Professor Emílio, Taylor Marshall e Infiltração

O Professor Emílio do canal TV Nossa Senhora de Fátima fez um vídeo neste mês de novembro intitulado A VERDADE SOBRE OS SEDEVACANTISTAS. O grande número de contradições que ele comete no curto espaço de seis minutos é sinal de que ele não é sedevacantista, porque ele não tem razão.

O conteúdo do vídeo se divide em duas partes: (1) propaganda dos livros que o Professor Emílio vende em sua livraria online; (2) três argumentos, se é que se pode chamá-los assim, dispostos de maneira avulsa e desconexa, a saber,

(a) o sedevacantismo é falso, porque, na verdade, uma parte da Igreja não é Una, Santa, Católica e Apostólica;

(b) o sedevacantismo é falso, porque a infiltração na Igreja aconteceu, no mínimo, já no século XIX, como prova o livro Infiltrados de Taylor Marshall, e não somente com o Vaticano II;

(c) O sedevacantismo é falso, porque a ordenação de seus bispos é falsa.

As premissas dos argumentos acima são todas errôneas:

Quanto ao a, nego que uma parte da Igreja não seja Una, Santa, Católica e Apostólica, pois quando digo “Credo in Unam, Sanctam, Catholicam et Apostolicam Ecclesiam” afirmo que a Igreja, toda e inteira, e somente essa Igreja, possui tais qualidades. Isso é catecismo básico e quem o nega é herege puro e simples.

É possível conceder que ao dizer “uma parte que não é”, ele não tenha pretendido negar o dogma, apesar de sua colocação ter sido muito equívoca. Ele pode ter querido se referir somente aos infiltrados. Mas, se os infiltrados são infiltrados (vem de fora da Igreja), então eles já não são realmente católicos, nem parte da Igreja. Se essa parte pertence a uma sociedade distinta, a um corpo estranho e até oposto à Igreja, então é claro que é errado dizer que uma parte da Igreja não é Una, Santa etc.

Quanto ao b, deve-se dizer claramente que ninguém nega a infiltração e que talvez os sedevacantistas estejam mais cientes dela do que quaisquer outros grupos por aí.

Por exemplo, se lemos o livro Obra de Mãos Humanas do Padre Anthony Cekada, ali mesmo acharemos notícia detalhada da infiltração dos modernistas no Movimento Litúrgico, coisa que dificilmente se encontrará em outra publicação. Outro exemplo notável: o primeiro post publicado no Controvérsia Católica chama-se A Revolução dentro da Igreja, foi escrito pelo Reverendo Padre Louis Campbell, sacerdote sedevacantista. Ora, ali não se colocam senão fatos e mais fatos sobre a infiltração judeo-maçônico-comunista dentro da Igreja. Ou seja, entre os sedevacantistas, ninguém absolutamente nega que houve a infiltração e poucos entendem sobre infiltração quanto os sedevacantistas.

Tanto é assim que o sr. Mario Derksen, também ele sedevacantista, pôde muito facilmente notar falhas, imprecisões e uma geral superficialidade no livro de Taylor Marshall sobre a infiltração na Igreja, já que ali, de uma lado, reúnem-se dados que todo mundo já está careca de saber nos meios tradicionais, e, de outro, omitem-se informações relevantes, ora por crassa ignorância do assunto, que jamais se esperaria de um suposto acadêmico, ora por inescusável charlatanismo, aquele bem próprio de oportunistas.

Mas vamos pensar um pouco mais. Se, para o Professor Emílio e para o Dr. Taylor Marshall, o Vaticano II é obra de infiltrados, como todos nós já sabemos, então por que essa obra de infiltrados tem de ser reconhecida como algo vindo da própria Igreja? Qual é a lógica disso? Nenhuma.

Enquanto a infiltração é oculta, nós não podemos fazer nada, pois a ignoramos. Mas, quando ela é pública, quando se sabe que a obra em questão (o Vaticano II e suas reformas) é coisa de não católicos (hereges), então temos a obrigação de rejeitá-la imediatamente. Sobre isso, já dizia São Roberto Belarmino:

“Os homens não são obrigados, nem capazes, de ler corações; mas quando eles veem que alguém é um herege por suas obras externas, eles o julgam como um herege puro e simples e o condenam como tal.” (São Roberto Belarmino, De Romano Pontifice, livro IV, c. IX).

Contudo, Taylor Marshall e Professor Emílio não são verdadeira oposição aos infiltrados. Eles não querem saber de denunciá-los como tais e, sobretudo, condená-los como tais. Eles estão em comunhão com eles. Não admira então que Taylor Marshall, a grande referência do Professor Emílio, aperte as mãos de Bergoglio e cordialmente dê ao infiltrado par excellence uma cópia de seu livro sobre infiltração:

Quanto ao c, assim como em a, temos um crasso erro de doutrina.

É erro doutrinal dizer que as ordenações sedevacantistas são inválidas, porque, via de regra, a validade de uma ordenação consiste em tê-la recebido de um bispo com sucessão apostólica. Ora, as ordenações sedevacantistas procedem de bispos com sucessão apostólica, tais como Monsenhor Lefebvre e Monsenhor Thuc. Logo, são válidas.

Aliás, convém sublinhar que o que se exige de intenção por parte do bispo ordenante é o mínimo: já se presume pelo rito mesmo que há a tal intenção. A prática da Igreja jamais foi no sentido de ter por inválidas as ordenações feitas segundo o rito tradicional, quer ela venha de hereges, cismáticos ou até mesmo de personagens sabidamente maçons, como se verificou no caso da Restauração seguida à Revolução Francesa, onde bispos maçons, ao serem reconciliados com a Igreja, tiveram suas ordenação reconhecida, sem a necessidade de qualquer investigação ou procedimento adicional (vide Padre Anthony Cekada, Sacramental Intention and Masonic Bishops). Portanto, o que o Professor Emílio diz aí, mesmo quando aplicados não aos sedevacantistas, que de fato são católicos, mas mesmo quando aplicado aos próprios infiltrados, é simplesmente mostra de ignorância da doutrina da Igreja sobre a matéria. A heresia ou cismo não invalida um sacramento, ela apenas torna ilícito recebê-lo. Validade e licitude são coisas bem distintas.

APÊNDICE

I. O latim é uma língua sagrada?

O Professor Emílio, como Dom Hélder Câmara e outros membros ilustres da seita pós-conciliar, diz que o latim não é língua sagrada. Pois bem, mais uma vez, não é esse o parecer do Magistério da Igreja:

“Posto que, mesmo em um leigo que tenha qualquer pretensão de educação, a ignorância do latim, que pode realmente ser chamado de a língua católica, denota indiferença em seu amor pela Igreja, ainda mais deve todo o clero ser bem-fundado e versado no latim! Certamente lhes compete defender a latinidade com ainda mais firmeza, pois sabem que foi com toda a violência que ela foi atacada pelos adversários da sabedoria católica, que, no século XVI, abalaram a concórdia que tinha a Europa na única doutrina da fé.” (Papa Pio XI, Carta Apostólica Officiorum Omnium, 1º de agosto de 1922 in Enchiridion Clericorum, n. 1154).

Aqui se vê bem que o Professor Emílio não só está una cum os modernistas, mas também una cum os protestantes do século XVI. Somado à equação: fim dos tempos + compre meus livros, quase não dá para distingui-lo de um.

II. Santo Afonso Maria de Ligório é fenomenal?

O Professor Emílio considera Santo Afonso Maria de Ligório fenomenal. E quem não consideraria assim ao Fundador da Congregação Redentorista, Bispo de Nápoles e exímio Doutor da Igreja? Aqui concordamos totalmente com o Professor Emílio.

Mas será que ele continuará sendo fenomenal para o Professor Emílio quando ele descobrir que Santo Afonso defendeu o sedevacantismo? É algo que se deve esperar para ver, em todo caso, citemos logo o ensinamento de Santo Afonso sobre a matéria, que é idêntico ao ensinamento dos sedevacantistas:

“De resto, se Deus permitisse que um Papa fosse notoriamente herético e contumaz, ele cessaria de ser papa, e o pontificado ficaria vacante / Del resto, se Dio permettesse che un papa fosse notoriamente eretico e contumace, egli cesserebbe d’essere papa, e vacherebbe il pontificato.” (Santo Afonso Maria de Ligório, Verità della Fede, Parte III, cap. VIII, 10; Opera Omina, p. 720, disponível em http://www.intratext.com/IXT/ITASA0000/_P3BD.HTM).

De fato, Santo Afonso Maria de Ligório é fenomenal!

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