-la. E de novo, em outro lugar, diz Santo Agostinho: “A lei é boa se dela fizermos bom uso. Em que consiste, pois, o bom uso da lei?” Ele responde: “Consiste em conhecer pela lei a própria fraqueza e em procurar o auxílio divino para obter a saúde”.

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