O Papa e o Anticristo: A Grande Apostasia Predita

A doutrina católica é simples e clara: o Papa é a Suma Autoridade na Terra, o Vigário de Nosso Senhor Jesus Cristo. Isso faz dele o contrarrevolucionário por excelência, o inimigo número um dos rebeldes de todas as estirpes, o antagonista perpétuo do Anticristo. O Papa JAMAIS será parte da crise na Igreja ou mesmo a causa dela.

Alguns católicos hoje em dia se mostram dispostos a acreditar que o Papado não é o que a Igreja sempre nos ensinou que ele fosse. Este, porém, é um mau caminho. O que nós católicos devemos concluir a partir da postura revolucionária dos últimos clamantes ao Papado em Roma (de João XXIII em diante) é que eles não gozam do carisma papal. Isso explica perfeitamente bem o estado sem precedentes de confusão e desordem em que se encontra a Igreja de Deus no presente momento.

Se resta alguma dúvida quanto a isso, leia este artigo com bastante atenção.

Leia também: A Revolução dentro da Igreja

O PAPA E O ANTICRISTO
Pio XII vs o Anticristo

A GRANDE APOSTASIA PREDITA

INTRODUÇÃO

Como todos sofremos nesses tempos difíceis, nos quais a confusão e o caos reinam entre aqueles que procuram ser genuinamente católicos, membros da única religião verdadeiramente estabelecida por Deus, é útil e importante refletir sobre o fato de que a situação em que nos encontramos hoje – não ter Papas válidos desde 1958, nem bispos católicos com jurisdição ordinária, enquanto há em seu lugar uma falsa instituição mascarada de Igreja Católica, espalhando heresia, imoralidade e impiedade – foi predita na Sagrada Escritura. Assim como a Paixão, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo tomou (quase) todos de surpresa, embora essas coisas tivessem sido profetizadas de antemão, parece que a Paixão e aparente Morte da própria Igreja tem tomado todos de surpresa, muito embora a Sagrada Escritura, a Sagrada Tradição, os Padres da Igreja e vários teólogos tenham atestado que o Corpo Místico de Cristo teria de sofrer, antes do fim dos tempos, a maior tribulação de sua história.

Já tratamos um pouco desse assuntos em posts e artigos anteriores, onde mostramos passagens das Escrituras em que uma apostasia da Fé é predita e, de modo especial, aquelas que profetizavam que o Papado seria perseguido e atacado de maneira terrível. Para uma rápida revisão dessas importantes (e extremamente significativas) profecias, seguem os links:

Posto que é evidente que, ao longo de história, o Papa sempre foi alvo dos inimigos da Igreja na condição de verdadeiro Vigário de Jesus Cristo e Cabeça Visível da Igreja, não é de admirar que nos últimos tempos o demônio juntasse todas as suas forças numa última e extremamente poderosa tentativa de arrebatar o Papado e a Igreja. Vale dizer que essa batalha final de Satanás contra o Reino de Deus sobre a terra seria sem precedentes em termos de sua natureza, extensão, furor, poder, horror e astúcia.

UMA FRAUDE PARA DESTRUIR A IGREJA

Nas décadas que precederam a criação da seita modernista do Vaticano II, os Papas denunciaram vigorosamente as conspirações planejadas pelas sociedades secretas, que tinham como objetivo declarado a infiltração e destruição definitiva da Igreja Católica e sua doutrina. Os seguintes links apresentam vários excertos de documentos papais anteriores ao Vaticano II que chamam a atenção para a perseguição arquitetada e empreendida contra a Igreja da parte de seus mais perniciosos inimigos:

Algumas pessoas imprudentes procuram fugir dessa evidência por meio da resposta um tanto ligeira e cínica de que “a Igreja não pode ser destruída, as portas do Inferno não prevalecerão”. Embora isso seja verdade, tal resposta não compreende a realidade da situação: os Papas mesmos, obviamente, também sabiam que a Igreja Católica jamais poderia ser destruída, sendo obra de Deus e tendo Cristo prometido que ela se manteria sem qualquer alteração substancial até o fim dos tempos. Mas por que, então, os repetidos avisos dos papas? Por que o senso de alarme e urgência com o qual denunciavam o que seus inimigos estavam planejando?

A resposta é simples: A Igreja não será destruída, mantendo-se até o fim dos tempos, contudo, a perseguição empreendida por seus inimigos causa imenso dano às almas e as almas realmente vão para o Inferno, se elas sucumbirem como suas vítimas. Quando a Fé está sob ataque, quando as almas estão sob o risco de se perderem, quando a heresia ameaça sufocar a fé pura e inocente de seus filhos, não basta simplesmente apontar para o fato de que a Igreja não pode ser destruída. Ela não pode ser destruída, de fato, mas o número de seus membros pode diminuir, isto é, seus filhos podem se perder, podem abandonar a Fé e se tornarem insensíveis, eles podem pecar mortalmente, morrer espiritualmente pela confusão e falta de conhecimento e queimar no Inferno eternamente. O fato do Reino de Deus perder membros e tê-los transferidos de volta ao domínio das trevas, inclusive em grandes quantidades, provoca grande perturbação e ansiedade; afinal, isso é o contrário do que a Igreja foi encarregada de realizar! A Igreja foi fundada para levar as almas para o Céu, não para vê-las condenadas ao Inferno. Por essa razão que a réplica de que “as portas do Inferno não prevalecerão”, em face à perseguição da Igreja, está completamente deslocada.

Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pastor de nossas almas (cf Jo 10,14), avisou-nos que antes de sua Segunda Vinda haveria um declínio da Fé causado por uma grande fraude, uma fraude tão convincente que até mesmo os eleitos creriam, se não fossem especialmente prevenidos por Deus:

E estando ele assentado no Monte das Oliveiras, se chegaram a ele seus discípulos em particular, perguntando-lhe: Dize-nos, quando sucederão estas coisas? E que sinal haverá da tua vinda e da consumação do século? E respondendo Jesus lhes disse: Vede, não vos engane alguém; Porque virão muitos em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo; e enganarão a muitos. Haveis pois de ouvir guerras, e rumores de guerras. Olhai não vos turbeis; porque importa que assim aconteça, mas não é este ainda o fim; Porque se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá pestilência, e fomes, e terremotos em diversos lugares. E todas estas coisas são o princípio das dores. Então vos entregarão à tribulação e vos matarão; e sereis aborrecidos de todas as gentes por causa do meu nome. E muitos então serão escandalizados, e se entregarão de parte a parte, e se aborrecerão uns aos outros. E levantar-se-ão muitos falsos profetas, e enganarão há muitos. E porquanto multiplicar-se-á a iniquidade e se resfriará a caridade de muitos. Mas o que perseverar até o fim, este será salvo. E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, em testemunho a todas as gentes; e então chegará o fim. Quando vós pois virdes que a abominação da desolação, que foi predita pelo profeta Daniel, está no lugar santo, o que lê entenda; Então os que se acharem na Judeia, fujam para os montes; E o que se acha no telhado, não desça para levar coisa alguma de sua casa; E o que se acha no campo, não volte a tomar a sua túnica. Mas ai das que estiverem grávidas, das que tiverem filhos naqueles dias. Rogai pois que não seja a vossa fuga em tempo de inverno, ou em dia de sábado; Porque será então a aflição tão grande, que, desde que há mundo até agora, não houve, nem haverá outra semelhante. E se não se abreviassem aqueles dias, não se salvaria pessoa alguma; porém abreviar-se-ão aqueles dias em atenção aos escolhidos. Então, se alguém vos disser: Olhai, aqui está o Cristo; ou, ei-lo acolá: não lhe deis crédito. Porque se levantarão falsos cristos e falsos profetas, que farão grandes prodígios e maravilhas tais que, se fosse possível, até os escolhidos se enganariam. Vede que eu vo-lo adverti antes.

(Mateus 24,3-25)

Uma fraude de tais dimensões, que quase enganaria os eleitos, tem de ser uma fraude muito perniciosa. Por certo, tem de ser capaz de enganar as massas; tem de ser um ardil capaz de arrebatar um grande número de fiéis católicos, tornando-os infiéis. Ora, existe melhor modo para isso do que colocar uma falsa igreja no lugar da Igreja Católica? Do que introduzir uma seita desde dentro que, enquanto mantendo a aparência da verdadeira Igreja, subverte a doutrina da Fé, os Sacramentos e a piedade católica? Mais: se existe uma pessoa na terra que os católicos seguem, essa pessoa é o Papa; logo, a grande apostasia tem de ser imposta desde cima. O alvo, portanto, será o Papa – o Papado deve ser usurpado, de um modo ou de outro, para que os inimigos da Igreja sejam capazes de realizar o seu sonho maligno de perverter a fé de milhões com o único intento de estabelecer o reino do homem no lugar do reino de Cristo.

No século XIX, o plano da loja maçônica Alta Vendita se fez transparente na sua secreta “Instrução Permanente”, um documento que, pela providência do Deus Todo-Poderoso, foi descoberto no reinado de Gregório XVI (1831-1846) e divulgado pelos Papas Pio IX e Leão XIII:

Não temos a intenção de trazer os Papas à nossa causa, de torná-los neófitos dos nossos princípios, propagadores das nossas ideias. Isso seria um sonho ridículo, não importa a maneira como esses eventos possam suceder. Se cardeais ou prelados, por exemplo, de algum modo entrassem, conscientes ou não, dentro de algum de nossos planos, não seria esse fato um incentivo para desejar a sua ascensão à Sé de Pedro. Essa elevação iria nos destruir. A simples ambição os lavaria para a apostasia de nossa causa: as necessidades do poder hão de forçá-los a nos sacrificar. Assim, o que nós deveríamos pedir, aquilo que deveríamos procurar e esperar, assim como os judeus esperam pelo Messias, é um Papa de acordo com as nossas vontades…

Portanto, a fim de garantir-nos um Papa nesses moldes, é necessário formar para esse Papa uma geração digna do reinado daquele que nós sonhamos…

… Buscai o Papa cujo retrato vos damos. Desejais estabelecer o reino do eleito sobre o trono da prostituta da Babilônia? Deixai os clérigos marcharem sob a vossa bandeira na crença de que estão marchando sob a bandeira das Chaves Apostólicas. Desejais acabar com o último vestígio de tirania e de opressão? Lançai as vossas redes como Simão, filho de Jonas. Lançai-as no interior das sacristias, seminários e conventos, em vez de lançá-las ao fundo do mar e, caso não vos desespereis, obtereis uma pescaria mais milagrosa que a dele. Eis que o pescador de peixes se tornará um pescador de homens! Vós mesmos havereis de ficar como amigos à volta da Sé Apostólica. Dessa maneira, vós tereis realizado uma Revolução de Tiara e Casula, combinada com Cruz e bandeira – uma Revolução que precisa somente de um empurrãozinho para incendiar os quatro cantos da Terra.

(Permanent Instruction of the Alta |Vendita)

Enquanto parece que os eventos posteriores, na verdade, saíram um pouco diferentes do que o planejado neste documento – há evidência de que Angelo Roncalli, que se tornou o primeiro Antipapa da falsa Igreja do Vaticano II em 1958, foi realmente um maçom rosacruzense – o elemento-chave da fraude, isto é, “ser-católica-por-fora-mas-herética-por-dentro”, permanece o mesmo: “Deixai os clérigos marcharem sob vossa bandeira na crença de que estão marchando sob a bandeira das Chaves Apostólicas… Vós mesmos havereis de ficar como amigos à volta da Sé Apostólica. Dessa maneira, vós tereis realizado uma Revolução de Tiara e Casula, combinada com Cruz e bandeira…”

Certamente todos os falsos papas desde 1958 tem pregado a doutrina maçônico-modernista, que se impôs oficialmente com a “encíclica” Pacem in Terris de João XXIII e o Concílio Vaticano II: os ideais maçônicos de liberdade, igualdade e fraternidade se tornaram as doutrinas do Vaticano II de liberdade religiosa, colegialidade e do ecumenismo, que são o fundamento da religião Novus Ordo. No entanto, dentre os seis papas impostores até o presente, o que mais abertamente professa e ensina as doutrinas maçônicas é o atual Jorge Bergoglio, mais conhecido como “Papa Francisco”, como se pode verificar nos seguintes links:

O que faz dessa perseguição a Igreja, infligida pelos maçons infiltrados e seus discípulos, algo realmente mais poderoso e trágico é que frequentemente as pessoas que promovem esses falsos mestres são, no entanto, de boa vontade, piedosas e sinceramente buscam servir a Deus – em outras palavras, a grande maioria daqueles que espalham a apostasia não são enganadores deliberados, mas, em vez disso, são eles mesmos vítimas da fraude. No sermão proferido no Domingo de Pentecostes de 1861, o famoso Padre Frederick Faber alertou que isso era precisamente o que faria tantas pessoas caírem no erro:

Devemos lembrar que se todos os homens manifestamente bons fossem para um lado e todos os manifestamente maus fossem para o outro, não existiria o menor risco do último dos eleitos ser enganado por prodígios de mentira. São os bons homens, os que o foram uma vez e que devemos esperar que ainda o sejam, que hão de fazer a obra do Anticristo e que, desafortunadamente, hão de crucificar o Senhor novamente… Tenham em mente esta característica dos últimos tempos: esta fraude surge precisamente do fato dos homens bons estarem do lado errado.

(Pe. Frederick Faber, Sermon for Pentecost Sunday, 1861; qtd. in Pe. Denis Fahey, The Mystical Body of Christ in the Modern World)

A importância desse ponto nunca pode ser enfatizada o bastante, porque uma multidão de pessoas são seduzidas pela aparência externa e fazem-no a partir da (real ou falsa) sinceridade alheia. O que Padre Faber nos ensinou é que essas mesmas pessoas boas e sinceras podem ainda, inconscientemente, fazer o trabalho do Anticristo – a sinceridade que elas têm não as impede de serem, de facto, agentes do demônio; a boa vontade delas também não as previne de serem ferramentas usadas para a realização da obra de Satanás.

CARDEAL MANNING SOA O ALARME

Durante a Páscoa de 1861, o famoso Cardeal Henry Edward Manning (1808-92), convertido do anglicanismo, publicou um livreto contendo quatro textos explicando os eventos que haveriam de preceder e circundar o advento do Anticristo, pautado nas palavras de São Paulo em II Tessalonicenses 2,3-11, que fala não só de uma grande fraude, mas também de uma revolta, de um “homem do pecado” e da força que temporariamente o retém:

Ninguém, de modo algum, vos engane; porque não será, sem que antes venha a apostasia, e sem que antes tenha aparecido o homem do pecado, o filho da perdição, aquele que se opõe e se eleva sobre tudo o que se chama Deus, ou que é adorado, de sorte que se assentará no templo de Deus, ostentando-se como se fosse Deus. Não vos lembrais de que eu vos disse estas coisas, quando ainda estava convosco? E vós sabeis que é o que agora o retém, a fim de que seja manifestado a seu tempo. Porque o mistério da iniquidade já de presente se obra; somente que aquele, que agora o retém, retenha, até que seja tirado do meio. E, então, aparecerá o tal iníquo, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca e o destruirá com o resplendor de sua vinda; a vinda do qual é, segundo a obra de Satanás, em todo o seu poder, e em sinais e em prodígios mentirosos, e em toda a sedução da iniquidade para aqueles que perecem; porque não receberam o amor da verdade para serem salvos. Por isso, lhes enviará Deus a operação do erro, para que creiam na mentira; para que sejam condenados todos os que não deram crédito à verdade, antes assentiram à iniquidade.

(II Tessalonicenses 2,3-11)

O livreto de Cardeal Manning foi publicado inicialmente com o título The Present Crisis of the Holy See Tested by Prophecy [A Presente Crise da Santa Sé à luz da profecia], mas depois passou a ser reeditado com o nome mais chamativo de The Pope & the Antichrist [O Papa e o Anticristo] (Tradibooks, 2007). A maior parte do conteúdo dessa obra foi incluída posteriormente no trabalho mais extenso chamado The Temporal Power of the Vicar of Jesus Christ [O Poder Temporal do Vigário de Jesus Cristo].

Embora sempre se deva ter cautela com respeito a um interesse excessivo pelas coisas relacionadas ao “fim dos tempos”, no entanto, plea mesma razão seria imprudente desconsiderar toda e qualquer revelação relacionada com essa questão, visto que o Deus Todo-Poderoso não nos revelaria verdades para que nós as ignorássemos.

Em O Papa e o Anticristo, o Cardeal Manning destaca e explica em detalhe os quatro elementos-chave mencionados por São Paulo na passagem citada acima. São eles:

  1. Uma “revolta” contra a verdadeira Igreja;
  2. A manifestação do “homem do pecado”, o Anticristo;
  3. Uma força que o retém por um tempo;
  4. Um período de poder no qual o Anticristo persegue os fiéis.
Cardeal Manning
Cardeal Henry Edward Manning (1808-1892)

O Cardeal se adianta em dizer que os esclarecimentos que ele fornece não são o resultado de suas próprias conjecturas, mas que antes se fundam na autoridade de teólogos católicos reconhecidos: “Ao tratar desse assunto, não me aventurarei a quaisquer conjecturas pessoais, mas relatarei, simplesmente, o que encontrei nos Padres da Igreja ou em tais teólogos reconhecidos pela Igreja, a saber, Belarmino, Léssio, Malvenda, Viegas, Suárez, Ribera e outros.” (p. 9).

Os parágrafos seguintes consistem de vários trechos tomados das mais excelentes e edificantes passagens dessa obra de Cardeal Manning. Para aqueles que estão interessados em obter uma cópia e apoiar o nosso trabalho, faça um PIX no valor de R$ 29,90 para diogodeguaramirim@gmail.com ou então para uma destas contas abaixo:

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Os excertos a seguir de O Papa & o Anticristo estão divididos por seções que correspondem às quatro conferências que constituem o livro. Enquanto você fizer a leitura desses excertos, tenha em mente que o Cardeal os escreveu em 1861, há mais de cento e cinquenta anos atrás, antes das duas terríveis guerras mundiais, antes da criação do Estado de Israel e pouco tempo depois do reino da Itália ter anexado à força a maior parte dos Estados Pontifícios, do qual o Papa era o chefe temporal.

[PRINCÍPIO DO EXCERTO]

I CONFERÊNCIA: A GRANDE APOSTASIA

Aqui, temos uma profecia de quatro grandes fatos: primeiro, uma revolta, que deve preceder a segunda vinda de Nosso Senhor; em segundo lugar, manifestação de alguém que é chamado de “o tal iníquo”; em terceiro lugar, um obstáculo, que restringe sua manifestação; e, por último, o período de poder e perseguição, do qual ele será o autor.

Então, primeiramente, o que é essa revolta? No original, ela é chamada de αποστασία, “apostasia”, e na Vulgata, discessio ou “ruptura”. Ora, uma revolta implica uma separação sediciosa de alguma autoridade e uma consequente oposição a ela.

Ora, só há no mundo duas autoridades supremas, a civil e a espiritual; assim, tal revolta deve ser ou uma sedição, ou um cisma.… Poucas provas parecem necessárias para demonstrar que esta revolta ou apostasia é uma separação, não da ordem civil, mas, sim, da ordem e autoridade espiritual. Com efeito, os escritores sagrados falam, frequentemente, de tal separação espiritual. Em uma passagem, São Paulo parece declarar, expressamente, o significado dessa palavra. Ele anunciou a São Timóteo que, nos últimos dias,  “alguns apostatarão da fé”, e parece evidente fazer, neste lugar, referência à mesma apostasia, com o sentido de uma ruptura espiritual.

Então, a autoridade, contra a qual a revolta deve se insurgir, é aquela do reino de Deus na terra… em outras palavras, a Igreja única e universal, fundada por nosso Divino Senhor e difundida por seus Apóstolos por todo o mundo. Neste único reino sobrenatural, foi depositado o verdadeiro e puro teísmo, ou conhecimento de Deus, e a verdadeira e única fé do Deus Encarnado, com as doutrinas e leis da graça. Essa, pois, é a autoridade contra a qual deve se armar a revolta, seja ela qual for.

Sendo essa a autoridade contra a qual se levanta a revolta, não será difícil definir seu caráter. Os autores inspirados expressamente descrevem suas notas.

A primeira é o cisma, como demonstra São João: “É chegada a última hora e, como vós tendes ouvido dizer que o Anticristo vem, também já, desde agora, há muitos anticristos, donde conhecemos que é chegada a última hora. Eles saíram de nós, mas não eram de nós, porque, se eles tivessem sido de nós, ficariam certamente conosco.”

A segunda é a rejeição da obra e presença do Espírito Santo. São Judas diz: “Estes são os que fomentam a discórdia, homens sensuais [isto é, homens que ignoram seu caráter sobrenatural], que não têm o Espírito.” Isso necessariamente envolve o princípio herético da opinião humana, como oposta à infalível voz do Espírito Santo, Que fala através da Igreja de Deus.

A terceira é a negação da Encarnação. São João escreve: “Todo espírito, que confessa que Jesus Cristo veio em carne, é de Deus; e todo espírito, que divide a Jesus [isto é, todo o que nega o mistério da Encarnação, ou sua verdadeira divindade, ou sua verdadeira humanidade, ou a unidade ou divindade da pessoa do Filho Encarnado] não é de Deus, mas este tal é o Anticristo, do qual vós tendes ouvido que vem, e ele agora está já no mundo.” Novamente, ele diz: “Muitos impostores se tem levantado no mundo, que não confessam que Jesus veio em carne; este tal é impostor e um anticristo.”

Essas, pois, são as notas com as quais – de modo semelhante à Igreja, que é conhecida por suas notas – pode ser reconhecida a revolta anticristã ou apostasia.

[T]odas as heresias, desde o início, não são mais do que o contínuo desenvolvimento e expansão do “mistério da iniquidade”, que já de presente se obra.…

É evidente que esse movimento acumulou seus resultados, de época em época, e que, neste momento, está mais maduro e tem uma estatura mais elevada e um poder maior, bem como um antagonismo mais formal à Igreja e à fé, do que nunca antes…

Parece inevitável que a inimizade de todas as nações (que estão separadas da unidade católica – e penetradas pelo espírito da Reforma, isto é, pelo espírito do juízo privado, em oposição à Voz Divina da Igreja viva, e pela incredulidade que tem banido a presença eucarística do Verbo Encarnado) deva concentrar-se contra a pessoa que é o Vigário e Representante de Jesus, e contra o Corpo que, sozinho, dá testemunho da Encarnação e de todos os seus mistérios de verdade e graça. Tal é a única Santa Igreja Católica e Romana, e tal é o Sumo Pontífice, sua Cabeça Visível. Tais são, nas palavras da Sagrada Escritura, os dois mistérios da piedade e da iniquidade.

Todas as coisas estão lançando, à luz e à proeminência, os dois poderes últimos que dividem os destinos dos homens. O conflito é um simples antagonismo de Cristo e Anticristo. Essas duas correntes estão se organizando em ordem de batalha, e os homens estão escolhendo seus princípios; ou os eventos estão escolhendo por eles; e eles, assim, vão sendo – inconscientemente – arrastados por correntes que ignoram…

II CONFERÊNCIA: O ANTICRISTO

De fato, é verdade que o Anticristo teve, e ainda pode ter, muitos precursores, como também o teve o próprio Cristo: Isaac, Moisés, Josué, Davi, Jeremias eram tipos deste; assim também, Antíoco, Juliano, Ário, Maomé e muitos mais são tipos daquele. Afinal, pessoas tipificam pessoas. Assim, novamente, como Cristo é a Cabeça e o Representante, no qual todo o mistério da piedade foi resumido e recapitulado, também todo o mistério da impiedade encontrará sua expressão e sua cabeça na pessoa do Anticristo. De fato, ele pode incorporar um espírito e representar um sistema, mas, nem por isso, é algo menos do que uma pessoa…

Em seguida, os Padres acreditaram que o Anticristo será da raça judaica… isso parecerá provável, se considerarmos que o Anticristo virá para enganar aos judeus, de acordo com a profecia de nosso Senhor: “Eu vim em nome de meu Pai, e vós não me recebeis: Se vier outro em seu próprio nome haveis de recebê-lo”. (Jo 5,43)… Além disso, a sua probabilidade também se fará manifesta, se considerarmos que um falso Messias careceria da primeira qualidade necessária para seu bom êxito, se não fosse da casa de Davi: que os judeus ainda estão esperando por sua vinda; que, com a crucificação do verdadeiro Messias, eles já prepararam o caminho para seu engano. É precisamente por isso que os Padres também interpretaram, como referentes ao verdadeiro e ao falso Messias, aquelas palavras de São Paulo aos Tessalonicenses: “Porque não receberam o amor da verdade para serem salvos; por isso lhes enviará Deus a operação do erro, para que creiam na mentira.”…

Francisco escondendo a CruzA partir disso, percebemos um terceiro caráter do Anticristo, a saber, que ele não será simplesmente o antagonista, mas o substituto ou suplantador do verdadeiro Messias. E isso se torna ainda mais provável, pelo fato de que o Messias – procurado pelos judeus – sempre foi um libertador temporal, o restaurador de seu poder temporal; ou – em outras palavras – um político e príncipe militar. É óbvio, também, que quem se aventurar a enganá-los, na pretensa qualidade de seu Messias, deverá – por necessidade – negar a Encarnação, independentemente de qualquer pretenso caráter sobrenatural, que arrogue a si mesmo. O Anticristo será, em sua própria pessoa, uma negação completa de toda a fé cristã e da Igreja. Afinal, se ele é o verdadeiro Messias, o Cristo dos cristãos deve ser falso.…

As profecias, contudo, atribuem à pessoa do Anticristo um caráter mais preternatural.30 Ele é descrito como um operador de falsos milagres. Diz-se que sua vinda será “segundo a obra de Satanás em todo o seu poder, e em sinais e em prodígios mentirosos, e em toda a sedução da iniquidade para aqueles que perecem.” [II Ts 2,9-10]… O tempo está maduro para uma ilusão. Não se crerá nos milagres dos santos, mas se beberá copiosamente dos fenômenos do espiritismo..

A última característica, de que falarei, é mais difícil, talvez, de se conceber. São Paulo diz do “homem do pecado”, “filho da perdição, que se opõe, e se eleva sobre tudo o que se chama Deus, ou que é adorado, de sorte que se assentará no templo de Deus, ostentando-se como se fosse Deus.” Essas palavras são interpretadas, pelos Padres, como significando que ele reivindicará, para si, honras divinas e isso no Templo de Jerusalém… [Ainda:] Assim como Cristo, na Sua vinda, era tido como o carpinteiro, da mesma forma o Anticristo deve ser, visivelmente, nada mais do que um empreendedor bem-sucedido. Mesmo o seu caráter preternatural, verdadeiro ou falso, pode parecer, aos olhos dos outros, como cintilações de insanidade, ou como absurdos de seus partidários, ou devaneios de seus aduladores. Assim o mundo cega os próprios olhos, pela fumaça de seu próprio orgulho intelectual.

III CONFERÊNCIA: AQUELE OU O QUE RETÉM A MANIFESTAÇÃO DO ANTICRISTO

Como há uma operação perpétua desse mistério de iniquidade, há, também, um impedimento ou barreira perpétua à sua manifestação plena, que continuará até que seja removido; e há um tempo determinado em que este será retirado do caminho… Ora, visto que esse iníquo será uma pessoa sem lei – que introduzirá desordem, sedição, tumulto e revolução, tanto na ordem temporal quanto espiritual do mundo – então, aquilo que deve impedir seu desenvolvimento, e que será seu direto antagonista após a sua manifestação, deve ser, necessariamente, o princípio da ordem, a lei da submissão, a autoridade da verdade e do direito.

Chegamos, agora, perto de uma solução para o que afirmei no início, a saber, como o poder que impede a revelação do iníquo, não é somente uma pessoa, mas também um sistema; e não somente um sistema, mas também uma pessoa. Em uma palavra, é a Cristandade e sua Cabeça. Logo, na pessoa do Vigário de Jesus Cristo e naquela dupla autoridade com a qual, pela Divina Providência, ele foi investido, vemos o antagonista direto ao princípio da desordem…

Desde a fundação da Europa cristã, a ordem política do mundo repousa sobre a Encarnação de Nosso Senhor Jesus Cristo. Por essa razão, todos os atos públicos de autoridade – e, até mesmo, o calendário, pelo qual datamos nossos dias – são calculados a partir do ano da salvação, ou do “ano de Nosso Senhor”… no momento em que se concede igualdade de direitos aos que negam a Encarnação – a vida social e a ordem, em que se vive, sai da base religiosa, para descer ao nível da mera natureza. Isso é, precisamente, o que foi profetizado sobre o período anticristão….

A barreira, que impedia o desenvolvimento do princípio da desordem anticristã, tinha sido o poder de Jesus Cristo, Nosso Senhor, incorporado pela Igreja, conduzida pelo seu Vigário. Desse modo, nenhuma mão é poderosa o bastante, e ninguém será capaz de tirá-lo do caminho, exceto a mão e a vontade do Filho Encarnado de Deus….

A história da Igreja e a história de nosso Senhor sobre a terra correm como que em paralelo. Por trinta e três anos, o Filho de Deus esteve no mundo e nenhum homem poderia lançar sua mão contra ele. Nenhum homem poderia apanhá-Lo, porque a sua “hora ainda não chegou.” Havia uma hora pré-determinada, em que o Filho de Deus deveria ser entregue nas mãos dos pecadores. Ele sabia disso. Ele a tinha profetizado. Manteve Seu destino em Suas próprias mãos, pois estava protegido pelo círculo de Seu próprio poder divino. Nenhum homem poderia atravessar aquele círculo de onipotência, até que chegasse a sua hora, quando – por Sua própria vontade – Ele abrisse caminho para os poderes do mal. Por essa razão, disse no horto, “Esta é a vossa hora, e o poder das trevas.”…

Da mesma forma acontecerá com Sua Igreja. Até chegar o tempo, em que a barreira deverá, pela Vontade Divina, ser tirada do caminho, ninguém poderá lançar sua mão contra ela. As portas do Inferno poderiam mover guerra contra ela. Pode-se lutar, como o fazem agora, contra o Vigário de Nosso Senhor, mas não têm o poder de mover um passo a mais, até que chegue a hora em que o Filho de Deus permitirá, por um tempo, que os poderes das trevas prevaleçam. Ele permitirá que prevaleçam por um tempo, e isso se apoia no livro da profecia.…

Temos, pois, a necessidade de estar bem em guarda. Deve acontecer, mais uma vez, com alguns, aquilo que ocorreu quando o Filho de Deus estava em sua Paixão: viram-no traído, preso, amarrado, abatido, golpeado, de olhos vendados e açoitado; viram-no carregar Sua Cruz para o Calvário e lá O pregaram e elevaram, para o desprezo do mundo. E até disseram: “…se ele for o Rei de Israel, desça agora da cruz, e nós creremos nele.” [Mt 27,42] Assim, da mesma forma, dizem eles agora: “Vede a Igreja Católica, esta Igreja de Deus, débil e frágil, rejeitada até mesmo pelas nações ditas católicas. Vede a França católica, a Alemanha católica, a Sicília católica e a Itália católica, abrindo mão da falácia do poder temporal do Vigário de Jesus Cristo.” E assim, porque a Igreja parece fraca e o Vigário do Filho de Deus está renovando, em si, a Paixão de seu Mestre sobre a terra, nós ficamos escandalizados, dele afastamos a nossa face. Então, onde é que está a nossa fé? Entretanto, o filho de Deus predisse essas coisas quando falou: “E eu vo-lo disse agora, antes que suceda, para que, quando suceder, o creiais.” (Jo 14,29).

Pio XII sendo velado
Velório de Pio XII (outubro de 1958)

IV CONFERÊNCIA: A PAIXÃO E “MORTE” DA IGREJA

Ora, é contra essa pessoa [do Papa] que o espírito do mal e da falsidade, de forma eminente e principal, como disse antes, dirige seu ataque; pois, se a cabeça do corpo for ferida, o próprio corpo deve morrer. “Firam o pastor, e o rebanho se dispersará” é a velha astúcia do Maligno, que feriu o Filho de Deus para que pudesse dispersar o rebanho. Mas essa artimanha foi tentada, e sempre falhou; pois, na morte que abateu o Pastor, o rebanho foi redimido: embora o pastor – que foi constituído no lugar do Filho esteja abatido – o rebanho não pode mais se dispersar. Há trezentos anos, o mundo se esforça para arruinar a linhagem dos Soberanos Pontífices, mas o rebanho nunca se dispersou: e assim deve ser até o fim. No entanto, é contra a Igreja de Deus e, principalmente contra Sua Cabeça, que todos os espíritos das trevas, em todos os tempos, sobretudo no presente, dirigem as flechas de sua inimizade…

Ora, a Igreja já teve de sofrer duas perseguições, uma das mãos dos judeus e outra também das mãos dos pagãos; então, os escritores dos primeiros tempos, os Padres do Oriente e do Ocidente, predisseram que, na última era do mundo, a Igreja terá que passar por uma terceira perseguição, mais amarga, mais sangrenta, mais completa e mais ardente do que qualquer que se tenha sofrido até agora. E virá das mãos de um mundo infiel, que se revoltou contra o Verbo Encarnado…

Os ímpios não prevaleceram contra Ele [Nosso Senhor Jesus Cristo], mesmo quando amarraram suas mãos com cordas, arrastaram-no para o julgamento, vendaram seus olhos, zombaram dele como se fosse um falso rei, bateram em sua cabeça como se fosse um falso profeta; ainda quando o conduziram para fora, crucificaram-no e, no auge de seu poder, pareciam ter total domínio sobre Ele, de modo que Ele foi derrubado e quase se prostrou diante de sus pés. Precisamente no momento em que esteve morto e enterrado à vista deles, foi o tempo em que Ele foi elevado sobre todos, ressurgiu ao terceiro dia, subiu aos Céus, foi coroado e glorificado, tomando posse de sua realeza e supremo reinado, sendo constituído Rei dos Reis e Senhor dos Senhores. Desse mesmo modo, deve suceder com a sua Igreja: embora por um tempo perseguida e, aos olhos dos homens, derrotada e pisoteada, destronada, despojada, escarnecida e esmagada, mesmo nesse tempo de triunfo, as portas do Inferno não prevalecerão.

Existe, na história, uma ressurreição e uma ascensão para a Igreja, uma realeza e dominação, uma gloriosa recompensa para todos os que tenham perseverado. Como aconteceu com Jesus, é preciso sofrer para receber essa coroa; porém, uma vez coroado, com Ele ficará eternamente. Então ninguém se escandalize, se a profecia fala de sofrimentos no porvir. Estamos todos acostumados a imaginar triunfos e glórias da Igreja sobre a terra,- que o Evangelho será pregado por todas as nações, que o mundo se converterá e todos os inimigos serão subjugados… até alguns se mostram indispostos a ouvir que na história da Igreja, haverá um tempo de grande tribulação. Agindo assim, fazemos como os antigos judeus que esperavam por um conquistador, por um rei, pela prosperidade; e quando seu Messias veio, na humildade e na paixão, não o reconheceram. Por isso, estou inclinado a pensar que muitos, entre nós, intoxicam suas mentes com vislumbres de sucesso e vitória, a ponto de não suportarem a ideia de que esse tempo de perseguição já se aproxima da Igreja de Deus….

Communion of unbelieversO primeiro sinal ou nota desta perseguição vindoura é uma indiferença à verdade. Assim como há um tempo de calma antes de um redemoinho, e como as águas sobre uma grande cachoeira correm como por sobre vidro, assim, antes de uma convulsão, há um tempo de tranquilidade. O primeiro sinal é a indiferença. O sinal, que pressagia com mais certeza do que qualquer outro, a eclosão de uma perseguição futura é uma espécie de indiferença desdenhosa à verdade ou à falsidade. A Roma Antiga, em sua força e poder, adotou todas as religiões falsas de todas as nações conquistadas e deu, a cada uma delas, um templo dentro de seus muros. Ela era soberana e desdenhosamente indiferente a todas as superstições da terra. Ela as encorajou, pois cada nação tinha a sua própria, e essa superstição peculiar a cada uma era um modo de tranquilizar, governar e manter, em sujeição, o povo que se lisonjeava pela construção de um templo dentro dos muros romanos. Da mesma forma, vemos as nações do mundo cristão, neste momento, adotarem gradualmente todas as formas de contradição religiosa – isto é, dando-lhes total alcance e, como se diz, perfeita tolerância; não reconhecem quaisquer distinções de verdade ou falsidade entre uma religião ou outra, mas deixam todas as formas de religião trabalharem do seu próprio jeito…

Assim, como sabemos, nasce aquele intenso ódio pelo que é chamado de dogmatismo, isto é, por qualquer verdade positiva, qualquer coisa definida, final, que tenha limites precisos; qualquer forma de crença que se expresse em definições particulares. Tudo isso é completamente desagradável para os homens que, em princípio, encorajam todas as formas de opinião religiosa…

Pio XIIO próximo passo, pois, é a perseguição da verdade… [Na Roma antiga] havia apenas uma religião que foi chamada de religio illicita, e apenas uma sociedade que foi chamada de societas illicita. Eles podiam adorar os doze deuses do Egito, ou Júpiter Capitolino, ou Dea Roma; mas eles não podiam adorar ao Deus do céu, eles não podiam adorar ao Deus revelado em Seu Filho. Eles não criam na Encarnação; e a única religião verdadeira era a não tolerada. Havia os sacerdotes de Júpiter, de Cibele, de Fortuna e de Vesta; havia todo tipo de confrarias sagradas, ordens e sociedades, e quantas mais… no entanto, havia uma sociedade que não tinha permissão de existir, e essa era a Igreja do Deus vivo. Em meio a essa tolerância universal, houve uma exceção feita com a mais peremptória exatidão, para excluir a verdade e a Igreja de Deus do mundo. Ora, esse estado de coisas deve, inevitavelmente, renovar-se, porque a Igreja de Deus é inflexível na missão que lhe foi confiada. A Igreja Católica nunca fará concessões em matéria de doutrina; nunca permitirá que duas doutrinas opostas sejam ensinadas no seu seio; nunca obedecerá ao governo civil que queira pronunciar juízo em matérias espirituais. A Igreja Católica está obrigada, por lei divina, a sofrer o martírio, em vez de comprometer uma doutrina revelada, ou obedecer a leis civis que violem a consciência; e, mais do que isso, não está somente obrigada a oferecer uma desobediência passiva, que pode ser secreta e assim não percebida, e porque não percebida, não sujeita a penas; mas a Igreja Católica não pode ficar em silêncio; não pode se calar; não pode deixar de pregar as doutrinas da Revelação, não só da Trindade e da Encarnação, mas também dos Sete Sacramentos, da infalibilidade da Igreja de Deus e da necessidade da unidade e da soberania, tanto temporal quanto espiritual, da Sé Apostólica. Porque não pode permanecer em silêncio, porque não pode transigir em sua doutrina, porque não obedece em questões que tocam em sua prerrogativa divina. Por isso, ela é a única no mundo. Pois não há outra Igreja, outra qualquer comunidade, que receba o nome de igreja, que não se submeta, ou obedeça, ou se cale ante o comando dos governos civis….

Missa NovaOs Santos Padres que escreveram sobre o assunto do Anticristo e dessas profecias de Daniel, sem uma única exceção, até onde eu sei, e eles são os Padres do Oriente e do Ocidente, da Igreja Grega e da Latina, todos eles – de forma unânime – dizem que, no fim do mundo, durante o reino do Anticristo, a oblação pública do Santo Sacrifício do Altar cessará por algum tempo.73 Na obra sobre o fim do mundo, atribuída a Santo Hipólito, depois de uma longa descrição das aflições dos últimos dias, lemos o seguinte: “As Igrejas lamentarão com um grande clamor, pois não será mais oferecida a oblação, nem o incenso, nem o culto aceitável a Deus. Os edifícios sagrados das igrejas serão como choupanas; e o Precioso Corpo e Sangue de Cristo não se manifestarão naqueles dias; a Liturgia será extinta; o canto de salmos cessará; a leitura da Sagrada Escritura não será mais ouvida. Mas haverá trevas sobre os homens, e pranto sobre pranto, e ai sobre ai.” Então, a Igreja será dispersada, levada ao deserto e, por um tempo, como era no princípio, ficará invisível, escondida em catacumbas, em cavernas, em montanhas, em esconderijos; por um tempo ela será, por assim dizer, varrida da face da terra. Esse é o testemunho universal dos Padres dos primeiros séculos…

Missa Nova IIAs sociedades secretas há muito têm minado e se infiltrado na sociedade cristã da Europa, e estão, neste momento, marchando em direção a Roma, o centro de toda a ordem cristã no mundo. O cumprimento da profecia ainda está por vir; e o que vimos nas duas alas, veremos também no centro; e aquele grande exército da Igreja de Deus será disperso por um tempo. Por um tempo, parecerá vencido, e o poder dos inimigos da fé – também por um tempo – prevalecerá. O sacrifício perpétuo será removido e será derrubado o santuário. O que pode ser, mais literalmente, a abominação da desolação do que a heresia que removeu a presença do Deus vivo do Altar? Se quiserdes entender esta profecia da desolação, entrai em uma igreja que já foi católica, onde agora não há sinal algum de vida; está vazia, despojada, sem altar, sem tabernáculo, sem a presença de Jesus…

E, assim, chegamos à terceira nota, a derrubada do “príncipe da fortaleza”; isto é, a autoridade divina da Igreja, e especialmente daquele em cuja pessoa ela está incorporada, o Vigário de Jesus Cristo… O destronamento do Vigário de Cristo é o destronamento da hierarquia da Igreja universal e a rejeição pública da Presença e do Reino de Jesus.…

A tendência direta de todos os eventos que vemos, neste momento, é claramente esta, de derrubar o culto católico em todo o mundo. Já vemos que cada governo, na Europa, está excluindo a religião de seus atos públicos. Os poderes civis estão se profanando: o governo não tem religião; e se o governo é ateu, a educação deve ser sem religião. Já vemos isso na Alemanha e na França. Isso se tentou por repetidas vezes na Inglaterra. O resultado disso nada pode ser, senão o restabelecimento da mera sociedade natural; isto é, os governos e os poderes do mundo – que, por um tempo, foram subjugados pela Igreja de Deus à fé no cristianismo, à obediência às leis de Deus e à unidade da Igreja – tendo se revoltado e profanado, retornaram ao seu estado natural.…

[Muitos] cairão de sua fidelidade a Deus. E como acontecerá isso? Em parte por temor, em parte por engano, em parte por covardia; em parte porque eles não podem defender a verdade impopular em face da falsidade popular; em parte porque a opinião pública soberana e desdenhosa, como neste país e na França, subjuga e amedronta os católicos, que não ousam confessar seus princípios e, por fim, não ousam sustentá-los…

A Palavra de Deus nos diz que, no fim dos tempos, os poderes desse mundo vão se tornar tão irresistíveis e triunfarão de tal modo, que a Igreja de Deus afundará sob suas mãos – isto é, a Igreja de Deus não receberá mais a ajuda material dos imperadores, reis ou príncipes, legisladores, nações e povos, para fazer frente ao poder e a força de seus antagonistas. Ela será privada de proteção. Ela será enfraquecida, prostrada e pisoteada pelos poderes deste mundo. Isso não parece incrível? O que, pois, vemos neste tempo? Vede a Igreja Católica Romana pelo mundo. Quando foi que ela mais se assemelhou à sua Cabeça, na hora em que Ele teve suas mãos e pés amarrados pelos que o traíram? Vede a Igreja Católica, ainda independente, fiel à sua missão divina e, contudo, rejeitada pelas nações do mundo; o Santo Padre, o Vigário de Nosso Senhor Jesus Cristo, neste momento, sendo zombado, ignorado, traído, abandonado, roubado e há – até – aqueles que apoiariam o seu assassinato. Quando esteve a Igreja de Deus em pior condição, no débil entender humano, do que agora? Então, eu pergunto: de onde virá a libertação? Existe na terra algum poder que possa intervir? Existe algum rei, príncipe ou potentado que possa impor ou sua vontade ou sua espada para proteger a Igreja? Não há; e foi predito que deveria ser assim mesmo. Não é necessário esperar por esse libertador terreno, pois a vontade de Deus parece ser outra.

Porém, há um Poder que destruirá todos os antagonistas; há uma Pessoa que romperá e reduzirá a pó todos os adversários da Igreja, pois Ele derrotará seus inimigos “com o sopro de sua boca” e os destruirá “com o fulgor de sua vinda”. Parece como se o Filho de Deus estivesse zeloso de que ninguém, senão Ele mesmo, vingaria a Sua autoridade. Ele chamou a batalha para Si mesmo; investiu contra os que O rejeitaram e a profecia deixa claro que aquele que porá fim ao mal será Ele. Isso não será obra humana, mas obra do Filho de Deus, a fim de que todas as nações do mundo saibam que Ele – e somente Ele – é o Rei e entendam, de uma vez por todas, que Ele – e somente Ele- é Deus…

Os escritores eclesiásticos nos dizem que, nos últimos dias, a cidade de Roma provavelmente apostatará da Igreja e do Vigário de Cristo; e que Roma, novamente, será castigada por isso; e o jugo de Deus recairá sobre o lugar, onde Ele uma vez reinou sobre as nações do mundo… Roma deve apostatar da fé, expulsar o Vigário de Cristo e retornar ao seu antigo paganismo…

[Resumindo,] o Anticristo, e o movimento anticristão, tem essas notas: primeiro, o cisma da Igreja de Deus; em segundo lugar, a negação de sua voz divina e infalível; em terceiro lugar, a negação da Encarnação. Portanto, ele é o inimigo direto e mortal da Única Santa Igreja Católica e Romana – a unidade da qual todo cisma é feito; o único órgão da voz divina do Espírito de Deus; o templo e santuário da Encarnação e do sacrifício perpétuo…

[FIM DO EXCERTO]

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Não duvido que você concordará que a explicação de Cardeal Manning sobre as profecias da Sagrada Escritura, que foram cumpridas e estão se cumprindo, são inspiradas e fascinantes, especialmente porque nós podemos reconhecer nelas muito do que tem acontecido em tempos recentes e, na verdade, ainda estão acontecendo. O que testemunhamos mais e mais é a preparação para o advento do Anticristo.

Observe como a todo momento o Cardeal Manning fala do Papa como sendo o Vigário de Cristo e a Cabeça Visível da Igreja e como o direto antagonista do Anticristo – nunca Sua Eminência sequer toca na ideia absurda, defendida por muitos dos assim chamados “católicos tradicionalistas” de hoje, segundo a qual o Papa mesmo seria parte do problema, uma espécie de “sócio” do Anticristo, como Francisco realmente é. Vemos, então, mais uma vez que a popular, embora falha e herética posição da “Resistência”, a qual reconhece Francisco como verdadeiro Papa, mas lhe recusa submissão e rejeita seus ensinamentos e leis, é completamente estranha ao pensamento, doutrina e profecia católica. Além do mais, isso é mais uma evidência de que os “Papas” do Vaticano II são charlatões, não genuínos Vigários de Cristo, em vez disso, são instrumentos de Satanás usados para destronar o verdadeiro Vigário de Cristo e prevenir ou impedir o seu governo.

Quando o Cardeal Manning escreveu sua obra em 1861, o movimento de apostasia, de certa forma, ainda se encontrava nos seus primeiros estágios. Desde então, a Grande Apostasia não recebeu maior força propulsora que a Igreja Modernista do Concílio Vaticano II (1962-65). Nada espalhou o naturalismo, as principais heresias da doutrina maçônica, com mais velocidade ou eficácia que as demandas conciliares em prol da liberdade religiosa, as quais puseram fim às nações católicas (tais como Espanha e Colômbia) e de fato exigiram uma separação entre Igreja e Estado; como também a erradicação desta nas constituições dos países católicos, uma coisa que o Antipapa Paulo VI fez com muito prazer. Cristo Rei, o verdadeiro Rei dos indivíduos, sociedades e nações foi destronado pelo Vaticano II – um ato que prova que Paulo VI não foi Pedro, mas Judas, e que a igreja por ele dirigida não era a Igreja Católica de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas sim, por assim dizer, a Sinagoga de Anás e Caifás.

A perseguição da verdadeira Fé e da verdadeira Igreja pelos modernistas do Vaticano II tem sido extremamente bem-sucedida, como ela foi acelerada não somente pela malícia dos mentirosos, mas também por pessoas de muita boa vontade, inclusive aquelas que são vítimas da fraude. Como se disse acima, no entanto, citando Pe. Faber, isso somente torna maior o desastre e não altera a natureza ou diminui a gravidade desse problema.

Na sua introdução a O Papa e o Anticristo, que consiste numa carta dele ao Dr. John Henry Newman, Cardeal Manning diz: “Queira Deus guardar-nos de nos calarmos durante a perseguição de sua Igreja!”. Ai daqueles, entendam ou não, que reconhecem a Seita Novus Ordo como a Igreja Católica e consideram seus falsos clérigos como legítimas autoridades católicas e ai daqueles que, sabendo a verdade, se calam sobre ela durante esse tempo de perseguição à verdadeira Igreja! Que você, caro leitor, não seja um deles.

Gostaria de encerrar esse longo post com uma nota positiva.

O que nós temos lido, embora seja realmente terrível, deveria nos dar grande consolo e esperança e provocar o aumento de nossa Fé. As explicações de Cardeal Mannig sobre a Grande Apostasia, a perseguição, a Paixão e aparente “Morte” da Igreja – todas essas coisas estão de acordo com o que testemunhamos hoje. Isso significa que aquilo que aconteceu desde a morte do Papa Pio XII e que estamos padecendo agora não está em contradição com os Desígnios de Deus, da mesma forma que a Crucifixão de Nosso Senhor não frustrou sua missão. Muito pelo contrário: tudo isso faz parte de sua Divina Vontade e se constitui como um prelúdio necessário para o perfeito cumprimento de seus desígnios. O que sofremos agora nesse tempo de inaudita inquietação e confusão não é um sinal de que as promessas de Deus têm falhado, antes é a prova de que as promessas de Deus estão se cumprindo. As profecias estão se cumprindo nesse exato momento.

Então, guarde no seu coração: Todas as coisas estão, por assim dizer, ocorrendo conforme o planejado – mas esse plano é o Caminho da Cruz, assim como foi para Nosso Senhor literalmente, será para a sua Igreja misticamente. Não é bonito ver esse caminho repleto de grande dor e humilhação, contudo este é o caminho – o único caminho – que há de nos levar para a glória eterna.


Novus Ordo Watch. The Pope and the Antichrist: The Great Apostasy Foretold, 23 abr. 2015. Acesso em: 8 jun 2016.