O fim do mundo presente: os sinais que o precederão e acompanharão

Neste breve estudo resumo as duas primeiras conferências da obra de Padre Charles Arminjon sobre o fim do mundo presente. Sigo a versão inglesa da mesma, intitulada The End of the Present World and the Mysteries of the Future Life, pp. 1-49.

Este livro causou grande impressão em Santa Teresa do Menino Jesus, que o menciona em sua autobiografia e em suas cartas. Essas primeiras conferências tratam especificamente das circunstâncias que levarão e acompanharão ao fim do mundo (primeira conferência) e das circunstâncias que levarão ao advento do Anticristo e a conversão dos judeus (segunda conferência).

PREFÁCIO DO AUTOR

A fonte do racionalismo, mal do século, é a ausência do senso do sobrenatural e a negligência das grandes verdades sobre a vida futura. Essa terrível indiferença nasce da ignorância e do desmedido amor pelos prazeres sensuais que, obscurecendo o olho interior da alma, trazem todas as suas aspirações para o baixo nível da vida presente, afastando-a da visão das belezas e prêmios do mundo vindouro.

Como doenças extremas exigem tratamentos extremos, a melhor forma de combater o naturalismo é uma lúcida, clara e exata exposição, sem atenuantes, das verdades essenciais relacionadas com a vida futura e o inevitável termo do destino humano.

PRIMEIRA CONFERÊNCIA

O Fim do Mundo Presente: os sinais que o precederão e as circunstâncias que o acompanharão

“Virá, pois, como ladrão o dia do Senhor, no qual passarão os céus com grande ímpeto, e os elementos com o calor se dissolverão, e a terra, e todas as obras que há nela, se abrasarão.” (1Pd 3,10)

Após o longo período dos séculos, a ordem visível das coisas na terra dará lugar a uma nova e permanente ordem, a mutável era do tempo será substituída pela era da estabilidade e do repouso. Esta conferência tratará de três questões fundamentais:

1. A doutrina do fim dos tempos é uma doutrina indubitável, em harmonia com a razão?

2. Podemos determinar, de acordo com as palavras de Cristo, se o fim do mundo está próximo ou não?

3. Por meio de qual cataclismo esta mudança acontecerá?

1. A ciência ateia de nosso tempo afirma que o mundo é eterno e que as coisas surgiram por acaso, nega assim a criação e a Divina Providência. Mas não nega, porém, a fé e a esperança no homem, pois ama tudo o que se refere às realizações do mesmo, vendo um potencial de progresso indefinido no mundo do qual o homem é o protagonista.

Entretanto, essa miragem do progresso esconde e canaliza uma constante frustração inerente desse sistema de desespero: o ideal nunca se torna realidade, o bem nunca está separado do mal e não há um mecanismo pelo qual se possa medir com justiça a importância da vida moral e dos atos humanos.

Tenta-se imputar esta responsabilidade à história. Ela, dizem os céticos, será a juíza da humanidade, de modo que o juízo final é supérfluo. Contudo, a verdade é que esta é uma juíza bastante inepta, incapaz de completar o serviço que lhe é outorgado e que, ademais, tem o estranho hábito de relegar ao esquecimento a maior parte dos réus. O julgamento da história não é público, sua sentença procede de um historiador falível, cujo juízo privado pouco ou nada pode fazer além de se lamentar pelas injustiças passadas.

Cada vida humana pode ser aquilatada como boa ou má, como semente de vida ou semente de morte, nenhuma pessoa é indiferente a este fato. E assim se torna forçoso concluir que, se há justiça no mundo, deve haver um juízo universal que dê a cada qual o que lhe é devido. Esse juízo só pode vir do tribunal infalível e onisciente de Deus.

Por conseguinte, os requerimentos da justiça, indicam que este mundo presente será julgado e assim terá um fim. Daí em diante haverá uma nova ordem. É também o que a observação e o bom senso exigem, pois se vê que a figura deste mundo realmente passa, isto é, que tudo nele é consumido pelo tempo. É certo, pois, que o mundo terá um fim, mas este fim é próximo ou remoto?

2. Cristo não precisou a data do fim do mundo, mas consentiu em dar sinais definidos e indicações a fim de nos deixar saber que o cumprimento das profecias está próximo. Jesus procede com a humanidade como um todo do mesmo modo que procede com indivíduos: a morte é certa, mas não se sabe quando ela virá. E embora possamos ser pegos de surpresa em qualquer momento, geralmente há sinais que tornam manifesto que a hora da morte se faz eminente e que seria uma vã ilusão pensar que nossa vida se estenderia por mais longos e longos anos aqui em baixo.

Em Mateus, cap. 24, Cristo aponta como sinais guerras, fomes, terremotos. Por si esses sinais são bastante vagos, ocorrendo em maior e menor grau em todas as épocas da história, porém eles são apenas o começo das dores: haec autem omnia initia sunt dolorum. Tais sinais não são suficientes para se formar uma firme conclusão de que o fim dos tempos está próximo, pois mesmo as calamidades públicas e revoluções sociais de nossa época encontram precedentes na história. Entretanto, as calamidades e revoluções do fim dos tempos serão de caráter público, pertencendo a ordem religiosa e social, elas não poderão ser ignoradas pela humanidade.

Essas calamidades são constituídas por três grandes sinais. Primeiro, o Evangelho deve ser pregado em todo o mundo (Mt 24,14); segundo, a aparição do homem do pecado, o Anticristo (2Ts 2,2-4); terceiro, a conversão dos judeus, que reconhecerão o Senhor Jesus Cristo e o adorarão como o Messias prometido (Rm 11,14-17). Nesta conferência será tratado unicamente do primeiro sinal.

Quanto a ele, alguns Padres dizem que uma conversão parcial seria o bastante, enquanto a maioria mantém que a profecia deve ser entendida em um sentido mais estrito. Cornélio a Lapide entende que este sinal somente se concretizará quando a Igreja tiver exercido toda a sua influência sobre toda e cada uma das nações bárbaras, o que significa que todas as nações devem experimentar o esplendor da pregação apostólica, com todo o brilho inerente de sua legislação, solenidades e hierarquia. Esse último pensamento parece mais em conformidade com o testemunho da Sagrada Escritura, com a sabedoria e misericórdia de Deus e com os modos da Providência que não faz acepção entre os povos e chama cada um a seu tempo para o conhecimento de sua lei salutar.

Nesse sentido, é preciso admitir que, como uma matéria de fato, a Ásia Central, a África Equatorial e muitas outras partes do mundo ainda não receberam a pregação do Evangelho em seu esplendor.

Feita essa observação, o Padre Arminjon menciona os seguintes textos da Escritura:

“Porquanto do Senhor é o reino; e ele mesmo reinará sobre as gentes.” (Sl 21,29)

“Diante dele se prostrarão os da Etiópia; e os seus inimigos beijarão a terra. Os reis de Társis, e as ilhas, lhe oferecerão dons; os reis da Arábia e de Sabá lhe trarão presentes.” (Sl 71,9-10)

“Alegra o sitio da tua tenda, e estende as peles dos teus pavilhões, e não te poupes a nada; faze compridas as tuas cordas, e segura as tuas estacas. Porque tu te alargarás para a direita e para a esquerda, e a tua posteridade terá por herança as gentes, e povoará as cidades desertas. Não temas, porque não serás confundida nem envergonhada, porquanto não terás de que te afrontar, pois te esquecerás da confusão de tua mocidade, e não te lembrarás mais do opróbrio da tua viuvez.” (Is 54,2-4)

“Será chamado o Deus de toda terra.” (Is 54,5)

“Esses textos”, diz Padre Aminjon, “são explícitos e precisos. É claro a partir desses testemunhos que haverá um tempo em que todas as heresias e cismas serão superados e a verdadeira religião conhecida e praticada por todos, em todos os lugares iluminados pelo sol.” (p. 10).

Depois disso, virá um tempo em que a humanidade estará mergulhada na mais profunda indiferença religiosa, os pensamentos sobre o castigo e justiça divina estarão muito longe da mente dos homens. A divina misericórdia terá esgotado todos os seus recursos. O Anticristo já terá aparecido sobre a face da terra. Os homens de toda o mundo já foram chamados para o conhecimento da verdade e a Igreja já floresceu na plenitude de sua vida e fecundidade pela sua última vez.

3. O grande cataclismo virá quando o mundo estiver mais seguro: a civilização estará no seu zênite, os mercados estarão transbordando de dinheiro e os estoques dos governos nuca terá sido tão alto. A humanidade embriagada pela prosperidade material não aspirará mais pelo céu.

Por meio de que elemento essa grande destruição acontecerá? Qual será a sua causa eficiente, agente principal, instrumento direto e imediato de tudo isso? Não será por água como no dilúvio, nem por terremotos ou por lava como em Herculaneum e Pompeii da época de Tito; desta vez, a terra será destruída pelo fogo. O mesmo espírito que pelo fogo criou o mundo, também pelo fogo o destruirá para formar o novo mundo: “Fogo irá adiante dele, e abrasará ao redor os seus inimigos. Alumiaram os seus relâmpagos a redondeza da terra; viu-os a terra, e foi comovida.” (Sl 96,3-4). Este fogo devorará o ímpio como palha e o penetrará até a medula, até consumi-lo inteiramente. Será também a tribulação final para o justo, pois esse castigo dos últimos tempos tomará o lugar do Purgatório. Podemos estar bastante certos desses eventos, eles são certos com o mesmo grau de certeza absoluta com o qual dizemos que Deus é Deus, não estando sujeito a qualquer erro ou mudança.

Essas verdades não são meras verdades de ordem especulativa, mas são ensinadas para que se produzam efeitos práticos e imediatos em nossas vidas. Assim, se tudo o que temos neste mundo será consumido pelo fogo, não devemos valorizar os bens terrenos mais do que estimamos uma pilha de lenha ou um monte de palha. Por que então fazer delas o centro de nossos desejos e cuidados? Por que deixar as marcas de nosso gênio onde tudo será dissolvido pelo fogo?

Pode-se objetar que isso será daqui há mil anos. Mas o que são mil anos para quem vê as coisas da eternidade? A história humana parecerá menor que um dia para aqueles que a contemplam deste a eternidade. “Mille anni, ante oculos tuos, tamquam dies hesterna praeterit. / Porque mil anos, aos teus olhos, são como o dia de ontem, que passou” (Sl 39,4).

Cristo mesmo insiste que devemos meditar sobre essas coisas e que o fim dos tempos nos tomará de surpresa e acontecerá antes do que imaginamos. Prope est jam Dominus (Joel 1,15; Abidias 1,15). O Senhor está próximo, o dia do julgamento é iminente, assim pensaram os grandes santos e doutores da Igreja, como São Jerônimo, São Gregório, São Bernardo e São Vicente Ferrer. Naquele tempo terrível da consumação dos séculos nada mais distinguirá o homem senão a virtude e o mérito. O justo que ouviu as recomendações dos Apóstolos, observando os mandamentos de Cristo e sua Igreja, sairá vitorioso do meio desse caos sem precedentes, este será o triunfo do bem sobre o mal.

Que este seja o nosso destino. Amém.

Alguns pontos para guardar:

  1. O juízo final e o fim do mundo são condizentes com a razão e o bom senso;
  2. As guerras, fomes e pragas não são sinais certíssimos; elas serão somente o início das dores, se bem que dessa vez a calamidade diferirá das outras pela sua proporção;
  3. Sinais mais precisos sobre o fim dos tempos são a pregação do Evangelho em todo o mundo, a vinda do Anticristo e a conversão dos judeus;
  4. Esta pregação se cumprirá somente quando o mundo todo for católico;
  5. O elemento que dissolverá o mundo presente será o fogo.

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